Quando o governador da Bahia, Antonio de Sousa Meneses, o
Braço-de-Prata, deixou seu cargo sob vaias do então Gregório de Matos Guerra
pelos idos de 1684, substitui-lhe famoso compositor musical Thiago Rengaw, o
Boca de Prata. Um outro Gregório, poeta concorrente do Matos, chamado Gregório
Fernandes e meio aparentado de nosso Dom Thiago e de nosso Dom Fernandes II, seus
contemporâneos, escreveu poema laudatório na transição desse governo, em 1684,
saudando o novo governador-mor, que por um infortúnio não assumiu, mas recebeu
a honraria abaixo do outro Gregório, perdida desde então e guardada a sete
chaves no Arquivo Secreto do Bola Preta:
O GOVERNADOR BOCA DE PRATA, THIAGO RENGAW
Oh, não te espantes não, meu Dom Thiago,
Que se atreva a Bahia, em sua vozRecebendo-te seguido àquele algoz
Cuja estadia causou, sem embargo
A todos nós tão terrível estrago,
Cantar-te em honras e tão logo apósPresentear-lhe com a dourada noz,
Fruto de ajudas que a vassunce trago!
Sei que as ajudas lhe eram antes raras
Mas o bom grado dessa linda genteSorrir-lhe-á antes que assuma o lagar
Onde os frutos se espremem e as ignaras
Pessoas desse seu subconsciente
Jamais vos verão n’óleo lambusar!
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Entrevista concedida em 12 de julho de 1793 à jornalista Marat Gabrielle para o jornal correspondente La Boule Noire. A entrevista consta dos arquivos dos Diários Associados Bola Preta e nunca foi publicada, permanecendo na sala do Arquivo Secreto:
- Bonjour, Grand
Général…
- Roi. Non… Pas
de Roi… Empereur… Oui… Empereur. J’ai aimé « Empereur ».
- Ça-va...
Bonjour, Empereur. Nous sont ici pour prendre une interview et interroger le
Grand Géné…, humm, le Gran… hummm… L’Empereur Napoléon Bonaparte… Notre première
question c’est ça : qui est la culpabilité ?
- Je ne sais pas.
- Hummm. Je comprends. Qui est la charge de la preuve ?
- Je
ne sais pas.
- Qui
est le monde médiéval ?
- C’est aujourd'hui… C’est
correct ?
- Je ne sais pas. Je pense que dans la
Bastille…
- Ta, ta, ta…arrêtez-vous !
- Oui. Hummm. Bien… Est-ce que vous pouvez commenter quelque
chose sur les luttes démocratiques ?
- Non. Ma petite chérie, je dejá suis le tyran plus
dégoûtant du Monde, champion des coquins d’Europe… Qui merde je devoir savoir
sur les choses de démocratie ?
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Memorando Interno
De: Clóvis Hauser
Caderno de Legislação e Estagiário interno (com OAB!)
Para: Editor-Chefe e Diretor de Redação
Sobre: Lava Jato e Ditadura
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Prezado Senhor,
Pesquisamos, conforme nos pediu, os atos da Lava Jato para
compará-los aos atos processuais praticados na Ditadura.
Os processos da Ditatura são de difícil acesso (ainda). Sem prejuízo, compulsamos o Brasil: Nunca Mais bem como os andamentos processuais disponíveis no site do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (mais acessíveis que os registros da Ditadura).
Dizem que os problemas que tínhamos na Ditadura envolviam o uso da tortura (com alguns mortos) e uma certa “subversão do processo”. Neste último caso, houve mudança da competência para os Tribunais Militares e umas alterações nas leis processuais para que os processos pudessem se dar de forma sumária e sem a oitiva de testemunhas, nem mesmo a chance dos réus serem interrogados acompanhados de seus advogados.
Estava assistindo aos vídeos das audiências e não vi nem tortura, nem matarem ninguém e me pareceu que todos estavam sendo ouvidos na presença dos respectivos advogados, falando tranquilamente (alguns até dão risada nas audiências, algo que o Brasil: Nunca Mais não relata a existência durante a Ditadura – qual seja, da possibilidade de rir e se calar durante um interrogatório).
