HISTÓRIA DO GRUPO BOLA PRETA E SEUS DIÁRIOS ASSOCIADOS
Andréios Geoffreys, por sua vez, nada temendo em termos de heresias, pois era mais cristão que qualquer outro fiel da Igreja de Pedro, alardeou a todos aquele produto maravilhoso, tentando vendê-lo com o famoso sobrepreço.
A
história do Grupo Bola Preta é antiga. Muito antiga.
Em 1499, numa tarde de
setembro naquela agradável primavera, passava pela capital Portuguesa um certo
mercador de origem judaica-sefaradí, vindo de Mainz. Seu nome era Adám Tov
Abellán Gesherin. Entusiasmado com a forte venda de Bíblias por toda Europa e
notando o poderio econômico de Portugal, que gozava dos anos de expansão
decorrentes da expulsão da gente turca, pensou ir até Lisboa vender seu
produto.
Lá chegando, deparou-se
com um centro em expansão. Uma cidade vibrante e alegre. E melhor de tudo:
rica. E melhor ainda: pia.
Esta oportunidade
trouxe-lhe grande negócio com o grego radicado em Portugal, Andréios Gennaios
Aoidos Geoffreys.
Após a venda, Adám Tov
Abellán Gesherin, que não sabia das regras de 1497, converteu-se tardiamente ao
Cristianismo e foi batizado para evitar a expulsão e o confisco de sua fortuna
haurida com aquele negócio sensacional.
Andréios Geoffreys, por sua vez, nada temendo em termos de heresias, pois era mais cristão que qualquer outro fiel da Igreja de Pedro, alardeou a todos aquele produto maravilhoso, tentando vendê-lo com o famoso sobrepreço.
Pois então, os doutores
da Igreja, que entendiam de Igreja até menos que ele, viram no seu intento duas
heresias: o sobrepreço e o que fazia a máquina em si.
A máquina era algo
simples: uma placa matriz onde se encaixavam letrinhas besuntadas de tinta
preta para carimbar mensagens em uma folha em branco. Os tipos podiam ser
rearranjados na matriz formando novas mensagens com carimbadas infinitas. Assim imaginava Andréios Geoffreys copiar mil
bíblias e vendê-las (com sobrepreço, obviamente) a mil fieis.
Andréios Geoffreys foi
pego.
Seu brinquedinho foi
confiscado e ele foi condenado à morte ascética. Podia viver, comer, andar, ver
e, pasmem, até fornicar, mas com uma condição: de que nunca mais sua voz fosse
ouvida. Andréios Geoffreys foi condenado a ficar mudo até o último dia de sua
vida. Isso equivalia, de forma indireta, tirar-lhe o direito ao último desejo.
Mas para garantir a plena eficácia dessa pena, os Doutores de Lisboa acharam
por bem calá-lo desde então, apenas para garantir.
Andréios Geoffreys
estava tão errado sobre o seu julgamento que a sentença de antanho salientava:
“Tal produto aſim tido como de uſo
beſtial e deſprovido de servienſia, poiſ naũm cabe a um fiel leyer o que diſe
Deuſ poren apoenaſ a um Douto da Igreja que se façaũm os tais ditoſ para que
ouçaũm os fieiſ, cousa que o reo por dito houve tentar seer um Douto da Igreja
sem comprovaçãm de previa ordenaçãm mas apoenaſ com lidos e ditos; item, pois
sobrepreço com mais-valia tentou aplicar nas vendas, aſim incorendo em oitra
heresia; item, por saber que acá ninguém leye seja por naũm saber seja por naũm
querer; item, ao fim, pois naũm se pode dar preço, valia ou contraprestaçãm a
palavra Sagrada de Deuſ - eis a peor das heresias”.
Adicionalmente, Andréios
Geoffreys foi expulso de todas e tantas ordens, clubes, sociedades (secretas ou
não), universidades, casas, coletividades, consórcios, círculos, rodas, times,
grupos e seminários, por ordem da Douta Justiça de Lisboa e da Coroa.
Essa expulsão foi
comprovada, devidamente, pelo envio em diligência da cada respectiva bola preta que documentava a indigitada
exclusão. O Ofício das Execuções Penais do Reino, ao receber exatas 13 bolas
pretas comprobatórias, arquivou o caso, fazendo a guarda dessa comprovação
junto da máquina abominável.
Junto das 13 bolas
pretas, tendo perdido a sua máquina maravilhosa para a Coroa de Portugal, que
entretida com os festejos de volta do Vasco às atrações da Capital e das
primeiras instâncias reais, Andréios Geoffrey viu-a no escanteio do Mosteiro
dos Jerônimos, junto das 13 bolas pretas, aguardando destinação. Por tempos, o
material probatório com suas ferramentas ficou escondido dentro de uma coluna
do Arco do Cego, para além e ao norte do Castelo de S. Jorge e antes de se
chegar na Charneca, longe do burburinho e dos bisbilhoteiros dos Jerónimos e
para lá dos Termos de Lisboa e pertinho dos Olivais.
Ciente do perigo de tal
artefato, Dom Manuel ordenou a Nicolau Coelho que embrulhasse o artefato e
carregasse na próxima expedição, a fim de lançar ao mar aquela perigosa ferramenta
escondida em uma das colunas do Arco, dando cabo às provas da existência desse
caso secretíssimo.
