sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

PTrump

Caderno de Política
por Cícero Esdras Neemias

Donald J. Trump acaba de fazer o seu discurso de posse.

Resumindo os seus 15 minutos de fala, ele se enveredou por momentos de puro populismo, se colocou como o legítimo representante dos pobres dos EUA, fez afirmações altamente nacionalistas, foi radicalmente antiglobalização, atacou as nações estrangeiras como as verdadeiras culpadas pelas crises que os EUA enfrentaram nos últimos tempos, disse que os políticos representam uma classe dominante que explorou esses pobres para beneficiar essa pequena casta, falou que vai investir em infraestrutura (pontes, estradas, aeroportos, portos, ferrovias) e que vai devolver o emprego para os americanos. Falou também em proteger a indústria local, falou nas campeãs nacionais americanas, falou em subsídios para combater o capital estrangeiro, falou na defesa das fronteiras contra traficantes... Falou em acabar com as diferenças entre "black, brown and white" pois todos tem o mesmo "red american blood".

Não disse absolutamente nada diferente do que disse Dilma Rousseff em suas duas campanhas, nada diferente do que vem dizendo Lula em sua campanha para 2018 (e que recicla o que havia dito na campanha pós-Mensalão), nada diferente do que vem dizendo Ciro para o mesmo 2018.

São incrivelmente todos farinha do mesmo saco.

O populismo não olha para a esquerda, nem para a direita; olha para si mesmo dizendo que ao olhar para si mesmo, vê-se em si mesmo o próprio povo. E quem está no centro total do universo em discurso populista, tem o mundo a sua volta, em 360º: esquerda e direta estão por todos os lados.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Olha lá... olha lá...

Caderno de Assuntos Menores
por Eugênio Villas

Eu "tô" falando...

Na tarde de hoje reclamaram do Dória por causa dos sacos de lixo biodegradável que ele mandou comprar...

Além disso, andam espalhando um "meme" em que o Dória fala com um morador de rua que está limpo (chegam a fazer um jogo dos 7 erros indicando que o mendigo que recebeu a atenção do Dória está com chinelos novos, cobertor novo, cabelos limpos, braços, antebraços e cotovelos limpos, unhas bem aparadas e sem sujeira, barba feita, rosto limpo, roupa limpa e tudo mais limpo e que por isso o mendigo seria uma "farsa", logo desmentida hoje: tratava-se, sim, de um mendigo limpo, apenas).

Paulistaninho, paulistaninha: qual o seu problema com a higiene?

Repito - por que não vão todos tomar banho???

Asseio

Caderno de Assuntos Menores
por Eugênio Villas

Lá em São Paulo, o tal Dória, prefeito eleito recentemente, foi zombado porque apareceu vestido de gari varrendo ruas.

Já na campanha, era criticado por seu aspecto "limpinho": aquele jeitinho de quem acabou de tomar banho de banheira de espuma com sais da Malásia (nem sei se tem sais por lá...), enxugou-se em toalha felpuda, passou perfume e alinhou o cabelo com bastante gel após encher o sapato e as meias de talco Granado.

Por estes dias, resolveu abrir guerra contra a imundície gerada pelas pichações que transformam a cidade num quarto de criança de 4 anos de idade bem mal-educada pelos pais, porque autorizada a rabiscar as paredes do próprio quarto. O resultado: picharam mais, emporcalharam em dobro e ousaram chamar sujeira na casa alheia de arte (porque, ao que eu saiba, ninguém picha ou pixa o próprio muro ou a própria casa, dentro ou fora - só é arte se a esculhambação artística é no muro alheio...).

Chegou a dar declarações, recebidas com o nariz torcido pela população paulistana, sobre a necessidade de asseio da cidade.

Pergunto - qual o problema que os paulistanos teriam em manter-se asseados, limpos e com um aspecto de, no mínimo, ter empenhado cuidados básicos com a higiene (não precisa de gel, mas pentear os cabelos é importante para evitar doenças)? Por que essa paixão em parecer sujo, mal cheiroso, vandalizado, esculachado, desgrenhado e descuidado? Por que tanta economia de tempo no asseio regal após no número 2? O que há com você, povinho de São Paulo?

A essa gente de Piratininga, recomendo: vá tomar banho!

domingo, 15 de janeiro de 2017

Uma máquina de necedades

Caderno de Domingo
por Dionísio Crátino

O Brasil é definitivamente uma terra de vacilões.

Vacilão, na linguagem popular, é aquele sujeito pretensioso que, ao imaginar-se em estado de louvor que espraia contaminação contemplativa-admirativa entre seus ouvintes e espectadores, nada mais faz do que cometer tolices.

Acha-se.