O juiz e os promotores estão usando o mesmo Código de Processo Penal e as leis que valem para todos.
Os réus também estão apresentando suas testemunhas, que estão sendo ouvidas, algo que na Ditadura, diz o Brasil: Nunca Mais, não existia e, entre nós, as testemunhas nem queriam ir lá se expor.
No mais, o processo está mais rápido que o habitual porque
acredito que os advogados de defesa sejam muito bons.
Não sei portanto de onde o senhor tirou essa analogia. Recomendo que o senhor volte com a pessoa que lhe passou essa informação de que os processos da Lava Jato são iguais ou piores que os da Ditadura e tente ver com ela o que ela eventualmente sabe sobre essas características processuais da época da Ditadura e nos conte quando e onde ela viu: tortura, homicídios, processos sumários e ad hoc ou testemunhas que tenham coisas importantes a dizer e que não são ouvidas.
Juridicamente, é tudo o que posso ajudar.
Att., CH
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O disse-que-disse do Chanceler
Folha da Madrugada
Caderno de Cultura
Londres, 25 de junho de 1890
Por Frederico Schmollmund Von Xaxim dos Anjos
(correspondente em Londres associado do Vera Cruz Times)
Caderno de Cultura
Londres, 25 de junho de 1890
Por Frederico Schmollmund Von Xaxim dos Anjos
(correspondente em Londres associado do Vera Cruz Times)
Por conta de
uma nova edição de seu livro na Inglaterra, uma revisão completa das numerosas
citações feitas tornou-se objeto de investigação. Referimo-nos a esse livro
novo que está causando tanto debate, do misterioso Carlos Marx, que morreu já
faz sete anos. Eleonora, a filha mais nova de Marx, tinha-se dado ao trabalho
de comparar todas as passagens introduzidas com os originais de modo que nas
citações de fontes inglesas (que são bem abundantes), não parecesse retradução
ou uma retroversão do alemão de volta para o inglês, mas sim uma citação no
próprio texto original inglês. Senti, pois, a obrigação de consultar este texto
na quarta edição. Encontrei diversas imprecisões: indicações de números de
páginas incorretos, em parte mal escritas ao serem copiadas dos cadernos, erros de impressão acumulados no decurso de três edições; aspas ou
reticências incorretamente colocadas, como é inevitável com citações em massa
extraídas de anotações feitas a mão em cadernos esparsos; aqui e ali uma palavra escolhida de
modo menos feliz para tradução e assim por diante. Há ainda passagens citadas dos velhos cadernos
de Paris de 1843-1845, época em que Marx não sabia inglês e lia os economistas
ingleses pelas traduções francesas; em que à dupla tradução correspondia
modificação de sentido, p. ex. em Steuart, Ure entre outros. Na nova versão, o texto inglês passou a ser
utilizado. E como estas, há outras inexatidões e descuidos. Se compararmos,
pois, a quarta edição com a precedente, convencer-nos-emos de que todo este
trabalhoso processo de retificação do livro nada alterou que valesse a pena
mencionar. Apenas uma única citação não pôde ser encontrada, a de Richard Jones. Marx possivelmente enganou-se no título do
livro. Todas as outras conservam o seu pleno poder de
demonstração ou se reforçam nesta edição.
Aqui porém
sou obrigado a voltar a uma velha história. É que conheço um caso em que a
justeza de uma citação de Marx foi posta em dúvida. Tem persistido para além da
morte de Marx e aqui não pretendo ir contra ele.
Foi assim: no
jornal Concórdia de Berlim, o órgão da liga alemã de fabricantes,
apareceu a 7 de Março de 1872 um artigo anônimo intitulado «Como Karl Marx cita». Aqui se
afirmava, com excessos de indignação moral e de expressões não
parlamentares, que estaria falsificada a citação do discurso de Gladstone sobre o orçamento, de 16 de Abril de 1863 (na Mensagem
Inaugural da Associação Internacional dos Trabalhadores de 1864
e retomada no volume I do Capital). Eis a frase: «Este embriagador aumento de riqueza e poder... está
inteiramente limitado às classes dominantes» não apareceria palavra no relato
estenográfico (quase oficial) do Hansard. «Esta frase não se encontra
porém em parte alguma no discurso de Gladstone. É precisamente o contrário que nele é dito.» Concluiu:
«Formal e materialmente, Marx inventou
mentirosamente esta frase!».
