sexta-feira, 28 de abril de 2017

Guache gauche

Caderno de Assuntos Menores
por Eugênio Villas

A Folha de Embrulhar Lixo continua com a sua campanha antiDoria em uma programação de perseguição que já passou do ridículo.

Ao invés de se preocupar com o perigoso culto a personalidade que o prefeito vai construindo em torno de si, agora se deu ao trabalho de reclamar que ele cortou o guache e a cartolina das escolas públicas.

Tem razão o Chefe dos Aprendizes: primeiro aprendam a escrever direito e fazer contas de somar, subtrair, dividir e multiplicar.

Depois vemos, se sobrar tempo, se a meninada ainda poderá fazer alguma arte com tinta de dedo.

No mais, ele está certo nesse ponto: porque não vão trabalhar?

E.T. - enquanto os grevistas tentaram impedir a chegada dele ao gabinete fazendo barricada as 6,30hs da manhã, o astuto prefeito já incrementava o seu culto a personalidade, as 6hs da manhã de seu gabinete, com tuitadas-alfinete do tipo: enquanto vocês dormem, eu trabalho. Como diria o Senhor Madruga, "toma!".

Sobre Sapatos e Sítios

Caderno de Injustiça
por Clóvis Hauser (estagiário com OAB!!!)

Um réu por corrupção e lavagem de dinheiro deu antes de ontem bela entrevista para canal de televisão que se notabilizou nos idos dos 80 por atingir grande audiência as custas do Bozo, palhaço viciado em cocaína e avesso a banhos ("Chuveiro, chuveiro, não faça assim comigo...").

A entrevista foi conduzida por guri amigo e militante.

Lá pelas tantas, a qualquer pergunta anódina veio a seguinte resposta:

Você já foi à loja com sua mulher comprar sapatos? Você viu que às vezes ela pede para o cara da loja descer 40 caixas, ela bota os 40 no pé, depois ela fala que não quer nenhum, levanta e vai embora? (…) Ora, se ela não comprou, o sapato não é dela. É o caso do apartamento, é o caso da chácara. Se eu não comprei, não é meu, se eu não paguei, não é meu, se não tem registro, não é meu, se não tem documento, não é meu, se não tem um cheque, não é meu...

Pois é, réu. Entendeu o problema agora? Esse é o problema: o problema é que você não pagou de fato, não registrou de fato, não tem documento de fato, não tem nem um chequezinho de fato, mas vive por lá... Até pediu esfiha de muçarela para entregar lá... a ex-nora falava com o laranja ao telefone, que a ela revelou coisas de anos na geladeira... esse é exatamente o problema.

Não quero apimentar, mas convenhamos, o réu chegou a olhar outros 39 sítios antes? ou no mesmo exemplo o réu quer que acreditemos que essa mesma mulher dos 40 sapatos olha só um par e vai embora sem olhar outros 39?

Ainda que ela olhe só um par: se ela sai da loja com ele nos pés e "não compra, não paga, não registra, não faz documento nem nota fiscal, não deixa nem um chequezinho no caixa", como fica a situação?

Olhar só um par e usá-lo é exatamente o problema quando você "não compra", "não paga" (porque outro pagou), "não registra" (porque outro emprestou o nome para fazer essa burocracia), "não faz documento" (já que tudo sai em nome de outro), enfim, "não tem nem cheque" (seu, porque dos teus amigos empreiteiros tem de monte).

O que o réu acha que vai lhe acontecer quando ficar cara a cara com o Senhor Destino? O réu acha que as perguntas vão ficar nessa lengalenga de sapatos da ex-mulher do Cabral ou a coisa vai ficar exatamente no ponto que o réu chamou atenção (compra, pagamento, registro, documento, cheques)?

Há ainda quem o considere inteligente, esperto. Não é o caso deste estagiário.


Ergofobia

Caderno de Cultura
por Doutor Pangloss

Inteligentemente um certo jornal de embrulhar peixes fez um editorial dias atrás cunhando uma expressão que muito nos agradou, para falar das greves (e que o nosso super editor já usou hoje).

Ergo, do grego, que significa esforço, ou como diria Hesíodo, meramente trabalho e fobia, do mesmo grego phobos que significa medo ou temor, mas também significa assustar, espantar, aterrar, horrorizar. Alguns até dizem que phobos é sinônimo de fantasma. Ah, então gostei: ergofobia é aquele fantasma do trabalho que assusta a muitos - menos aos dedicados jornalistas deste hebdo, que insistem em trabalhar neste Dia Nacional da Ergofobia.

Ergofobia é então esse horror ao trabalho que estimula a escroto-cocção.

Na base desse horror está o sacrossanto direito constitucional da preguiça.

E em honra a esse sacrossanto direito eu interrompo este texto.

Greve

por Dom Fernandes III

Na frente do Hotel-de-Ville, em Paris, há uma praça de mesmo nome. Tempos atrás se chamava Place de Grève (acento agudo em francês pronuncia-se igual ao "é" em português, lembra a francófona Dilma).

Gravier, material que dá origem ao arrabalde na beira do Sena que toma por grève o empréstimo do termo central que designa o lugar (essa figura de linguagem chama-se metonímia, segundo expertos e inteligentes), significa meramente cascalho.

Lá atrás no tempo, dizia-se que na frente do tal palácio havia uma prainha cheia de cascalho e daí o nome que foi dado ao espaço; algo, em português, parecido com Pracinha do Cascalho ou Largo Cascalhal.

Como gostam de fazer naquelas bandas, apagaram o nome original para arrastar o passado que incomodava junto com a semântica antiga e, com nome novo, o lugar se renovou - hoje chama-se Esplanada da Liberdade.

De fato, não há povo mais hipócrita com a sua história que a França. Não que eu não goste da França - pelo contrário. Mas convencer-se que uma história politicamente incorreta da França daria uma enciclopédia de 80 volumes é meramente constatar que o discurso histórico por lá é construído de acordo com as conveniências do que hoje andam chamando por ai de pós-verdade.

A história francesa é a avó de criação da pós-verdade.

Dito isso, voltemos à etimologia: lá se encontravam os desempregados e descamisados, que na história oficial é dito que lá se reuniam em frente ao poderoso palácio governamental para protestar, mas que na história real politicamente incorreta há uns escritos dizendo que iam lá meramente para praticar a famosa arte da escroto-cocção (o populacho chama isso de "coçar o saco").

Pois bem. Ingleses inventaram o strike, ato que os blue collars praticavam quando estavam de saco cheio: deitavam a porrada em tudo que estava pela frente, nem tento com o fim de subverter a ordem econômica; faziam isso porque estavam humanamente com a paciência no limite. Quem usava as strikes para subverter a ordem econômica eram os economistas observadores, que não trabalhavam nem produziam; ficavam só olhando, analisando e dando opinião.

Sempre houve alguma diferença entre a escroto-cocção dos franceses na praça do cascalho e o hooliganismo britânico nas fábricas.

Eis que o Brasil inventa algo sensacional: funde as duas coisas e mantendo o cerne ergofóbico da greve, vez ou outra lhe insere um tempero hooliganista para dar ares de protesto.

Fato é que, além desse tempero semântico o Brasil ainda caiu na esparrela de transformar essa prática em direito. Pior: botou esse direito na constituição: "é assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender". Não vamos entrar (ainda) no mérito de quem são esses trabalhadores para tentar imaginar quem pode na verdade decidir sobre a oportunidade de exercer essa prática - vamos partir do pressuposto que quem para é trabalhador (e não necessariamente quem faz o strike, coisas diferentes na prática = parar não é sair por ai praticando hooliganismo ou vice-versa).

Se o hooligan é trabalhador e parou (deixou de trabalhar) pra cair na porrada, é algo a ser investigado pelas mais profundas tecnologias, mas vamos, em novo esforço de conveniência, assumir que são a mesma pessoa.

Ai temos então na constituição um direito potestativo, daqueles em que quem exerce não precisa dar satisfação a ninguém podendo exercê-lo erga omnes, contra todos e contra qualquer um (não apenas contra o patrão), pois o ato de parar pode se ligar ao ato de agredir. Ao "trabalhador" cabe decidir se e quando fazê-lo, como e porque; qual seja, ele para e dá a entender que parou pelo argumento que quiser. Não há diálogo. Decide e danem-se os demais.

Isso está escrito na Constituição; com todas as letras. Leiam com o mais restritivo dos olhares: não tem como não enxergar que a tal "carta cidadã" dá ao "trabalhador" um direito em que ele decide o conteúdo, data, hora, modo, razão, extensão e tudo o mais que lhe for conveniente construir no day after em que, para não nos distanciarmos de um vocabulário usado recentemente, faz o Diabo.

A questão é que quando o strike ou o lockout inglês viraram hábito de insatisfeitos e a escroto-cocção francesa em Grève já era uma prática usual, os tempos eram outros. Não havia ainda a transferência para a China do parque industrial do mundo. Cada canto tinha lá o seu espaço industrial. Hoje há apenas resíduos de tudo o que já foi transferido para a China. Nos EUA e na Europa ficaram os serviços, na América Latina o celeiro, no Oriente Médio o combustível e na África a miséria.

Greve na Europa ou na América Latina é como tocar valsa em rave. Não faz o menor sentido, seja econômico, seja industrial, seja jurídico, seja político. É puro ato de mimimi de quem não aceita conversar. Faz-se por estratégia covarde e normalmente atinge quem não concorda e quer trabalhar. Por que a parcela de descontentes não protesta no domingo? Por pura ergofobia e, bottom line, porque de domingo o hooliganismo que se faz durante a semana pode sair pela culatra.

O uso que se faz do absolutismo do art. 9⁰ da CF/88 em plena Era da Informação e dos Serviços tem o intuito claro e determinado de subverter a regra da democracia e tentar ganhar na marra o que o argumento não faz vencer. O art. 9⁰ é claramente um safe harbor de truculência para quem não precisa ter razão. E o próprio artigo constitucional dá nome, cpf e endereço a esse sujeito que não precisa ter razão para poder chutar o baldo quando, como e pelo tempo que quiser (já que o próprio sindicalismo que se quer mudar se arrosta uma representação para apenas e tão somente usar esse artigo em favor do representante, sem nem perguntar ao representado se isso faz sentido).

