quinta-feira, 30 de junho de 2016

Cultura Brasileira

Caderno de Cultura
por Dionísio Crátino

Tempos atrás, o então deputado federal Aldo Rebelo, encimesmado com a proliferação dos estrangeirismos, propôs dois projetos de lei que foram ridicularizados: (i) o primeiro (PL 1676/99), dizia respeito à proibição do uso de certos estrangeirismos e anglicismos como delivery, fast,  valet, mail e off (dentre outros); (ii) o segundo (PL 2762/03), queria instituir o dia nacional do Saci Pererê para alimentar o folclore brasileiro e nos afastar das tradições estado-unidenses do Halloween.

O primeiro projeto, de longe o mais estúpido de todos, pasme culto leitor, atenta leitora, ainda está em tramitação. Está entre a CCJ e o Plenário, desde 2008, quando um enorme, lacônico e seboso parecer da CCJ foi levado ao D.O. no dia 7 de fevereiro daquele ano memorável.

Disse lá pelas tantas o parecerista que "...desejo destacar, preliminarmente, a excelência do texto original do nobre Deputado ALDO REBELO, tanto quanto ao conteúdo como também quanto à forma e técnica legislativa do Projeto de Lei. Contudo, cabe também reconhecer que as emendas recebidas pela proposta nesta Casa foram positivas, pois que refletiram não apenas o desejo parlamentar de aprimorar a proposição original, mas também de responder a verdadeiro clamor popular, encabeçado pelos meios de comunicação de massa...".

E nesses termos, o relator Átila Lira deu seu parecer favorável ao projeto, que até hoje não foi votado por aquela nem por esta CCJ. Em outras palavras, Lira ouviu um "clamor popular" que certamente veio das ruas (as passeatas na Paulista para a aprovação dessa lei e os debates nos jornais devem ter sido intensos, apesar de, confesso, eu ter perdido essa parte do "clamor popular" por essa lei revolucionária). Jogou assim o projeto com o parecer encartatado, em alguma pilha sebosa do Congresso, onde devem estar outros Códigos de igual utilidade.

Em suma, podemos nos ver as voltas com esse projeto energúmeno; mais hora, menos hora.

Entretanto, cabe aqui um mea culpa de incompreensão pessoal, vazado na análise justa do segundo projeto acima citado, arquivado "sem mais nem menos" e que, convenhamos, o gênio incomprenedido e a visão de futuro de Aldo Rebelo se revelou com brilho e plenitude.

Sua preocupação em preservar as tramas do folclore nacional e das brincadeiras populares do Brasil, mesmo sem a obrigação legal que imponha isso e proíba aquilo, hoje vêm a tona com a força de um tolete de cocô que nunca afunda na Baía de Guanabara ou na Lagoa Rodrigo de Freitas e insiste em emergir do fundo de nossa cultura popular.

Os políticos, boa parte das alianças a que pertence o seu partido e do governo em que o nobre deputado (para ficarmos na acepção de Lira) integrou como Ministro por anos, vêm se mostrando profícuos entendedores das seguintes brincadeiras populares (sobretudo quando temos o patrimônio público e os "dinheiros das gentes" como objeto da brincadeira, incrementadas agora pelas delações do GATO MIA):

ESCONDE-ESCONDE

PEGA-PEGA

PEGA-ESCONDE

PIQUE-ESCONDE

CORRE CUTIA

POLÍCIA E LADRÃO

BARRA MANTEIGA

MULHER DO SAPO

AMARELINHA

AMARELÃO

Consignamos aqui a nossa homenagem a Aldo Rebelo, esse homem de visão, essa figura ímpar e revolucionária das tradições brasileiras e da cultura popular!!!