Marx, a quem
este número do Concórdia foi enviado em Maio seguinte, respondeu ao
anônimo no Volksstaat de 1 de
Junho, um outro jornal. Visto que ele já não se recordava em que notícia e em qual
jornal tinha encontrado a citação, limitou-se primeiro a indicar uma outra citação
que diz o mesmo em dois escritos ingleses e depois citou a notícia do Times
segundo a qual Gladstone teria dito:
«That is
the state of the case as regards the wealth of this country. I must say for
one, I should look almost with
apprehension and with pain upon this intoxicating augmentation of wealth and
power, if it were my belief that it
was confined to classes who are in easy circumstances. This takes no
cognizance at all of the condition of the labouring population. The
augmentation I have described and which is founded, I think, upon accurate
returns, is an augmentation entirely confined to classes possessed
of property.»
Portanto Gladstone diz aqui que lamentava que assim fosse, mas que
assim era: este embriagador aumento de riqueza e poder estaria inteiramente
limitado às classes dominantes. E no que respeita ao Hansard, assim
continua Marx: «Na sua edição, aqui posteriormente remendada, o senhor Gladstone foi suficientemente esperto para fazer desaparecer a
passagem sem dúvida comprometedora na boca de um chanceler inglês do tesouro.
Isto é aliás tradicional uso parlamentar inglês e de modo algum uma invenção do
Laskerzinho contra Bebel.»
O anônimo
fica cada vez mais irritado. Na sua resposta — Concórdia, 4 de Julho
—, pondo de lado as fontes de segunda mão, dá a entender vergonhosamente que
seria «costume» citar discursos parlamentares segundo o relato estenográfico;
mas o relato do Times (onde se encontra a frase «mentirosamente
interpolada») e o do Hansard (onde esta falta) também «materialmente
concordam por inteiro», e o relato do Times continha igualmente «o
contrário daquela famigerada passagem da Mensagem
Inaugural» onde o homem cuidadosamente silencia que aquele
relato, a par deste pretenso «contrário», contém de modo expresso,
precisamente, «aquela famigerada passagem»! Apesar de tudo isso, o anônimo
sente que está encurralado e que só um novo subterfúgio o pode salvar. Enquanto
vai guarnecendo o seu artigo, que acusa Marx de «descarada mendacidade»,
como acabou de ser demonstrado e com insultos edificantes, tais como: «mala fides»,
«desonestidade», «dado mentiroso», «aquela citação mentirosa», «descarada
mendacidade», «uma citação que foi plenamente falsificada», «esta
falsificação», «simplesmente infame», etc. — acha necessário transportar a
questão em debate para um outro terreno e aí promete «num segundo artigo
discutir que significado nós» (o não «mentiroso» anônimo) «atribuímos ao
conteúdo das palavras de Gladstone». Como se esta sua opinião que não faz lei tivesse o
mínimo a ver com o assunto! Este segundo artigo vem no Concórdia de 11
de Julho.
Marx voltou
a responder no Volksstaat de 7 de
Agosto, trazendo a lume também as notícias da referida passagem do Morning
Star e do Morning Advertiser de 17 de Abril de 1863. Segundo
ambas, Gladstone afirma que encararia com preocupação este embriagador
aumento de riqueza e poder se ele o julgasse limitado às classes realmente
abastadas (classes in easy circumstances). Mas este aumento estava
limitado a classes de posses (entirely confined to
classes possessed of property). Portanto, também estas notícias dão
literalmente a frase pretensamente «mentirosamente interpolada». Para além
disso, ele constatou mais uma vez, por comparação dos textos do Times e
do Hansard, que a frase que apareceu na manhã seguinte em três
notícias de jornal, independentes umas das outras, mas dizendo o mesmo, como
tendo sito realmente dita, faltava naquela referência do Hansard revista
por um «costume» conhecido, e que Gladstone, para usar as palavras de Marx, a «tinha
posteriormente escamoteado». Por fim, Marx abandona o debate e declara que não
tinha tempo para mais conversa com o anônimo. Este parece também ter ficado
farto, pelo menos Marx não recebeu mais nenhum número do Concórdia.