Preciso continuar ou será que ficou claro que o art. 9⁰, um dos únicos com respaldo constitucional no mundo, precisa sumir o quanto antes de um rol de direitos que se quer se equiparar a outras práticas como viver, ter liberdade, pensar, ser igual perante a lei?

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Lei de Abuso da Inteligência

por Dom Fernandes III

A lógica de um energúmeno é como o Tratado de Tordesilhas: teoricamente tem um limite (católico, por sinal), mas na prática as suas fronteiras são do Peru.

No caso, o energúmeno da vez é o Senador Requião, que inventou essa pérola chamada Lei do Abuso de Autoridade. Na realidade a obra é de Renan Calheiros - Requião só se prestou ao serviço equivalente ao seu vocabulário: dar vazão a uma ideia de merda.

A ideia é tão estúpida que para passar o projeto de lei na CCJ do Senado há pouco, o texto teve que ser retalhado.

Não li e não vou ler o que farão daqui pra frente. A primeira leitura bastou. A grande questão (e neste ponto os juízes e promotores podem dormir sossegados) não está naquilo que é, foi, deixa de ser ou passar a ser abuso de autoridade: a questão está no julgador do julgador.

Hoje já há um órgãozinho de lógica de energúmeno chamado Conselho Nacional de Justiça, o CNJ, que se presta a um controle externo da Magistratura. E dai? E dai que temos 15 vagas de livre nomeação do Presidente da República preencher com amigos dos amigos e... vida que segue, na Justiça, no CNJ e onde mais quer que seja. Mais uma gastação anódina de dinheiro do orçamento por algo que não entrega nada de útil à sociedade.

Agora, como resposta às 10 Medidas, veio essa lei do abuso de autoridade. Pouco importa o que vai lá ser definido por abuso, o que importa é que os abusadores serão julgados pelos seus pares e essa lei nunca vai dar em nada.

Lula será preso, com ou sem lei de abuso; e o juiz que prendê-lo não será preso nem perderá o cargo nem ficará careca nem perderá um segundo de sono. Por quê? Simplesmente porque o tribunal que o julgará em virtude de reclamação baseada nessa lei irá peremptoriamente ignorar a lei, seja lá o que estiver escrito nela.

Isso é óbvio.

Fazer o que? Transferir o julgamento de juízes e promotores para o Senado? Tornar Senadores os juízes dos juízes?

Essa lei é uma perda de tempo com enorme desperdício de dinheiro público.

Melhor seria que discutissem uma lei do abuso da inteligência alheia e, neste caso, a dupla Renan-Requião sairia por ela duplamente algemada: sem abuso de autoridade e sem ferir o art. 15 do projeto de lei que, passe ou não, abusa não só da inteligência de todos nós, mas sobretudo do orçamento que sangra diante de tanta exasperação da lógica dos energúmenos.

domingo, 23 de abril de 2017

Democracia Direta: caminho

Caderno de Política
por Cícero Esdras Neemias

Safatle, declarado por este respeitável hebdo o vencedor da discussão da semana passada sobre democracia direta travada contra Hélio Schwartsman em certa Folha Higiênica deu sequência às suas ideias.

No mérito, como dissemos, Safatle tem razão. A falência do conceito de representatividade, a potência da manifestação direta aberta pela tecnologia, que vem sendo usada para futilidades e reprimida para o que interessa (discussão política) e a necessidade explicável de um estado que serve a quem se serve dele está na base da necessidade de debate de implementação da democracia direta.

Entretanto, ao explicar como essa democracia direta deve ser implementada a partir da situação atual em que nos encontramos, Safatle erra. Acerta no mérito, portanto, mas erra na forma. Muitos desinstruídos tentaram confundir essa ideia com o contragolpe em marcha na Turquia, mas não só erram na comparação como também na forma e o erro de Safatle é uma derivada de equívoco dessa comparação.

Para implementar a democracia direta já, Safatle defende que o Congresso seja dissolvido.

Estamos absolutamente convencidos de que o Senado é uma das coisas mais inúteis da paróquia. A Câmara até que poderia ter alguma utilidade, mas faz de seu locus um mercadão dos mais sujos e fétidos da história da humanidade. Não é para menos: treinam internamente nos partidos.

Outra matéria desta semana na mesma Folha Higiênica cobriu as eleições internas no PT: mortos votando, urnas com 40 votos que desaparecem no meio do pleito e reaparecem com 240 votos, militantes votando mais de uma vez - um festival de fraudes e calamidades que começa internamente no partido.

As prévias que escolheram Dória no PSBD também não foram nenhum show de ética: no PSDB não se chegou a esse cúmulo de colocar morto para votar ou urna que some e reaparece, mas o candidato da fila, Matarazzo, foi atropelado nas prévias por mecanismos que claramente circularam a ética e o limite do debate de ideias.

A corrupção e o mau uso da representatividade (mau uso para não dizer uso criminoso) começa nos partidos. Os partidos inventaram a corrupção moderna. Vamos parar com essa história de demonizar o empresário: o petrolão deixou claro que a ideia, a estruturação e a arquitetura do propinoduto do lulopetismo nasceu dentro do próprio PT. Todos sabem que o PT aperfeiçoou um esquema que o PSDB herdou do PMBD, que por sua vez herdou dos militares da ARENA, que teria reformado um esquema da UDN, que organizou uma farra reinventada pelo PTB de Vargas, que teria dado um golpe para acabar com o café-com-leite de SP e MG mas acabou transformando o patriarcalismo semifeudal em fascismo a brasileira, cujas origens estaria na defeituosa independência que teria perpetuado um status implementado no regime colonial e ai, ao fim e ao cabo, achamos o culpado - o português!

Esse percurso de marxismo comprado nas Galerias Lafayette demoniza o português (esse malvadão!) e chama o empresário de lúcifer, mas escamoteia o verdadeiro cerne do problema, o seu perfil estrutural de rapina: os modelos de coletividade fechada criados e autorizados pelo estado. Aquele protoestado português de Dom Manuel deu o Brasil para a sua burocracia palaciana e essa mesma burocracia palaciana vem dando as cartas no Brasil desde então.

Com o passar dos anos e a modernização do Leviatã, tivemos, nada mais, nada menos, do que mecanismos cada vez mais sofisticados de acesso a essa burocracia palaciana. Hoje esse acesso se dá por meio dos partidos políticos, que são invenções do Segundo Reinado de Pedro II para substituir o modelo que imperou entre os séculos XVI e XIX de acesso via nobiliarquia. Houve uma fase de transição entre nobiliarquia e partidarismo, mas já no final do século XIX e na beira do abismo de empurrou o Império para dentro do fosso, o partidarismo substituiu a nobiliarquia oficial e a ela se sobrepôs, em uma espécie de nobiliarquia republicana.

Os partidos hoje são (porque assim foram criados) como verdadeiras universidades da corrupção, da rapina, do roubo, da mentira, da fraude e da espoliação do trabalho alheio sem a necessidade de empenhar trabalho próprio.

Voltando a Safatle, sugere o mesmo a dissolução imediata do Poder Legislativo, com fechamento de todas as Casas Legislativas.

Mas, muito cá entre nós: a quem caberia declarar esse fechamento? Executivo? Judiciário? Exército? Marinha? Aeronáutica? Bombeiros? Exército da Salvação?

Safatle diz uma verdade sem saber como implementá-la: algo típico da esquerda.

Certa vez, no ofício de entrevistador enquanto perquiria uma personalidade da esquerda que defendia a estatização de empresas corruptas e quebradas, uma colega minha de profissão questionou o ás do marxismo: não seria uma injustiça repassar a conta de erros do empresário para o contribuinte pagar? O experto teria respondido: isso é lá com os advogados resolver... E assim, na cabeça deles, se resolve o problema de uma ideia brilhante - passando a demanda de solução para outro.

É o que faz Safatle, é o que faz toda a esquerda, desde Proudhon. Eles sabem que a ideia é boa, mas ao serem demandados para apontar caminhos, como fez Marx, caem no discurso fácil do golpe na força, na dissolução do Congresso, na ditadura do proleteriado, enfim - admitem  a ditadura como meio de se chegar a democracia. Isso o faz serem intelectualmente desacreditados, de seriedade superficial.

Sim - a pergunta é: como fazer?

Está claro que dissolver o Congresso e os Poderes Legislativos de fora para dentro é golpe de estado. Esse caminho não é possível. Não dá. Simplesmente não dá. Não se chega na democracia na base da porrada (ainda que seja uma "porrada política").

É necessário vir de dentro para fora. O próprio Congresso deve a público e fazer a sua mea culpa e propor devolver ao eleitor o poder que tomou séculos atrás.

Esse poder foi verdadeiramente usurpado mas o Congresso precisa, de mão própria, devolvê-lo para a população de eleitores.

Talvez democracia direta e democracia representativa, na prática, tenham que coexistir.

Trocar um modelo por outro na base da dissolução é uma idiotice, uma preguiça mental que sempre marcou as esquerdas mundo a fora.

Mas na prática, como acessar o Congresso para que essa vontade seja discutida?

Eis o ponto central da democracia direta - o acesso.

O acesso ao Congresso é monopólio dos partidos, que em casa e internamente funcionam como verdadeiras fábricas de rapina, universidade de calhordas, cursos avançados de cafajestes. Cabral in Bangu que não nos deixe mentir (além de muitos outros, que entraram imaculados na política e foram talhados internamente nos partidos para sofisticar esquemas de genocídio eleitoral).

Das fraudes internas nos partidos a venda de medidas provisórias e leis, nota-se que há um universo próprio de cooptação das instituições para manietá-las a serviço de líderes partidários e de seus asseclas que aguardam a hora da herança: foi assim com Jango depois de Vargas, com Alckmin depois de Covas, com Pitta depois de Maluf (cuja liderança acabou sendo herdada por Kassab após a morte de Pitta) e assim sempre será enquanto tivermos partidos definindo as linhas sucessórias na política profissional.

Um dia os partidos terão que acabar, ser todos extintos e todas as candidaturas terão que ser livres de estrutura partidária. Hoje em dia já há movimentos políticos suprapartidários que orientam politicamente os grupos de interesse as pessoas que a eles se afiliam e que, cada um ao seu modo, acaba (ou não) procurando os partidos que podem leva-los ao poder. Política e partidos hoje estão definitivamente separados.

