quinta-feira, 6 de abril de 2017

Previdência

Caderno de Qualquer Coisa
por Dom Fernandes III

Recentemente debate acalorado com um contrarreformista da Previdência nos deixou entre a consternação e o riso: sob o argumento de que a proposta em curso que visa ajustar a previdência ao tamanho da solidariedade possível de modo a não afetar a liberdade e muito menos a igualdade, atalhou-nos o funcionário público estadual (que ganha mais de 40k por mês e manterá esses proventos para o resto da vida, haja vista ter sido excluído da proposta ora em voga) que o ajuste, de natureza neoliberal, atende ao interesse da elite pois tem o único escopo de enriquecer a elite e empobrecer os oprimidos.

Obviamente que o servidor em questão (que não é leitor deste hebdomadário, cujo trabalho aqui feito é imune a deficientes gramaticais e intelectuais) não se vê na elite e nem entre os oprimidos. Não se acha culpado por nenhuma desigualdade nacional, pois ao defender a união homoafetiva, acha que já cumpre o seu papel pela igualdade e que os demais desníveis são culpa do sistema capitalista, pois todos econômicos.

Reconhecendo que a "a conta não fecha" mas dando a ótima ideia de fechar a conta com aumento de impostos "que afete os mais ricos", o Robin Hood Tamoio fala sem dados nas mãos, mas com muita certeza na ponta da língua.

Bem, se a culpa então é do capitalismo e se há uma assunção geral de que a conta não fecha, dei um "fechado" nas premissas e sugeri: adotemos então o sistema de previdência da Coreia do Norte, de Cuba, da Venezuela ou da China* - copy and paste.

Estou esperando a resposta até agora...

* A China está em conflito interno para reformar a sua previdência desde o início desta década. Hoje um homem se aposenta aos 60, a mulher aos 55 e se for "operária", recebe um expurgo aos 50. O teto? Ah, sim - 2,070 yuans, algo em torno de US$280 ou, em reais, R$800,00. Menos do que 1 salário mínimo. Repito: teto - na média o povo leva bem menos por mês. Aos 50 a operária é "expurgada" e não aposentada. Por que? Simples - uma vez retirada do sistema, não pode voltar a trabalhar para complementar a renda. Tem que se virar com isso para o resto da vida. A Venezuela repete a fórmula 60 para homens e 55 para mulheres, mas paga um teto de aproximadamente US$200,00 (qual seja, R$600,00), só que a inflação escabrosa já fez com que esse valor de jubilación fosse troco de pinga no mês passado. Em Cuba se pratica 65 para homens e 60 para mulheres ou antes para ambos, mas desde que comprovados 30 anos consecutivos de contribuição - algo bem parecido com a brasileira, por conta de uma reforma feita em 2009 quando Castro ainda era o Imperador na Ilha, apesar das fraldas geriátricas. O teto? US$340, qual seja, nada mais do que mil reais. Mas esse é o topo do provento quando há pagamento de complementos ao longo de muitos anos. Na média a maioria leva US$260, qual seja, R$780,00 e ninguém consegue se aposentar antes dos 60. E a Coreia do Norte? Ah, a terra do rei gordinho feliz... bem, por lá impera o regime de trabalhos forçados para a maioria da população (palavra bonita que Trotsky e os comunistas bonzinhos deram para o que antes de 1888 era conhecido por escravidão - para quem duvida, recomendamos a leitura de Comunismo ou Terrorismo, de Trotsky). O Estado provê o cidadão com o básico para a sua sobrevivência, segundo o conceito de "básico" que for do entendimento exclusivo do gordinho feliz. O básico é mantido ao fim do "tempo de serviço", cujas regras para término do período de serviço ao estado não é clara, pois depende sempre do que o gordinho feliz achar que é o tempo de você ir pra casa e não servir mais ao estado em troca da ração mensal. Portanto, desde 1978 não há na Coreia do Norte qualquer contribuição e, por isso, não há sistema de previdência nem pensão. O Estado sustenta, mas as pessoas só param de trabalhar quando o Estado achar que o cara já deu o que tinha que dar (literalmente): varia de caso a caso, portanto. Essa ideia burguesa de previdência que hoje discutimos foi abolida em 1978 e desde então o país não tem qualquer sistema de previdência e cada cidadão vive na total e absoluta dependência do Estado (conceito de Estado lá é o que o gordinho feliz entender e normalmente ele entende que ele e "estado" são as mesmas coisas, desde que "estado" seja tão bonito quanto o penteado dele). Sabe de uma coisa, eu até que gostei desse tal sistema coreano. O que acham de adotarmos essa ideia abolicionista que só a inovadora Coreia do Norte pôs em prática? Topado ou vamos ter que voltar a discutir que a conta não está fechando por aqui? Porque na Coreia eles fecharam a conta assim: como dizem, na galega...