Com isso, a
coisa parecia morta e enterrada. Sem dúvida que nos chegaram desde então uma ou
duas vezes, de pessoas que estavam em contato com a Universidade de Cambridge,
rumores misteriosos sobre um inaudito crime literário que Marx teria cometido
no Capital; mas, apesar de todas as investigações, não se veio a saber
absolutamente nada de mais determinado. Então, a 29 de Novembro de 1883, oito
meses depois da morte de Marx, apareceu no Times uma carta, datada do
Trinity College, Cambridge, e assinada por Sedley Taylor em que, a despropósito, este homenzinho, que
opera em cooperativismo do mais domesticado, nos presta finalmente
esclarecimento não apenas acerca dos boatos de Cambridge mas também do anônimo
do Concórdia.
«O que
parece extremamente singular», diz o delator premiado de Trinity College, «é que
estava reservado ao Professor Brentano (então da Universidade de Breslau, agora da de
Estrasburgo) expor... a má fé que havia manifestamente ditado a citação feita
do discurso do Sr. Gladstone na Mensagem»
(Inaugural). «Herr Karl Marx que... tentou defender a citação
teve a ousadia — nas convulsões mortais (deadly shifts) a que a
magistral condução do ataque por Brentano rapidamente o reduziu — de afirmar que o Sr. Gladstone tinha "manipulado" o relato do seu
discurso em The Times de 17 de Abril de 1863, antes de aparecer no Hansard,
de modo a "obliterar" uma passagem que "era certamente
comprometedora" para um Chanceler Inglês do Tesouro. Mostrando Brentano, através de uma pormenorizada comparação de textos,
que os relatos de The Times e do Hansard concordavam em
excluir expressamente o sentido que uma citação habilidosamente isolada tinha
posto nas palavras do Sr. Gladstone, Marx retirou-se de ulterior controvérsia com a
desculpa de "falta de tempo".»
Era esse,
pois, o cerne da questão! E era deste modo tão glorioso que se
refletia na fantasia cooperativo-produtiva de Cambridge a campanha anônima do
senhor Brentano no Concórdia. Aí estava ele, e assim
manejava a espada, em «magistral condução do ataque», este São
Jorge da Liga Alemã dos Fabricantes, enquanto o dragao infernal Marx agonizava
a seus pés «rapidamente em convulsões mortais»!
Aliás, toda
esta descrição arióstica de combate serve apenas para encobrir os subterfúgios
do nosso São Jorge. Aqui já não se fala de «interpolar mentirosamente», de
«falsificação», mas de «citação habilidosamente isolada» (craftily isolated
quotation). Toda a questão tinha sido deslocada e o São Jorge e o seu
escudeiro de Cambridge sabiam muito bem porquê.
Uma vez que
o Times rejeitou a divulgação, Eleonora Marx respondeu, no mensário To-day, Fevereiro
de 1884, reconduzindo o debate ao ponto exclusivo de que se tinha tratado: será
que Marx «interpolou mentirosamente» ou não aquela frase? A isso retorquiu o
senhor Sedley Taylor:
«A questão
de se uma frase particular havia ou não ocorrido no discurso do Sr. Gladstone» era na sua opinião «de importância muito
secundária» na controvérsia entre Marx e Brentano «comparada com a questão de se a citação em causa ter sido
feita com a intenção de exprimir ou de perverter o sentido do Sr. Gladstone.»
E então
admite que o relato do Times contem de fato «uma contradição verbal»;
mas, o restante contexto, corretamente explicado, no sentido
liberal-gladstoniano, indica o que o senhor Gladstone tinha querido dizer (To-day, Março
de 1884). O mais cómico nisto é que o nosso homenzinho de Cambridge insiste em
citar o discurso não segundo o Hansard, como de acordo com o
anônimo Brentano é «costume», mas segundo o relato do Times, pelo
mesmo Brentano designado como «necessariamente remendado».
Naturalmente a frase fatal falta de fato no Hansard.