O primeiro passo é acabar com o monopólio partidário a fim de encurralá-los na insignificância real ou na utópica extinção (que, muito cá entre nós, é uma utopia que eu acredito).

O fim dos partidos é o primeiro passo para termos democracia direta de fato no país.

Esta é uma medida simples e que pode ser implementada por projeto de lei de iniciativa popular: com a flexibilização das candidaturas independentes o caminho para que o Congresso seja ocupado por pessoas que tenham (tanto a esquerda, quanto a direta) o ímpeto e a coragem de assumir papel de protagonismo na construção da democracia e da política no mundo, invariavelmente terá um curso prático cada vez mais amplo de transferência desse poder para o eleitor até que se culmine com a desnecessidade fato do Congresso e dos Legislativos (Assembleias e Câmaras Municipais item).

Começa-se pelas candidaturas e inicia-se um processo e não um golpe, com dissolução imediata do poder pelas mãos sabe-se lá de quem.

Os eleitores ocupam esse espaço que vem sendo deixado pela camarilha congressual.

Tirem-lhe os brinquedinhos (partidos, marqueteiros de campanha, doações de campanha, aliança de partidos com empresários, ordem da vocação hereditária partidária-política, segunda divisão ou divisão de acesso [so called Estados da Federação]): sobrará apenas o poder, em seu estado "puro", digamos assim, pronto para ser exercido diretamente - sem intermediários, qual seja, sem partidos, sem "representantes eleitos pelo povo", sem lobistas (como querem alguns). "O Povo ao Poder", como diria Castro Alves ou, democracia direta como diria este hebdo.

Sem os instrumentos usuais ficará mais difícil (para não dizer, impossível) manipular, comprar leis, roubar dinheiro público impunemente, ganhar sem trabalhar.

Safatle disse o certo sem saber como fazer. Chegou a hora para ele mudar de assunto, ou seguir no assunto lendo este hebdo antes de dizer platitudes marxistas como "dissolução do congresso".

terça-feira, 18 de abril de 2017

Lobbismo

Caderno de Política
por Cícero Esdras Neemias

Enquanto críticos ao texto de Safatle, que tomou de nossa água, se debatem na melhor alternativa de reforma do Estado, a esquerda festiva já se movimenta para que ele, o Estadão, continue grande, gordo, exatamente igual ao Sr. Creosote, o homem que buscava sentido para sua vida, retirando da vida todo o seu sentido.

Recentemente isso aconteceu nos bastidores da política, conforme confissão de um defensor do "Estado Creosote" a uma dessas revistas que nem aos banheiros serve por pura falta de pornografia adequada.

A inadequada pornografia saiu das lentes de uma espécie de JR Duran canhoto: o retratista de pornochanchada Walfrido.

Ele teria preparado a tão sonhada regulamentação do lobby político e ao invés de acabar com esse câncer da nossa demagocracia chamado Congresso Nacional, o tal projeto de lei cria mais um layer para que o povo interaja com a atividade legislativa.

A nossas demagocracia, que é indireta, se tornaria, como esse lobby que monopoliza o contato com o Congresso nas mãos de meia dúzia de lobistas oficiais, criaria mais uma barreira para acabar de vez com essas tolices de iniciativa popular com a tal das "10 medidas".

Funcionaria assim: "Precisamos regular a criação, o funcionamento e o financiamento das frentes parlamentares, para que a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), as associações de jornalistas, produtores de plástico, agricultores, e por aí vai, possam apresentar os seus interesses ao Parlamento para a melhoria do ambiente legislativo no País".

Frentes parlamentares com CNPJ e tudo mais. Podendo doar para campanhas e etc e por ai vai.

Quando o repórter perguntou se isso não era lobby, respondeu o pornógrafo: "Não gosto desse termo, porque ele tem uma carga pejorativa e não explica a natureza da questão. O que faz o Parlamento? Representa os interesses do povo brasileiro. Não podemos distanciar os representantes dos representados. Em um país com mais de 200 milhões de habitantes, o que podemos fazer para aproximar os parlamentares dos cidadãos? Mais do que isso, como promover essa aproximação em uma economia capitalista, onde tudo tem um custo? O simples deslocamento de um lugar para o outro gera despesa, assim como a organização de uma palestra, de um encontro setorial. Isso precisa ser custeado pela sociedade civil, por quem têm interesse em melhorar as leis do País sobre determinado tema."

Que jeito mais estranho de aproximar, não?

Na prática, funcionaria assim: "Um anteprojeto de minha autoria (...) busca justamente aperfeiçoar essa relação entre a sociedade civil e o Congresso Nacional. O texto prevê que as frentes parlamentares possam ser criadas por qualquer uma das Casas Legislativas, sujeitas à inspeção dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado. As frentes precisam ter um CNPJ e os líderes serão responsáveis pela gestão dos recursos e prestação de contas."

Depois, ao final da entrevista, Walfrido tira o boné e grita: Pegadinha do Malandro!!!

Ele sabe que esse jeito de aproximar botando gente no meio e parlamentares para fiscalizar os intermediários só vai aproximar mais a raposa do galinheiro, para não dizer, os "amigos" dos parlamentares do dinheiro público.

Ah, pornógrafo brincalhão...!!!,  você é mesmo um pândego das esquerdas........

Turquia

Caderno de Política Internacional
por Cícero Esdras Neemias & José da Silva

Muitos alardeiam que Erdogan conseguiu um feito que seria supostamente defendido por este hebdo, qual seja, acabar com o Legislativo.

Errado.

Erdogan conseguiu chegar onde o Brasil se encontra hoje: acabou com o parlamentarismo para ter um Legislativo domado ao seu gosto; conseguiu chamar para si a prerrogativa de indicar juízes para as cortes supremas, coisa que fazemos aqui desde sempre; cooptou oposições para fazer um estado anti-Ataturk, qual seja, dominado pelo velho islamismo de que é crente (assim como este Brasil se entregou a um cristianismo de calendas pregado nas pentecostais da vida).

Erdogan não acabou com o Legislativo, simplesmente o domou por vontade do povo. Essa vontade, last and least, não será mais exercida e a legislatura será domada por ele, Erdogan.

Quando pregamos que o Legislativo seja extinto, o fazemos para que a legislatura seja exercida de forma direta e permanente pelos eleitores, povo, name it. Os eleitores não legislariam por plebiscitos constantes, mas teriam diretamente a legislatura, de forma permanente, em mãos. O executivo forneceria secretários para organizar o que o povo quisesse votar, com todas as consequências sendo sofridas diretamente pelos eleitores. Acabaria o mi-mi-mi de ter um órgão a culpar pelas mazelas de nossas idiotices.

O cristianismo prega que há dois jeitos de aprender: pela dor ou pelo amor. Viver sem legislativo seria o ato mais cristão de todos e a dor ou o amor iam ensinar o povo (naturalmente) preguiçoso a votar (haja vista que aprendeu rápido a fazê-lo: o BBB não nos deixa mentir, como já vimos).

A Turquia abrasileirou-se.

O que sugerimos é que não só o Brasil, mas a Turquia também se livre desse intermediário legislativo (que agora está nas mãos de Erdogan) e exerçam, eles mesmos, diretamente, os seus respectivos pactos sociais para que Erdogan assegure o cumprimento e não sirva-se deles.

Se alguém teme que a Turquia traga novamente a pena de morte, temos uma solução simples, seja para um Brasil sem Legislativo, seja para qualquer país do mundo - quorum mínimo.

Da mesma forma que o Congresso vota certas coisas com quorum qualificado e em dois turnos, esse processo pode ser transferido para a democracia direta, onde não haverá voto obrigatório.

Portanto, se colocarmos quatro quintos (4/5) de quorum em relação ao total de eleitores para reformas como pena de morte, aborto ou outros temas mais polêmicos, será necessário que o povo brasileiro (uns 115 milhões de eleitores, estamos falando...) expresse um enorme querer em dois turnos com a possibilidade de recall sempre aberta por um quinto (1/5) mais um voto (algo em torno de 29 milhões mais um), que desqualificaria o status permanente daquela regra.

O mesmo vale para o recall de presidentes. Não precisaríamos de pesquisa, pois o recall estaria constantemente aberto e, nesses casos, a popularidade de um mandatário deveria manter-se constante, sob pena de ser mandado para casa pelos próprios eleitores.

É isso que propôs a Turquia? Não, né...

Precisamos continuar?

Mensagem Santa

por Dom Fernandes III

MENSAGEM SANTA DO DIÁRIO BOLA PRETA PARA O PAPA FRANCISCO I:

Santidade..., por que o senhor não vai dar meia hora de "bunda ecumênica" em parceria com seus amigos da IURD e do ISIS?

Se não quer ajudar, então que não atrapalhe.

E se quiser atrapalhar, recomendamos que o senhor atente melhor para dentro de sua batina, onde há bastante serviço a ser feito ainda com os pedófilos que a sua instituição ordenou e continua ordenando.

Sem mais, renovamos nosso desapreço e a usual pouca consideração,

DIÁRIOS ASSOCIADOS BOLA PRETA

domingo, 16 de abril de 2017

Campos Férteis

Nosso trabalho de preservação da lucidez pega carona na homenagem prestada por outro jornal de bairro e louva Roberto Campos, que hoje faria 100 anos se fosse vivo.

Férteis Campos este país já teve.





Democracia Direta for Dummies

Caderno de Política
por Cícero Esdras Neemias

Nosso hebdo tem trabalhado em uma série de reportagens e artigos sobre democracia direta.

Há anos o nosso editor chefe se interessa pelo tema e resolveu inserir nas pautas de nossa linha editorial essa abordagem.

Recentemente jornais de bairro foram agitados por essas revolucionárias ideias de um novo estado que Dom Fernandes III tem aqui descrito.

Em um desses jornais de bairro (certamente o mais fuleiro de todos) o tema pegou fogo: Vladimir Safatle escreveu há alguns dias textículo defendendo a democracia direta, mais ou menos em termos semelhantes ao da nossa linha editorial anarco-capitalista, embora ele seja esquerdão. Suavemente propõe o que aqui, radicalmente, pregamos: fim da tripartição dos poderes com a extinção daquilo que hoje se chama de "Poder Legislativo".