Ao sair em nova ventura
com o Cabral, Coelho seguiu as ordens do El-Rey. Pero Vaz, encantado com o
briquedinho, ensaiou usá-lo, mas advertido por Coelho de que o pequeno favor
não seria concedido se El-Rey recebesse seu recado impresso por aquela execrável
máquina, seguiu fazendo o que lhe imcumbia pela mais tradicional, pura e aceita
forma: aplicando a pena as fatos.
Coelho seguiu as ordens
e logo após cruzarem com exatidão o eixo maravilhoso do Tordesilhas, lançou ao
mar o envólucro aveludado para que Posseidon engolisse o perigo para todo e
sempre.
Mas Posseidon foi cruel
e esses infieis que machucaram aquele grego iriam ter seu Destino mudado.
Viu-se na tarefa de interromper qualquer feito heróico daqueles homens e lançou-lhes
tempestade. Mas o ódio moderado da Divindade de Todos os Mares não foi
suficente para virar as embarcações e nau-fragá-los. Apenas mudou-lhe a rota e
jogou-as para além dos contornos de ida para Calecute, rumo a Terra de Vera
Cruz.
Era pena bastante para
aqueles homens, que não se equiparando a Vasco, entrariam para a história por
tarefa menor, o do achamento de terra inóspita e de nenhuma utilidade.
Fato curioso aconteceu,
entretanto, com o maléfico artefato – a mesma tempestade que jogou as
embarcações para o frontal do Monte Pascoal, jogou o embrulho de veludo para o
sul, indo parar a máquina detestável nas imediações de Cananeia. Passeava pela
praia um tal Fernandes, português de origem e judeu sefaradí convertido
cristão, que foi parar naquelas bandas ninguém sabe como. Vivia bem, o tal
Fernandes e sendo bem letrado, com Mestrado e Doutorado e, na qualidade de judeu
convertido e degredado e Bola Preta Mor,
logo se afeiçoou ao mágico elemento.
Com a abundância de
folhas de palmeira e folhas de bananeira, passou a imprimir um Diário.
Contava notícias
daquelas Terras Novas, naquelas Terras Novas, para aquelas Terras Novas.
Fazia análises de
ciências, liturgias, política, jogos e muito mais. Iniciou naquela época, o tal
Fernandes, com o hábito de falar sobre as leis locais, mais precisamente as
leis de sua casa, no bem entender grego, de sua oikos. A nomos daquela oiokos sua deu origem a seção Oiokonomos, em que Fernandes relatava os
curiosos hábitos com gestão das comidas e das mais-valias geradas pelas comidas
que ele dava.
A esse Diário antiquíssimo Fernandes, o
perdido, homenageando as 13 peças cromadas que acompanharam a maquininha,
chamou suas folhas impressas de impressões de Diário da Bola Preta.
Sua atividade manteve-se
secreta até o seu passamento e seu ofício foi passando de geração para geração.
Durante a época dos
Pedros, várias pessoas passaram a se envolver com a elaboração do tradicional Diário da Bola Preta e resolveram fazer
o jornal secreto chamado Folha da
Madrugada. No calar dos grilos, o Diário
da Bola Preta cresceu e ganhou essa versão de leitura destinada aos olhos
que não dormiam.
A Folha da Madrugada, integrada ao Diário da Bola Preta, sobrevivendo até os dias atuais, gozou de
expansão com a abertura dos Portos, pouco antes dos Pedros tomarem pé (e mãos)
e recebeu contribuições internacionais escritas em várias línguas de vários
povos bolas-preta. Para melhor
circular essa ideias, os editores-chefes resolveram por bem segregar os
assuntos, dentro dos Diários Associados
(que já estavam associados bem antes de ser criada a associação), criando o
incrível e garboso Vera Cruz Times.
A atividade do Diário da Bola Preta, da Folha da Madrugada e do Vera Cruz Times passou por golpes e
revoluções e devido a sua atividade secreta (não clandestina!), permitiu que
sobrevivessem até os tempos atuais, sendo reconhecidamente o Diário
mais antigo do mundo!
Malfadadas atividades
obtusas nas redes sociais e na demoníaca internet, vêm fazendo vazar seu
conteúdo histórico bem como a sua atividade secreta (e não clandestina!) de
jornalismo puro, sério, profundo, ético e VERDADEIRO.
A essa atividade, que as
redes de todo mundo atentamente vem chamado de BlackBallLeaks, muita fonte de conteúdo seguro tem alimentado o
jornalismo online e offline.
Atualmente o divino e
letal artefato, junto das 13 pérolas negras, encontram-se depositados em cofre
secreto que guarda outras relíquias como a espada de Eneas, uma cópia das
chaves do arquivo secreto da Biblioteca do Vaticano, o lótus de Buda e a
palavra perdida de Marioh Ffiba (que foi impressa com a engenhoca de Gesherin
nos testes do quasæ inuentum). Tais relíquias
só são vistas pelos olhos puros de seu Editor Chefe e Diretor de Redação
investido.
Eis um pouco da história
desse magnânimo grupo de opiniões e notícias que vem mudando o mundo, desde os
tempos do Arco do Cego e da Cananeia.