Eleonora Marx não teve dificuldade em reduzir a pó esta
argumentação no mesmo número de To-day. Ou o senhor Taylor tinha lido
a controvérsia de 1872 — e então tinha agora «mentido», não apenas
«interpolando» mas também «suprimindo», ou não a tinha lido. Estava então
obrigado a ficar calado. Em qualquer dos casos, era certo que ele não ousava
manter de pé por um só instante a acusação do seu amigo Brentano de que Marx tinha «interpolado mentirosamente». Pelo
contrário, Marx agora teria não interpolado mentirosamente, mas sim ocultado
uma frase importante. Mas esta mesma frase é citada na p. 5 da Mensagem
Inaugural poucas linhas antes da pretensamente «interpolada
mentirosamente». E no que respeita à «contradição» no discurso de Gladstone, não é exactamente Marx que no Capital, p.
618 (3.ª ed., p. 672), nota 105, fala das «constantes e gritantes contradições
nos discursos de Gladstone sobre o orçamento de 1863 e 1864»? Só que ele não
ousa, à la Sedley Taylor, resolvê-las em complacência liberal. E o resumo
final da resposta de Eleonora diz assim: «Marx não suprimiu nada que valesse a pena
citar, nem acrescentou alguma coisa "mentirosamente". Mas restaurou,
salvou do esquecimento, uma frase particular de um dos discursos do Sr. Gladstone, uma frase que tinha sido indubitavelmente
pronunciada, mas que, de um modo ou de outro, tinha arranjado maneira de sair
do Hansard.»
Com isto,
também o senhor Sedley Taylor ficou farto, e o resultado de toda esta trama de
professores urdida ao longo de duas décadas e em dois grandes países foi que
não mais se ousou atingir a probidade literária de Marx enquanto que, desde
então, o senhor Sedley Taylor porá tão pouca confiança nos boletins literários
de combate do senhor Brentano como o senhor Brentano na infalibilidade papal do Hansard.
Nota do Editor:
Fred, por favor, trabalhe melhor sua pesquisa.Desse jeito não publicaremos.
Comece perguntando ao Ministro Gladstone se ele disse ou não isso. É o
mínimo, já que ele ainda está vivo e lúcido.Publique sua declaração e dê
credibilidade ao que ele declarar.Fale com a assessoria de imprensa dele se
necessário.
Note que a frase dele que você afirma ter saído no Times, é clara ao dizer
“if it were my belief...”, qual seja, “caso essa fosse a minha crença”. O tempo
verbal empregado pelo Ministro, ainda que você chegue à conclusão de que a
frase foi inventada nesse sentido, não dá margens à interpretação e
elegantemente coloca a questão em aspecto negativo sem usar uma palavra
negativa, mas um tempo verbal subjuntivo. Isso é elegante e difícil de
entender, sobretudo quando não se domina o inglês completamente, como você pode
constatar na sua pesquisa (espero que o “de cujos” tenha aprendido inglês a
tempo, mas tudo leva a crer nesse embate que ele se foi desta para melhor sem
ter devidamente “afiado” o inglês para entrar em dabates acadêmicos com o pessoal
de Cambridge sobre citações de discursos parlamentares onde o uso do idioma é
sofisticado).
Essa investigação poderá bastar, dependendo da resposta do Ministro.
Considerando que o Carlos morreu e a filha dificilmente mudará de versão, não
perca seu tempo com ela e aproveite para ver no Hansard, com o editor-chefe de
lá, se há algo a acrescentar na sua pesquisa em relação à acusação que a filha
do Carlos faz. Pode falar em meu nome no Hansard.
Já que você é visitante em Londres, preciso te lembrar que o Hansard é o
“Diário Oficial” do Parlamento em Londres e o Times é jornal privado.
Desqualificar o Hansard não é de boa técnica. Por favor, corrija isso em seu
texto (não o chame de “quase-oficial” – isso pega mal), acrescente a versão do
Hansard sobre essa história, pois creio que com boa investigação, temos em mãos
um grande “furo” que pode mudar o curso da história. Boa sorte em seu trabalho
e volte a mim com isso rápido. Fico no aguardo da conclusão do seu trabalho.
Dom Luis, 25/6/1890.