Nossa linha editorial, dentre outras coisas, propõe o fim do Poder Legislativo (todos eles: congressos nacionais, todas as suas câmaras e tribunais de contas, assembleias legislativas, câmaras municipais e todos os órgãos que contem com intermediários mandatos cuja profissão é representar). Nas outras coisas incluímos o federalismo (fim dos estados), os partidos políticos (defendemos candidaturas abertas e registro direto no TSE de candidaturas via CPF ou Título de Eleitor), da vitaliciedade em cargos concursados (com eleições diretas para compor Tribunais Recursais e de Apelação), dos Tribunais Superiores (exceto o TSE, mas eliminação dessas excrescências todas a começar pelo STF, STJ, passando pelo TSM e TST) e o uso do aparato de agências da CEF e do BB como postos avançados do TSE para capturar os votos dos cidadãos nos inúmeros temas de interesse do país. Por fim, a Constituição, esse texto de polichinelo que se presta a ser núcleo de problemas sem jamais ter sido fonte de qualquer solução.

Feita a nossa nota, voltemos a Safatle, que, dias depois, foi criticado de maneira infantil por Hélio Schwartsman no mesmo jornaleco de bairro. HS acha que se democracia direta funcionasse, as reuniões de condomínio seriam um sucesso.

O exemplo de Hélio para desconstruir o argumento de Safatle é ridículo. Ademais, não se sustenta em uma certeza ou comprovação, mas em um exercício birrento de "ceticismo" (expressão usada pelo próprio HS). O ceticismo de HS decorre do inato vagabundismo que ronda o Brasil - para tratar de uma questão importante, seriam necessárias horas de estudo para que o voto fosse feito com os debates todos tomados e resultantes de um entendimento de forças da sociedade.

Pois bem: os argumentos de HS são toscos e redundantes - essas horas de estudos, tão necessárias, não são aproveitadas pelos mais de 3.000 parlamentares existentes no Brasil, a começar pela Câmara.  Ou será que HS tem alguma comprovação de que o atual sistema assegura que Tiririca ou Jair Bolsonaro ou Jean Wyllys estudam o suficiente cada questão antes de votar ou, ao contrário, olham apenas para o que lhes tira, lhes mantém ou lhes dá voto para as próximas eleições? O dia que Tiririca estudar antes de votar uma questão que seja a ponto de estar preparado para explicar aos seus eleitores porque, tecnicamente, votou de um jeito e não de outro, a Folha da Madrugada dará um condomínio inteiro para Hélio votar sozinho e decidir se esvazia a piscina no inverno ou coloca portaria eletrônica no lugar do dorminhoco de plantão.

O exemplo do condomínio é realmente preocupante: HS sempre se mostrou um homem inteligente, mas olhar para a questão da representação com base nas experiências de condomínio típicas da classe média baixa seria transformar subliminarmente uma ironia em um argumento ou contraponto. E assim o faz, mas infelizmente a seu desfavor.

No mito das assembleias há o lugar-comum de que são momentos de muito blá-blá-blá e pouca solução. Se o filósofo (geralmente um especialista em blá-blá-blá ineficaz) prestar bem atenção nas práticas assembleares (sobretudo aquelas que já adotaram modelos de ágora eletrônica) achará na sua ironia exatamente o argumento que lhe é desfavorável e protege a posição de Safatle.

Assembleias, que são órgãos soberanos por lei, seja nos condomínios, nos fundos de investimento, nas companhias abertas, fechadas, nas empresas, nos clubes, nas instituições e em qualquer conglomerado que dependa de decisões coletivas, é o único mecanismo que ao fim do dia funciona bem para fazer o setor privado (dos condomínios da classe média à B3) resolver questões com assunção de responsabilidades e sem perda de tempo.

A questão não está em se estudar a questão mais ou menos, mas sim na assunção direta de responsabilidade pelo exercício de um poder. Somos todos responsáveis por conduzir uma doente mental como Dilma Rousseff ao Planalto - pagamos caro por isso e espero que tenhamos todos aprendido a lição: tenhamos estudado ou não antes de exercer esse voto na nossa única assembleia geral nacional que ocorre a cada quatro anos no país.

De maneira infantil outros argumentam que o eleitor comum tenderia a pautar questões de seu interesse e desatinaria a votar aumentos de salário mínimo em seu próprio favor: ok, se assim for, que sofra então as consequências de sua decisão cretina e aprenda pelos próprios erros ao invés de ter um representante de plantão a quem culpar. Ninguém disse que liberdade se exercita livre de responsabilidades. Outros ainda chamam a democracia direta de neopopulismo, mas chamam por chamar, sem saber o que é populismo e muito menos sem saber o que é democracia direta. A democracia direta é o exato oposto do populismo. Ela é antipopulista por natureza pois elimina a figura central do populismo - o intermediário.

Hélio não acredita na democracia direta porque acha que no longo prazo a preguiça sempre vence (a começar pela sua própria, que o fez parar no meio do raciocínio com o argumento falso de que reuniões de condomínio são sempre um fracasso). Esse argumento, sim, alimenta e sustenta o populismo, pois, como bem lembrou o próprio, isso levaria o país criar uma classe de "novos políticos" que se encarregariam de estudar e orientar o voto da tigrada toda do país. Litteris, disse HS: "Em tese, eles deveriam agir como contadores ou advogados, mergulhando nos temas para encontrar decisões tecnicamente viáveis que sirvam aos melhores interesses de seus constituintes, definidos por uma espécie de contrato político-ideológico firmado com o eleitor durante a campanha".

Sem problema nenhum que tenham esses contratos, esses prestadores de serviço ou coisa que o valha, desde que o voto do contratante não seja substituído pelo voto do contratado e este é o ponto que HS não enxergou. Deixou de enxerga-lo, com certeza, por conta da preguiça que ele admite ser reinante no país e aproximam o populismo de Lula ao de HS (este, o populismo da preguiça).

Esses especialistas são obviamente uma consequência sadia da democracia direta. Não serão contratados a longo prazo pelas pessoas físicas, mas farão parte da imprensa, dos jornais e darão palestras em núcleos coletivos onde os eleitores se reúnem: empresas, clubes, instituições, entidades... condomínios...

Serão lobistas sem Congresso, um trabalho que, convenhamos, é muito mais difícil pois convencer 150 milhões de eleitores do BBB é bem diferente do que comprar 300 deputados.

No mais, se o lobbismo numa sociedade sem congresso morrer, esses especialistas ficariam circunscritos aos formadores de opinião. Político já é outra coisa. O político vota por nós e, não, eles não organizam ideias como "advogados e contadores" - eles desorganizam ideias como... políticos que são.

Formadores de opinião "mergulham nas decisões para encontrar soluções tecnicamente viáveis" e as sugerem em meio a propostas tortas nascidas no Congresso. Alguns formadores de opinião verdadeiramente mergulham, como fazemos nós aqui na Folha da Madrugada; outros, "por preguiça", fazem um "nado costas" na ida e um "nado borboleta" na vota, o que nos pareceu ser o seu caso, HS, bem como da maioria dos colunistas de seu jornal de bairro.

Lobbistas são pagos para te convencer de algo e muitos outros dirão que os lobbistas serão substituídos pelos marketeiros políticos. É possível, convenhamos - mas para sustentar essa classe é preciso de dinheiro e outros dirão que a indústria dominará essa máquina a seu favor. Se as redes sociais estiverem preparadas para esse agorismo amplo, não há marketing que mude uma Primavera Árabe ou a vontade da maioria de eliminar a CLT ou manter o imposto sindical. Nem tudo é suscetível ao marketing, mas apenas e tão somente as platitudes em que navegam seu jornalzinho de embrulhar peixe, sobretudo aquelas que se pagam para ser mantidas na base do "gogó marketeiro" e do patrocínio de propaganda que turva a formação de opinião isenta.

Se reuniões de condomínio fossem o fracasso que Hélio prega, a preguiça já teria dado um jeito de substituí-las por profissionais da administração condominial e lobbistas condominiais o que, ops, já existe e isso sim tem demonstrado estar em declínio absoluto por causa de problemas de... corrupção, sobretudo os oriundos de prestação de serviço de empreitada (qualquer semelhança com o sistema brasiliense não é mera coincidência).

Voltamos, nas empreiteiras que fazem reformas para os condomínios, ao problema cabralino, ao pecado original da política brasileira: os amigos ou meramente "o Amigo".

O sinônimo de sucesso de Hélio, creiamos, estaria ligado um evento assemblear bovino o que, sabemos, não existe nas reuniões de condomínio e em todos os outros modelos assembleares previstos em lei onde não há um controlador ou ditador definido. Assembleias (como toda e qualquer reunião agorística) é momento de tensão, debate, desentendimento, discórdia e "barraco". Isso sim, HS, é resultado da democracia e não os eventos bovinos que pacificam a sua alma, jornalista preguiçoso. Do contrário você precisará admitir que a Coreia do Norte é uma democracia, meu caro...

Na evolução dos sistemas, o brasileiro das assembleias (vamos chama-lo de brasileiro de verdade) tem sentido enorme necessidade de ler William Ury, de aprender a negociar, de aprender a como chegar ao sim, tem sentido necessidade quase fisiológica de ser estratégico nesses eventos públicos, em ágora, sobretudo quando é chamado a votar, aprovar algo ou concordar ou discordar de alguma decisão com impacto político para ele, eleitor.

Esse gap técnico está desaparecendo por pura necessidade de sobrevivência e a preguiça, que sempre existirá, está sendo alocada para outras searas da vida, na medida em que técnicas e tecnologia tem tornado as decisões coletivas mais fáceis, mais ágeis, mais simples, mais objetivas e com maiores resultados positivos - das assembleias de condomínio às AGOs da Petrobrás (informe-se lá, Hélio, como isso funciona antes de falar tolice).

