por Dom Fernandes III
A votação do BBB17 colheu a opinião de 130 milhões de pessoas.
Atualmente temos 144 milhões de eleitores inscritos no TSE.
Nas últimas eleições tivemos 19,4% de abstenção: compareceram às urnas, portanto, algo em torno de 115 milhões de eleitores.
Em 1994 o percentual de ausentes foi 29,3% do total do eleitorado, mas em termos numéricos absolutos, a quantidade de ausentes se mantém a mesma: algo em torno de 20 milhões de ausentes.
Isso é resultado direto da ampliação da base eleitoral absoluta: se o número de ausentes se mantém, o aumento da base reduz o percentil de ausentes em face da base que aumenta.
O BBB1 foi ao ar no ano de 2002 e a organizadora não revela o total de votos obtidos nas primeiras edições do programa, mas depois de pesquisa árdua os números das primeiras edições giravam em torno de 26 a 30 milhões de eleitores.
O recorde de participação foi em 2010, quando 154 milhões de votantes participaram do programa final.
No TSE o número de eleitores vem crescendo devido à barreira legal para obtenção do título de eleitor, que só garante o voto a partir dos 16 anos.
No BBB não há esse controle e dai venha talvez uma enorme disparidade de dados. As formas de votação também podem distorcer o âmbito dessa participação, pois um mesmo eleitor pode votar por vários aparelhos diferentes.
Enfim - o que aqui quer se demonstrar, desbastadas essas questões distorsivas por parte do eleitorado BBB é que a vontade de votar, quando o tema é de algum interesse do eleitor, chega a números que podem superar os do TSE.
O que leva um eleitor a manifestar publicamente a sua escolha é mais o interesse e menos a obrigação, que, de fato, no Brasil não há, conforme já tratamos aqui.
O chorume sentido a partir de Brasília, mais especificamente no Congresso Nacional, esses números espantosos de votação comparados, a possibilidade que Android e iOS oferecem para pagar contas, pedir comida e votar, bem como Platão e Aristóteles, tudo isso, tem algo em comum.
Comecemos pela conclusão: Platão e Aristóteles, de jeitos diferentes, garantiram que o melhor jeito de governar o mundo seria por meio de um sistema que eles chamaram de democracia. O ideal seria reunir todo mundo em ágora, mas como isso sempre foi fisicamente impossível, lançou-se mão do mecanismo jurídico da representação. Uma pessoa encarregada de colher proxy de inúmeros cidadãos votaria por elas e no interesse delas. Bela solução, mas só que isso virou o tormento do mundo e o exato oposto do que idealizaram esses homens como conceito de democracia.
Isso não só no Brasil vem ocorrendo. Quem acompanha política dos EUA e sabe o que significa gerrymandering sabe exatamente do que estamos falando: eleitos passaram a escolher seus eleitores e não o contrário.
Não há país do mundo em que a classe de representantes seja comum, embora a Inglaterra, uma das mães do sistema, chama a sua de Casa dos Comuns.
Japão, Rússia, Brasil, Líbano, Turquia, Alemanha, França, Espanha, Venezuela, Coreia do Norte, Cuba - vá onde quiser e achará um legislativo. E nesse mesmo legislativo você achará uma casta nada comum.
Não precisamos dessa gente.
Não precisamos da estrutura que essa gente tomou de assalto.
Não precisamos do alto custo que esse obtuso sistema de representação nos impõe.
Pagamos caríssimo para se ferrar.
Precisamos de um bom celular, com um bom app, conectado a uma internet rápida.
Precisamos transformar todas as agências da Caixa Econômica Federal em postos do TSE, para aqueles que não tenham celular, app ou habilidade em lidar com esses mecanismos possam fazer suas escolhas no modo old school.
E a CEF? Privatizem todas as suas atividades e o que não der, transfira-se para o BB (ou vice-versa, tanto faz - pra que BB e CEF se podemos ter um e já está de bom tamanho?).
Enfim, voltando ao que Platão e Aristóteles, depois Hobbes, depois Rousseau, depois Tocqueville, depois Montesquieu, depois Jefferson, depois la madre que los parió tenham vindo a chamar de democracia direta: se outrora era impossível reunir o povo em ágora para que manifestassem diretamente as suas opções a respeito de um imbecil que fica ou sai da casa BBB, as opções a respeito da reforma previdenciária ou da reforma do Código de Processo Penal e tudo mais que esses "representantes" fazem em nosso nome e em benefício próprio, hoje já não podemos dizer o mesmo.
Muitos dirão que o povo não tem preparo para falar de temas como a reforma da previdência, mas, convenhamos - Tiririca, Romário e Fufuca não são lá exemplos de substituto ao voto de outros Tiriricas, Romários e Fufucas que não têm mandato e estão do lado de cá da urna eletrônica.
O legislativo é caro, inútil e um dos maiores entraves para a democracia direta em qualquer país do mundo.
A tecnologia já dá meios para que a democracia direta (e verdadeira) possa ocorrer.
O Estado precisa ser urgentemente reformado e o Legislativo precisa ser extinto.
Esse modo de governo com 3 poderes deu certo até pouco tempo. Hoje não funciona mais e precisamos eliminar os intermediários com urgência.
Os EUA também estão de "saco cheio" do Senado e da HR. Dariam glória aos céus de se livrar dessa porcaria para que possam exercer e votar diretamente o que precisam para as suas respectivas vidas, respeitada a regra da maioria.
Um Estado moderno começa pelo princípio de empoderamento absoluto de seus cidadãos e por isso, parte do reconhecimento de que o Legislativo já deu sua contribuição para o história.
Hora de enterrar esse morto-vivo.
Na saga de eliminação de intermediários, vamos dar nossa parcela de contribuição, no próximo editorial, falando sobre a segunda etapa desse projeto de empoderamento: a eliminação do federalismo com a consequente extinção dos estados, departamentos, distritos e outras figuras abjetas de distanciamento do eleitor em relação aos fatos políticos.
Estados (incluidos seus consectários e símiles legais, como os departamentos, regiões, cantões, distritos e etc) são estruturas que apenas favorecem políticos e se prestam para rodar uma máquina que os eterniza no poder, de maneira eternamente hereditária (eis porque os políticos de hoje são filhos dos políticos de ontem).
Rodando uma espécie de 2a divisão das políticas nacionais, os filhos são treinados nos estados para, na 1a divisão federal, jogarem o jogo pra valer. Nos Estados jogam para aprender, pois os efeitos das políticas e dos erros cometidos no nível regional sempre podem ser corrigidos e remediados pela União interventora. Política estadual é um treino que só favorece a quem joga, jamais favorece a sua torcida, que sempre dependerá do jogo jogado no nível nacional.
Fim dos partidos e das candidaturas monopolizadas por essas figuras monstruosas e criminosas, fim dos monopólios de representação civil (a começar pelos sindicatos), fim dos mandatos concursados vitalícios, fim das cortes superiores, eleição direta para todos os cargos do executivo e para as cortes de apelação - enfim, temos muito a falar nos próximos editoriais.
Até lá.