"Fracasso" está associado a resultados e não meios, que vão bem, obrigado. Hoje, convenhamos, qualquer condomínio tem melhores resultados que o Congresso, pois todos são movidos por uma responsabilidade fiscal que lhes afeta diretamente o bolso por meio dos valores de quotas (você que levou os assuntos para o condomínio... só estamos dando corda no tema). Todos querem o maior benefício pelo menor preço de quota, mas nesse meio termo a conta tem que fechar. Hélio não acha isso um sucesso? Pois nós do Folha da Madrugada achamos (apesar das inimizades que são geradas nos eventos condominais, mas, convenhamos, "amigo" em assembleia e na política, pra mim, é coisa de corrupto).

No âmbito empresarial, as assembleias são o assunto mais candente do momento, ao lado do que se alocar de responsabilidade para os sócios e o quanto fica no colo da administração profissional e da não-profissional.

Hélio (the Dummy Philosopher) está atrasado, Safatle está a 10 quarteirões de distância a frente de Hélio. Deixemos combinado assim, então: a leitura das paupérrimas ideias de HS mostram com clareza e de maneira cristalina que Safatle está com a razão.

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Editorial

por Dom Fernandes III

A votação do BBB17 colheu a opinião de 130 milhões de pessoas.

Atualmente temos 144 milhões de eleitores inscritos no TSE.

Nas últimas eleições tivemos 19,4% de abstenção: compareceram às urnas, portanto, algo em torno de 115 milhões de eleitores.

Em 1994 o percentual de ausentes foi 29,3% do total do eleitorado, mas em termos numéricos absolutos, a quantidade de ausentes se mantém a mesma: algo em torno de 20 milhões de ausentes.

Isso é resultado direto da ampliação da base eleitoral absoluta: se o número de ausentes se mantém, o aumento da base reduz o percentil de ausentes em face da base que aumenta.

O BBB1 foi ao ar no ano de 2002 e a organizadora não revela o total de votos obtidos nas primeiras edições do programa, mas depois de pesquisa árdua os números das primeiras edições giravam em torno de 26 a 30 milhões de eleitores.

O recorde de participação foi em 2010, quando 154 milhões de votantes participaram do programa final.

No TSE o número de eleitores vem crescendo devido à barreira legal para obtenção do título de eleitor, que só garante o voto a partir dos 16 anos.

No BBB não há esse controle e dai venha talvez uma enorme disparidade de dados. As formas de votação também podem distorcer o âmbito dessa participação, pois um mesmo eleitor pode votar por vários aparelhos diferentes.

Enfim - o que aqui quer se demonstrar, desbastadas essas questões distorsivas por parte do eleitorado BBB é que a vontade de votar, quando o tema é de algum interesse do eleitor, chega a números que podem superar os do TSE.

O que leva um eleitor a manifestar publicamente a sua escolha é mais o interesse e menos a obrigação, que, de fato, no Brasil não há, conforme já tratamos aqui.

O chorume sentido a partir de Brasília, mais especificamente no Congresso Nacional, esses números espantosos de votação comparados, a possibilidade que Android e iOS oferecem para pagar contas, pedir comida e votar, bem como Platão e Aristóteles, tudo isso, tem algo em comum.

Comecemos pela conclusão: Platão e Aristóteles, de jeitos diferentes, garantiram que o melhor jeito de governar o mundo seria por meio de um sistema que eles chamaram de democracia. O ideal seria reunir todo mundo em ágora, mas como isso sempre foi fisicamente impossível, lançou-se mão do mecanismo jurídico da representação. Uma pessoa encarregada de colher proxy de inúmeros cidadãos votaria por elas e no interesse delas. Bela solução, mas só que isso virou o tormento do mundo e o exato oposto do que idealizaram esses homens como conceito de democracia.

Isso não só no Brasil vem ocorrendo. Quem acompanha política dos EUA e sabe o que significa gerrymandering sabe exatamente do que estamos falando: eleitos passaram a escolher seus eleitores e não o contrário.

Não há país do mundo em que a classe de representantes seja comum, embora a Inglaterra, uma das mães do sistema, chama a sua de Casa dos Comuns.

Japão, Rússia, Brasil, Líbano, Turquia, Alemanha, França, Espanha, Venezuela, Coreia do Norte, Cuba - vá onde quiser e achará um legislativo. E nesse mesmo legislativo você achará uma casta nada comum.

Não precisamos dessa gente.

Não precisamos da estrutura que essa gente tomou de assalto.

Não precisamos do alto custo que esse obtuso sistema de representação nos impõe.

Pagamos caríssimo para se ferrar.

Precisamos de um bom celular, com um bom app, conectado a uma internet rápida.

Precisamos transformar todas as agências da Caixa Econômica Federal em postos do TSE, para aqueles que não tenham celular, app ou habilidade em lidar com esses mecanismos possam fazer suas escolhas no modo old school.

E a CEF? Privatizem todas as suas atividades e o que não der, transfira-se para o BB (ou vice-versa, tanto faz - pra que BB e CEF se podemos ter um e já está de bom tamanho?).

Enfim, voltando ao que Platão e Aristóteles, depois Hobbes, depois Rousseau, depois Tocqueville, depois Montesquieu, depois Jefferson, depois la madre que los parió tenham vindo a chamar de democracia direta: se outrora era impossível reunir o povo em ágora para que manifestassem diretamente as suas opções a respeito de um imbecil que fica ou sai da casa BBB, as opções a respeito da reforma previdenciária ou da reforma do Código de Processo Penal e tudo mais que esses "representantes" fazem em nosso nome e em benefício próprio, hoje já não podemos dizer o mesmo.

Muitos dirão que o povo não tem preparo para falar de temas como a reforma da previdência, mas, convenhamos - Tiririca, Romário e Fufuca não são lá exemplos de substituto ao voto de outros Tiriricas, Romários e Fufucas que não têm mandato e estão do lado de cá da urna eletrônica.

O legislativo é caro, inútil e um dos maiores entraves para a democracia direta em qualquer país do mundo.

A tecnologia já dá meios para que a democracia direta (e verdadeira) possa ocorrer.

O Estado precisa ser urgentemente reformado e o Legislativo precisa ser extinto.

Esse modo de governo com 3 poderes deu certo até pouco tempo. Hoje não funciona mais e precisamos eliminar os intermediários com urgência.

Os EUA também estão de "saco cheio" do Senado e da HR. Dariam glória aos céus de se livrar dessa porcaria para que possam exercer e votar diretamente o que precisam para as suas respectivas vidas, respeitada a regra da maioria.

Um Estado moderno começa pelo princípio de empoderamento absoluto de seus cidadãos e por isso, parte do reconhecimento de que o Legislativo já deu sua contribuição para o história.

Hora de enterrar esse morto-vivo.

Na saga de eliminação de intermediários, vamos dar nossa parcela de contribuição, no próximo editorial, falando sobre a segunda etapa desse projeto de empoderamento: a eliminação do federalismo com a consequente extinção dos estados, departamentos, distritos e outras figuras abjetas de distanciamento do eleitor em relação aos fatos políticos.

Estados (incluidos seus consectários e símiles legais, como os departamentos, regiões, cantões, distritos e etc) são estruturas que apenas favorecem políticos e se prestam para rodar uma máquina que os eterniza no poder, de maneira eternamente hereditária (eis porque os políticos de hoje são filhos dos políticos de ontem).

Rodando uma espécie de 2a divisão das políticas nacionais, os filhos são treinados nos estados para, na 1a divisão federal, jogarem o jogo pra valer. Nos Estados jogam para aprender, pois os efeitos das políticas e dos erros cometidos no nível regional sempre podem ser corrigidos e remediados pela União interventora. Política estadual é um treino que só favorece a quem joga, jamais favorece a sua torcida, que sempre dependerá do jogo jogado no nível nacional.

Fim dos partidos e das candidaturas monopolizadas por essas figuras monstruosas e criminosas, fim dos monopólios de representação civil (a começar pelos sindicatos), fim dos mandatos concursados vitalícios, fim das cortes superiores, eleição direta para todos os cargos do executivo e para as cortes de apelação - enfim, temos muito a falar nos próximos editoriais.

Até lá.

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Revolução Ruça

Por Dom Fernandes III

Freitas cogitou admitir que há um problema com Lula; enquanto que Laura Carvalho resolveu migrar sua coluna para a política: agora fodeu de vez......

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Acerca de Estados e Terroristas

por Dom Fernandes III

Tempos atrás Trotsky teria escrito, ainda quando gozava de alguma herança leninista, o seu bizarro panfletão Comunismo ou Terrorismo.

Diz lá, antes de ter tomado um passa-moleque de Stálin (que o levou a mudar o tom das palavras e notar que havia uma degenerescência burocrática que tornaria os comunistas os novos czares), que se a violência é empregada com o propósito "da causa", então tudo bem usar de terror. Já a violência da burguesia deve ser reprimida com a violência de quem está em uma guerra civil e por isso, liberdade de imprensa impede de espionar e mentir e fazer outras pressões que ele entendia legítimas para a vitória da Revolução. O segredo seria: fuzilar e mentir, sempre que necessário. Diz isso com todas as letras, além de defender trabalho forçado (nome que os comunistas deram para um "regime de trabalho" que os fazendeiros dos séculos XVII, XVIII e XIX chamavam de escravidão).

Mas vejam: tudo isso acontecia ainda na base do Estado formalmente constituído - povo e território eram mais ou menos o mesmo e assim, mudando-se o aparato burocrático, conseguia-se mudar o controle pelo poder das mãos de quem vestia azul para os que vestiam cáqui.

Revolução Russa e outras platitudes marxistas desde a Comuna de Paris nunca mudaram o Estado. Dizem que o modernizaram, mas, na prática, o tomaram de assalto para fazer o mesmo que sempre foi feito: usá-lo em benefício de quem está no poder.

Tudo isso apenas para puxar aqui um especialista em terrorismo moderno, um tal de Robert Pape, que teria escrito há algum tempo atrás o seu Dying to Win, uma espécie de "Bíblia" atual (desculpem pelo trocadilho) das análises dos propósitos terroristas.

Pape analisa vários casos de terrorismo suicida, a partir de 1980, para tentar observar um pattern (padrão de conduta) que explique porque alguém em sã consciência se autodestrói com o escopo de levar consigo mais algumas dezenas, centenas ou milhares de inocentes aleatórios. Casos recentes mostram ataques do ISIS a... mesquitas (de sei lá quem que eles dizem não concordar e, honestamente? isso não vem ao caso - o que importa é que terroristas muçulmanos matam outros muçulmanos dentro de suas lógicas jihadistas especialmente estúpidas e injustificáveis de que até muçulmanos podem ser considerados... infiéis).

O terrorismo é, em princípio, a mais bárbara das violências pois além de não permitir defesa, a prática é randômica e completamente aleatória. Trata-se de um produto de....: bem, é isso que Pape tenta responder.

Ao analisar vários casos, ele conclui que o terrorismo não é produto do islamismo. Até ai tudo bem - é até uma platitude. Como vimos, há terroristas que se dizem muçulmanos e que atacam mesquitas. Suas teorizações começam a falhar quando o terrorismo se dissocia do jihadismo e parte para analisar casos do ETA, do IRA e do Tamil (uma fatia de seu argumento de que o islamismo não é causa do terrorismo lança mão até dos kamikazes).

Sua conclusão, entretanto, que faz enorme esforço em dissociar religião de práticas suicidas com efeitos terroristas, atrela-se a questões políticas - para Pape a causa do terrorismo está associada a um anseio por liberdade, cuja restrição seria causada pela presença militar de um estado opressor.

Pape coloca o terrorismo como uma measure of last resource, qual seja, um último recurso daquele que estaria desesperado pela própria liberdade (embora, muito cá entre nós, não seja capaz de defender nem a liberdade da própria mãe ou esposa, mas isso são outros 500).

Isso é falso.

Por que?

Simplesmente porque ele não apresenta nenhuma prova, evidência, traço ou minimamente um hint de que outros caminhos teriam sido tentados, nem mesmo o mais clássico, eficaz, eficiente e comprovadamente ético e razoável percurso do diálogo. Não há qualquer prova de que nos casos analisados por Pape haveria negociação prévia, mesmo porque, senão na esmagadora maioria (para não dizer totalidade), o ente supostamente invasor (na maioria das vezes estamos falando dos EUA) mantém representações diplomáticas formais abertas para o diálogo e para negociações.

Sei que muitos vão dizer que na maioria das vezes o estado invasor mantém laços de cooperação com o governo local de modo que a abertura de um canal de negociação oficial, via embaixada, por parte de rebeldes, insurgentes ou descontentes é uma ilusão infantil. Mas mesmo assim, tais países fazem questão, item, de ter representação na ONU e, da mesma forma, não se vê por parte de tais grupos descontentes qualquer tentativa que comprove que o ato terrorista foi a última coisa que restou.

Sim, muitos vão dizer que a ONU é o quintal dos EUA e a praia de Lúcifer e ai pergunta-se: Human Rights Watch? Cruz Vermelha? Comunidade Islâmica nos EUA? C.E.? Liga dos Países Árabes? OPEP? FIFA? Vaticano? Nada...? Então como se considera algo como último, se não há sequer um mínimo traço de que teria havido uma primeira outra tentativa?

A tese de Pape é pós-verdade: os casos são analisados para se chegar comodamente onde se quer chegar, e não onde realmente precisam chegar.

E é dessa tese que se alimentou Obama em seus oitos anos de "deixar pra lá" o caso Síria.

É dessa exata mesma tese que os críticos da recente reação de Trump à barbárie química de Assad se alimentam: de absolutamente nada adiantará reagir ou invadir, pois essa reação e as consequentes invasões são as causas do terrorismo e não a sua solução, dizem os críticos.

Pois bem, vamos aceitar então a conclusão de Pape, ad argumentandum tantum: nem tanto pela forma com que ele atinge esse resultado, mas porque essa tese não é de todo desarrazoada.

Interessante foi exatamente usá-la para tentar descredenciar a nossa tese. Ora, ora - Pape fala exclusivamente da intervenção militar como causa e não da recolonização, que seria uma intervenção muito mais profunda, pois seria militar (e passageira) na forma, mas civil e duradoura em seu conteúdo. Defendemos uma intervenção civil. A região precisa, sem meias palavras, ser recivilizada. É necessário que o mundo interceda e puxe o padrão civilizatório da região para os níveis da média mundial atual; exatamente como eles fizeram no Norte da África e no Sul da Península Ibérica séculos atrás, redescobrindo Aristóteles por meio de Averrois, que curiosamente retorna para os olhos ocidentais por meio da cultura mourisca invasora.

A tese aqui defendida, na verdade, ajusta-se perfeitamente à proposta de Pape: jamais por tropas se o intuito for meramente militar. Falamos sim de submeter integralmente a cultura da região aos limites que a democracia impõe, mantendo-se a essência espiritual da religião em torno de mensagens positivas e de paz.

Sim, falamos de uma pax americana imediata, urgente e radical. O islã deve urgentemente ser domesticado a padrões que permitam o convívio de culturas e não a sua predominância ao seu modo e do seu jeito, tratando o "ocidente" como se fosse algo inferior ao que resolveu se entender por islã ou cultura do médio oriente. A região precisa aprender a conviver com os outros, tolerá-los para entender que viver é, na verdade, conviver. Ao negarem viver (e também que outros vivam) reafirmam a indisposição de convívio e a predisposição ao arbítrio (a vida só vale se for do meu jeito).

Pape tenta afastar essa verdade inconveniente do radicalismo jihadista, mas aqui a aproximamos de propósito, pois é nitidamente falso que nesses casos exclusivos a autonomia dos povos e a soberania estatal na região vai ser a solução.

Se isso fosse verdade Obama deveria então retirar-se totalmente da região como um todo, saindo inclusive na forma diplomática e extinguindo as representações, justamente para respeitar esse intento de ver-se "livre dos gringos". Mas a verdade é que isso, dessa forma e de maneira tão radical, já não é do interesse de ninguém: nem mesmo do dos próprios terroristas.

No mais: se o estado é a solução, Pape não dá conta de explicar as eventuais causas do ISIS (seja porque este surgiu depois que Dying to Win foi escrito, seja porque misturam ações de homicídio e genocídio com terrorismo suicida - enfim, o ISIS pratica uma espécie de pancovardia): estes, tem em suas fileiras gente do mundo todo (europeus e até norte-americanos), assim como a Al-Qaeda. O nacionalismo islâmico do ISIS é por militância (semelhante ao que se faz nos partidos radicais de esquerda e direita que precisam de uma base estatal para esculachar com quem com eles discorda). Na raiz, sabe-se, o buraco é mais embaixo.

Simples - o estado, nesses casos, não é a solução: é, na verdade, o problema. Se voltarmos nos tempos da derrocada do Império Otomano e do surgimento da Irmandade Muçulmana notaremos traços de Mariguellismo, Guevarismo e proto-Trotskysmo (sobretudo na questão da utilidade do terrorismo) sustentando as ações. Hoje chegamos a níveis de sofisticação política-ideológica-religiosa jamais testados antes na História da Humanidade.

ISIS, inclusive, já declarou a sua própria base territorial com sistema político próprio (califado absolutista terrorista que cobre parte do Iraque e da Síria com presenças coloniais no Paquistão, Irã, Afeganistão, Iêmen e Somália, com a capital do sistema declarada em Mosul, no Iraque). O ISIS não respeita a divisão combinada na ONU e declarou-se estado com terras próprias e um bandeira sua (horrorosa, muito feia, diga-se de passagem).




Então com o ISIS, na tese de Pape, a solução seria deixar pra lá, fingir que está tudo bem?

Parece que não...

Estado e Terrorismo andam juntos. Não é de hoje.

O Oriente Médio apenas trouxe essa mistura a níveis absolutamente inimagináveis.

Não há outra solução para isso: é necessário intervir e declarar o fim desses estados todos que conhecemos para que a cultura sobreviva a essas monstruosidades, nem que para acabar com esses estados decadentes do Oriente Médio, tenha que se extinguir, item, com todos os Estados Unidos (e Desunidos também), da América ou de onde quer que seja, se para isso tivermos que fazer sobreviver o que há de mais rico produzido no território dos EUA: a sua magnífica cultura. 

Entre os Estados e as culturas, ficamos com as culturas.

Voto

Caderno de Política
por Cícero Esdras Neemias

Não que nos apeteça Dória - pelo contrário, o culto à sua personalidade que ele habilmente constrói deve preocupar qualquer um que use a cabeça para algo mais do que separar as orelhas.

Contudo, teria dito o tal Geraldo que para ser presidente é necessário um grande consenso partidário.

Não, governador: para ser presidente é necessário ter voto. O consenso partidário precisa apenas saber enxergar isso - mais do que um consenso, tem que ser uma constatação, uma conformação. Justamente o senhor, que teve menos votos no segundo turno que no primeiro, apesar do consenso partidário, vem lançar um groselha dessas?

Ora, ora: cada tempo tem o PSDB que merece - o meu tempo foi de Covas e Montoro (de quem nunca fui eleitor, diga-se de passagem); o de hoje está atolado em outras covas e coberto pelo gelo de outras neves... Tsc, tsc, tsc...

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Previdência

Caderno de Qualquer Coisa
por Dom Fernandes III

Recentemente debate acalorado com um contrarreformista da Previdência nos deixou entre a consternação e o riso: sob o argumento de que a proposta em curso que visa ajustar a previdência ao tamanho da solidariedade possível de modo a não afetar a liberdade e muito menos a igualdade, atalhou-nos o funcionário público estadual (que ganha mais de 40k por mês e manterá esses proventos para o resto da vida, haja vista ter sido excluído da proposta ora em voga) que o ajuste, de natureza neoliberal, atende ao interesse da elite pois tem o único escopo de enriquecer a elite e empobrecer os oprimidos.

Obviamente que o servidor em questão (que não é leitor deste hebdomadário, cujo trabalho aqui feito é imune a deficientes gramaticais e intelectuais) não se vê na elite e nem entre os oprimidos. Não se acha culpado por nenhuma desigualdade nacional, pois ao defender a união homoafetiva, acha que já cumpre o seu papel pela igualdade e que os demais desníveis são culpa do sistema capitalista, pois todos econômicos.

Reconhecendo que a "a conta não fecha" mas dando a ótima ideia de fechar a conta com aumento de impostos "que afete os mais ricos", o Robin Hood Tamoio fala sem dados nas mãos, mas com muita certeza na ponta da língua.

Bem, se a culpa então é do capitalismo e se há uma assunção geral de que a conta não fecha, dei um "fechado" nas premissas e sugeri: adotemos então o sistema de previdência da Coreia do Norte, de Cuba, da Venezuela ou da China* - copy and paste.

Estou esperando a resposta até agora...

* A China está em conflito interno para reformar a sua previdência desde o início desta década. Hoje um homem se aposenta aos 60, a mulher aos 55 e se for "operária", recebe um expurgo aos 50. O teto? Ah, sim - 2,070 yuans, algo em torno de US$280 ou, em reais, R$800,00. Menos do que 1 salário mínimo. Repito: teto - na média o povo leva bem menos por mês. Aos 50 a operária é "expurgada" e não aposentada. Por que? Simples - uma vez retirada do sistema, não pode voltar a trabalhar para complementar a renda. Tem que se virar com isso para o resto da vida. A Venezuela repete a fórmula 60 para homens e 55 para mulheres, mas paga um teto de aproximadamente US$200,00 (qual seja, R$600,00), só que a inflação escabrosa já fez com que esse valor de jubilación fosse troco de pinga no mês passado. Em Cuba se pratica 65 para homens e 60 para mulheres ou antes para ambos, mas desde que comprovados 30 anos consecutivos de contribuição - algo bem parecido com a brasileira, por conta de uma reforma feita em 2009 quando Castro ainda era o Imperador na Ilha, apesar das fraldas geriátricas. O teto? US$340, qual seja, nada mais do que mil reais. Mas esse é o topo do provento quando há pagamento de complementos ao longo de muitos anos. Na média a maioria leva US$260, qual seja, R$780,00 e ninguém consegue se aposentar antes dos 60. E a Coreia do Norte? Ah, a terra do rei gordinho feliz... bem, por lá impera o regime de trabalhos forçados para a maioria da população (palavra bonita que Trotsky e os comunistas bonzinhos deram para o que antes de 1888 era conhecido por escravidão - para quem duvida, recomendamos a leitura de Comunismo ou Terrorismo, de Trotsky). O Estado provê o cidadão com o básico para a sua sobrevivência, segundo o conceito de "básico" que for do entendimento exclusivo do gordinho feliz. O básico é mantido ao fim do "tempo de serviço", cujas regras para término do período de serviço ao estado não é clara, pois depende sempre do que o gordinho feliz achar que é o tempo de você ir pra casa e não servir mais ao estado em troca da ração mensal. Portanto, desde 1978 não há na Coreia do Norte qualquer contribuição e, por isso, não há sistema de previdência nem pensão. O Estado sustenta, mas as pessoas só param de trabalhar quando o Estado achar que o cara já deu o que tinha que dar (literalmente): varia de caso a caso, portanto. Essa ideia burguesa de previdência que hoje discutimos foi abolida em 1978 e desde então o país não tem qualquer sistema de previdência e cada cidadão vive na total e absoluta dependência do Estado (conceito de Estado lá é o que o gordinho feliz entender e normalmente ele entende que ele e "estado" são as mesmas coisas, desde que "estado" seja tão bonito quanto o penteado dele). Sabe de uma coisa, eu até que gostei desse tal sistema coreano. O que acham de adotarmos essa ideia abolicionista que só a inovadora Coreia do Norte pôs em prática? Topado ou vamos ter que voltar a discutir que a conta não está fechando por aqui? Porque na Coreia eles fecharam a conta assim: como dizem, na galega...

Oriente Médio

Vera Cruz Times
por Dom Fernandes III

Hoje deu-me poupar nossos jornalistas para que o peso das polêmicas saia de meu teclado.

Há tempos nossa linha editorial vem observando, na parte internacional, o eixo EUA-Oriente Médio-América Latina.

O Oriente Médio já rendeu inúmeras matérias em nosso caderno especial internacional, o Vera Cruz Times, bem como em outras seções: da política ao Caderno de Cultura.

De matérias sobre o jihadismo até análises do Decreto de Trump, essa cultura pseudo-oriental nos chama a atenção desde nosso último encontro com o Profeta Mostradanus: se o mundo chacoalhar, a causa dessa turbulência (que pode derrubar o avião, diga-se de passagem) certamente virá desse Eixo do mundo.

Sim, a região que outrora fora parte do Império Otomano, com alguns agregados da Península Arábica (como a própria ditadura da Arábia Saudita), mais alguns núcleos de origem Persa, formam um Eixo que gira em torno do islamismo jihadita (mais brando, menos brando, mais radical, mais sangrento, ou deliberadamente terrorista) e de assistencialismos obscuros com políticas de presença de Estado Total.

O grau de destruição que esse Eixo vem causando não apenas em terras próprias, mas agora também na Europa, vem gerando a maior crise de refugiados de todos os tempos. Causa também a maior inserção na miséria jamais vista em termos de contingente humano: no caso da Síria, mais de 80% de sua população vive hoje em condições de absoluta miséria, causada diretamente pelos conflitos que não cessam. Não são apenas as armas químicas que tem matado extensamente na Síria e na Somália: a fome é também uma das maiores armas de guerra usadas não apenas nesses países mas sobretudo no Iêmen e em regiões do Iraque dominadas pelo Estado Islâmico.

O mundo, com aval estéril da ONU, prefere manter-se passivo, observar, discutir o quanto das portas de cada país podem ser abertas para receber refugiados ("1 milhão pra mim, 500 mil pra você..."), enquanto lá no cenário das operações o "pau come solto". Na verdade, ninguém quer entrar nessa treta, mas essa postura de ficar em volta da roda de briga pilhando os brigões com o famoso "ihhhhhh, humilhou!!!", "ihhhhhhhh, vai levar essa pra casa?" vai fazer com que os bullyies acabem sendo puxados pra dentro dessa roda (lembre-se que muitos já tomaram mais de um tapa na cara enquanto ficam por perto, nessa postura de olhar a briga e não entrar nem para separar os brigões, mas manter o espetáculo da desgraça em modo "on" para se regozijar com a máxima "como somos felizes e civilizados").

Pois bem - parece que essa história de ficar olhando e esperando que eles se entendam não está resolvendo. Ficar provocando lados funciona muito menos (para fins de eliminação das discórdias, haja vista que alguma Rússia pode discordar sobre a efetividade ou inefetividade das provocações).

Muitos têm pedido intervenção militar para derrubar esse ou aquele, mas a experiência no Kuwait em 1990, no Iraque da Era WBush e do Afeganistão Taleban do mesmo período e assim por diante têm demonstrado que essa história de entrar, julgar meia dúzia e devolver o país para os sucessores dos terroristas não está funcionando. Pelo contrário: tem gerado um ciclo vicioso de palhaços armados.

O problema, todos sabem, é cultural.

A região precisa ser recolonizada. Ponto.

É necessária uma intervenção militar e civil na região, assim como foi feito no Japão do pós-Guerra.

É preciso reformular a doutrina Marshall e adaptá-la aos tempos atuais e aos problemas e peculiaridades culturais do Oriente Médio. Há solução e ela não é simples e precisa da intervenção, por terra e na base da força para que Aliados (EUA? França? Espanha? Austrália? Japão? Alemanha? Inglaterra? China? mais candidatos?) façam um saneamento civil posterior (à intervenção militar) das insanidades que regem as ações nesse palco das operações e coloque esse povo honrado para que façam o que melhor sabem fazer; aquilo que foram culturalmente talhados e são reconhecidos em todo o mundo pelo brilhantismo nesse campo: trabalhar e fazer negócios.

O resto é demagogia.

A recolonização é a única saída.

#prontofalei

por Dom Fernandes III

Acompanhamos há anos a coluna de Jânio de Freitas.

Desde o escândalo da rodovia Norte-Sul em 1987, por meio de sua engenhosa "sacada" de usar os classificados para anunciar favas contadas, Freitas é lido e não por prazer (muito pelo contrário), mas porque Freitas revela o que pensam suas fontes que, mantenha sigilo ou não, todos sabemos muito bem quem são. Acompanhamos o indigitado jornalista desde os tempos em que ainda não era coluna, mas, sejamos honestos, já era viga de sustentação de uma certa militância jornalística.

Reunidos para pauta, os jornalistas deste secular hebdomadário têm pedido para se manifestar, pois Freitas faz afirmações de cair os cabelos, seja em política, seja em economia, seja em assuntos internacionais, seja em assuntos locais, enfim - costuma se meter de maneira ora pretensiosa, ora arrogante em todo e qualquer assunto. Consta até que já escreveu sobre futebol.

Mas a área que mais causa consternação vem da gritaria que ouço da turma do nosso Caderno de Cultura: difícil esconder mas Freitas é talvez um dos maiores assassinos da língua vivos em atividade na Imprensa do Brasil. Se a morfologia é arrumada pelo corretor ortográfico, o péssimo hábito (no caso dele, que dá mostrar claras de necessidade desse recurso) em desligar o corretor sintático lhe permite escrever textos em que jamais deixou passar aquele hábito tosco de escrever frases sem predicado, vez ou outra sem verbo, vez ou outra com adjunto adnominal depois do ponto. Sei que os progressistas da língua (exceto Chomsky) vão fazer troça desta observação que o Professor Pinto Cançado nos ensina ser algo muito além do estilo e bem situado no erro.

Esse tema do "estilo", que revela o próprio homem, aparece também em outras searas, com destaque para a política e para a parte internacional.

Pois bem - depois de tanto ouvir reclamações e pedidos de sinal verde para que possam escrever, resolvi eu, editor chefe, poupar meu time e, com as teclas em mão, dar voz a todos e protege-los, cada um e cada qual, em seu anonimato de insurgência.

Justamente ele, o Cavaleiro dos Vazamentos Seletivos, põe-se em pé e a ordem para defender o Governo da Fralda Geriátrica (e muito provavelmente porque ele, Freitas, deve se compadecer das mesmas necessidades), dourando a pílula quando o fato (qual seja, a notícia) não favorece aqueles que se utilizam de seu grosseiro escudo.

Freitas faz do ofício jornalístico um peticionário digno de um rábula de qualidade duvidosa e panfleta um discurso que tenta esconder os fiapos de carne podre enroscados nos dentes de sua turma.

A de hoje, praticamente uma certidão de desonestidade intelectual, foi vazada nestas letras, sobre o Equador e o presidente que fora protegido por Tiko-tiko:

Correa deixa substancial redução da pobreza e muitos outros feitos de justiça social. Quanto ao seu autoritarismo, não foi mais do que o pulso forte que lhe permitiu bem concluir dois mandatos, eleger sucessor e fazer maioria parlamentar
Como é que é isso, Freitas?

Deixa-nos ver se entendemos bem: Correa instala uma ditadura financiada com dinheiro da Petrobrás via Odebrecht (lembremos que o marqueteiro da campanha de Lenín Moreno foi o brasileiro Edinho Barbosa, substituto de 3a hora de Duda Mendonça e do casal João "Feira" Santana e Mônica "Xepa" Moura, com inúmeros serviços prestados a suas fontes e informantes). Ditadura sim, pois se democracia tem como características a liberdade de imprensa e a separação entre poderes e a ditadura se marca por prisões ilegais e perseguição política com desculpa jurídica de todos os inimigos do regime, o governo Correa, auxiliado por Tiko-tiko, pode ter sido qualquer coisa, menos democracia.

Entende, entretanto, o geriátrico néscio das letras truncadas que "justiça social" social e redução da pobreza, se acompanhadas de mandato fixo e eleições regulares aniquilariam o argumento de que no Equador se vive uma ditadura.

Freitas, seu burro: esse é exatamente o mesmo argumento usado pelo "Capitão Bolsonaro" para falar da Ditadura Militar no Brasil - Castello foi eleito pelo Congresso, não houve interrupção das eleições no Brasil, a rotatividade no poder foi fato inquestionável e uma série de números que comprovariam a melhoria das condições econômicas no Brasil (que muitos chamaram religiosamente de "Milagre Econômico") também podem ser usados "pelo outro lado" para justificar que os militares na verdade tiveram apenas não teriam tido "mais do que o pulso forte que lhe(s) permitiu bem concluir 5 mandatos, eleger sucessor (Sarney) e fazer maioria parlamentar (até 1985)".

Ora, faça-nos o favor, Senhor Freitas.

Isso lá é coisa que se diga sobre o maior exportador de bananas do mundo (literalmente)?

Freitas não segue, jamais seguiu e sabe-se, nunca seguirá a fórmula de Millôr que conclama todos os jornalistas a militar na Oposição, seja o governo que for.

E sabe-se que se o resto é armazém de secos e molhados, dadas as deficiências de Freitas com a gramática, podemos notar que seu armazém nem os secos tem entregue.


quarta-feira, 5 de abril de 2017

Estocando Vento

Caderno de Assuntos Menores
por Eugênio Villas

Mais uma vez o Congresso, inebriado ainda pelas lições de vasta cultura dessa ícone da lógica, promove uma discussão que, na prática, equivale a uma tentativa de "estocar vento" (para não dizer, "prender Saci na garrafa" ou, mais grosseiramente, "prender o peido no tubo de ensaio"): trata-se da tentativa de regulamentar o Uber em nível federal.

Esse assunto já foi tratado aqui.

Mas esse sábio Congresso faz-me voltar a ele, assim como certas articulidades jornalísticas o vem fazendo, vazadas no sagrado princípio constitucional da liberdade de ir e vir.

Querer regular como as pessoas andam é uma das cretinices mais abissais que os Estados insistem em praticar.

Ora, ora... Liberté? Ou Égalité? Ça m'est égal...

terça-feira, 4 de abril de 2017

Cuzeiro do Sul

Vera Cruz Times
por José da Silva

Bashar el-Assad, o homem que Lula condecorou com a Ordem Cruzeiro do Sul, acaba de realizar um ataque com armas químicas que deixou 500 vítimas, mais de 100 fatais.

Assad é um ícone das esquerdas no Oriente Médio e Lula condecorou-o em 2010 com a maior comenda nacional para um estrangeiro, em vista de sua "relevância para a melhoria do mundo, da vida das pessoas e de seu grande trabalho em prol dos direitos humanos e da classe trabalhadora e dos mais pobres e do povo sofrido, etc, etc, etc., bla, bla, bla..."

Em 2003 o mesmo Lula "anulou" a condecoração que FHC havia concedido a Alberto Fujimori - criou uma nova figura, a da anulação de uma comenda (não pediu de volta, mas "anulou" a entrega) e abriu um precedente curioso, que a época foi fundamentado no fato de Fujimori ter se identificado com.... graves violações de direitos humanos.


Não que Fujimori fosse ou ainda seja flor que se cheire, mas, pensando apenas no lado racional e formal da questão, pergunta-se: o que ainda obriga o Itamaraty a manter essa condecoração, bem como a conferida ao multiterrorista internacional e autor do clássico Manual de "Guerra de Guerrilhas" (documento em que defende abertamente o uso do terrorismo como tática revolucionária)?

Hoje o Cruzeiro do Sul foi manchado de sangue (e não é a primeira vez). Lula até que deu uma boa ideia para tentar consertar: uma espécie de água-raz histórica na medalha estupidamente conferida em passado de exuberâncias irracionais.

Se manter um torturador pode pegar mal, o mesmo pode se dizer em face de um assassino (praticamente um serial killer), pior ainda um genocida (sobretudo quando usa armas químicas).

Detalhe: seu alvo não foi um batalhão e nem um aglomerado militar - foi um hospital.


Esse líder homenageado a condecorado por todos os brasileiros (naquele ato representados por Lula) governa um dos sete países alvo do famoso decreto de Trump.

Estamos apenas aguardando os defensores de Assad bem como os defensores de quem defendeu Assad no passado para justificarem a posteriori o injustificável presente.

Morreremos esperando.

Editorial

por Dom Fernandes III

Pedimos desculpas aos leitores higiênicos e às leitoras de intestino regulado pela nossa franqueza em tratar do tema em linguagem tão direta quanto chula.

Pedimos desculpas ao leitor atento e à leitora meticulosa por voltarmos a esse assunto, praticamente tornado uma platitude face à abundância de evidências e obviedades de sinais exteriores.

Mas a verdade, senhores, senhoras, é que "Dilma cagou".

Mas desta vez, a prova vem de uma confissão feita hoje em entrevista para uma filiada de seu partido.

A correligionária bem que tentou em seus "secos e molhados" (como diria Millôr, o outro Fernandes) acochambrar uma defesa extra-autos, mas produziu verdadeira confissão literalmente com "cheiro de merda".

Não somos disso em editoriais, mas vamos reproduzir a fala escatológica de Dilma ao confessar que tinha pleno conhecimento (pois fora alertada) que sua campanha não era apenas uma farsa, mas sim um verdadeiro ralo (com cheiro e vazão próprias para coisas muito sujas de todas as magnitudes):
Eu viajei ao México para um encontro com o Peña Nieto e depois houve um almoço e uma reunião com empresários. O Marcelo estava lá. No fim do dia, eu já estava saindo para o aeroporto, atrasada, mas queria ir ao banheiro. Fui para uma sala reservada e fiz o que tinha que fazer. Quando voltei, está lá o senhor Marcelo nessa sala. Ele começou a falar comigo, do jeito Marcelo, tudo meio embrulhado. E eu numa pressa louca, olhando para ele. Não entendi patavina do que ele falava. Niente. Ele diz que me contou que poderia ocorrer contaminação. Mas eu não tinha conta no exterior. Se o João tinha, o que eu tenho com o João? Por que eu teria que saber?



Essa declaração histórica de uma ex-Presidanta da República afastada por corrupção é de suma importância e nos obriga a duas observações

1) em primeiro lugar, Dilma Vana Rousseff não pode ser nunca, jamais, em hipótese ou circunstância alguma, ser afastada da política, pois ela venceu alguns expoentes de peso no assunto (como Deputado Tiririca, por exemplo): Dilma é uma das pessoas mais engraçadas e divertidas que já passou pela política mundial desde o curto governo de Hienas na Arca de Noé.

2) em segundo lugar, Dilma Vana Rousseff fecha um ciclo de exatos 195 anos de história do Brasil, ou melhor, essa visionária antecipa em 5 um ciclo de 200 anos de nossa história, quando a nossa independência foi literalmente defecada por aquele que viria a se tornar o Dom Pedro IV de Portugal, quando em sua viagem de volta de Santos para o Rio de Janeiro (viagem essa de motivos muito semelhantes à viagem de Pedro para Santos), pára por algumas horas num casebre de um caboclo nas margens do Rio Ipiranga, em São Paulo, para fazer exatamente o mesmo que Dilma fez no México com o mesmo grau de pressa e desespero intestinal descrito por ela e lá pelas tantas, bate à sua porta um portador com uma mensagem escrita meio que advertindo exatamente a mesma coisa que Marcelo advertiu a Dilma e a reação de Pedro é exatamente a mesma que a de Dilma quando ouviu Marcelo ("mas que 'porra' tenho eu a ver com isso?", teria dito Pedro...).

Pandiá Calógeras e o Visconde de Porto Seguro dão a lista dos presentes no Grito do Ipiranga, mas nunca e jamais souberam que o caboclo dono do casebre onde veio a se cagar Pedro era fonte de nosso editor de antanho, Dom Domingos II, nessa linda sequência lógica já que a cagada que deu origem ao "Grito do Ipiranga" se deu num sábado.

Aquela fonte segura deu material jornalístico para que pudéssemos fechar esse ciclo histórico brasileiro - do "Grito do Ipiranga" (que foi um grito de constipação intestinal) ao "Colóquio de Benito Juarez", de Pedro a Dilma, temos a prova cabal de que o Brasil é literalmente... UM PAÍS DE MERDA.




segunda-feira, 3 de abril de 2017

Millôr

Para quem não notou, este hebdomadário é cercado de referências e easter eggs a MILLÔR FERNANDES, descendente indireto e em linha colateral distante de Dom Fernandes II, um dos antecessores de nosso respeitado editor chefe Dom Fernandes III.

Enquanto alguns lembram a passagem dos cinco anos sem Millôr, nós do Bola Preta Diários Associados, do Folha da Madrugada e do Vera Cruz Times apenas festejamos mais um ano com Millôr. São agora 92 anos COM MILLÔR.

Sim, ele está entre nós! Sim, ele está no meio de nós! Hosana nas Alturas, Millôr!!!