Esse traço da característica brasileira foi em grande parte formado, forjado, transformado e consolidado em nossa MPB, em especial no samba.

Sim: o samba é o grande responsável em tornar-nos um povo de "malandros-agulha" (aquele que se presta quando entra na linha ou leva o fio no buraco).

O samba foi festejado ano passado - fez 100 anos; aplaudiram Donga, pelo telefone.

Mas convenhamos: desde então, temos nos tornado um dos povos mais hábeis do mundo em imprudências. Há ainda quem diga que sofremos de "síndrome de vira-lata", mas, fato, essa síndrome apenas confirma o nosso vaticínio de sair por ai inventando estultices como aquela famosa "Deus é Brasileiro".

E me parece, tudo isso, se não começou no samba, com ele se formou (no sentido que os marxistas adoram), se consolidou e se fez como traço de nossa persona pública.

Não - não vou aqui dizer que o trio Chico-Caetano-Gil é formado na verdade por 3 chatos de crocs*, nem vou aqui abrir o Opróbio da Música Brasileira, que começa com a lambada da década de 1990, passa pelo Axé, analisa o sertanejo (universitário e analfabeto), o funk carioca, os irmãos Camello e tudo mais que se faz com 3 notas ou menos e 3 vogais no refrão (ou menos, oscilando entre "ô-ô-ô-ô-ô-ô", "i-ê, i-ê, i-ê, i-ê, i-ê, i-ê, i-ê, i-ê, i-ê, i-ê"), desaguando nos MCs de Youtube e em tudo mais que visita o Domingão do Faustão. Não vamos perder tempo isso. Já sabemos. Até quem ouve sabe. Os próprios artistas o sabem.

                                               * chato de crocs - versão pós-moderna do antigo "chato de galocha"

Eu quero falar do samba. Da origem de tudo isso que nos atormenta hoje: e não adianta querer separar o "joio do trigo" porque neste país celíaco, o samba é a fonte da juventude tanto dos intelectuais de plantão e dos chatos de crocs, quanto dos populares e da turma das vogais e do pancadão. Todos louvam o samba. O samba é o "amigo gente boa" de todos, é a unanimidade brasileira de que não pode falar mal.

Aquele mesmo estilo musical que pelo telefone já começou a cunhar essa mania de ser do brasileiro: somos abençoados, somos bons em tudo, o resto dane-se e quem não concorda é porque tem inveja do brasileiro.

O samba construiu essa imagem de "auto-estima" pré-adolescente no brasileiro em que só o brasileiro pode falar mal do brasileiro (desde que goste de samba) e se um "gringo" vem falar mal do Brasil.... ahhh, desanca-se o gringo até o último de seus rastros, seja ele uma espécie de parente de nossa miséria musical (como no caso da tal da Azealia Banks), seja ele o Homer Simpson, seja ele o grande Sly (para os íntimos, Silvester Stallone), seja ele o Maradona, seja ele o Che Guevara, fazendo piada sobre os "milagres brasileiros" (este, na verdade, recebeu a complacência dos jornalistas de esquerda por isso e a reprovação dos demais, mas não por isso).

E essa "autoimagem" arrogante de si mesmo, pelo telefone, começou assim:
Ai, ai, ai,
Aí está o canto ideal,
triunfal,
Ai, ai, ai,
Viva o nosso Carnaval sem rival
Aquela roda de macumba que deu origem ao samba já lançava a fórmula infalível: 3 notas, 2 vogais e uma simples frase para representar um sentimento de "somos f... pra caral...".

Ary Barroso fez a parte dele:
Isto aqui ô ô,
É um pouquinho de Brasil, iá iá
Deste Brasil que canta e é feliz,
Feliz, feliz
É também um pouco de uma raça,
Que não tem medo de fumaça ai, ai,
E não se entrega não 

Novamente: 3 notas, 3 vogais e... somos demais!!!

Benjor deixa a fórmula mais complexa:
Moro num país tropical
Abençoado por Deus
E bonito por natureza
(Mas que beleza)
Em fevereiro
(Em fevereiro), tem carnaval
(Tem carnaval,)
Tenho um fusca e um violão
Sou Flamengo e tenho uma nega chamada teresa 
Sambaby, sambaby,
Sou um menino de mentalidade mediana(pois é)
Mas assim mesmo, feliz da vida
Pois eu não devo nada a ninguem 


Temos mais de 3 notas (4, se minha conta não estiver muito equivocada), vogais entremeadas por consoantes e uma raison-d'etre para o "somos foda pra caralho" (#prontofalei): o país é abençoado por Deus (como se os outros não o fossem), "bonito por natureza" (sem precisar fazer esforço nem deixar ao menos essa natureza livre de lixo e fezes), tem fusca, tem violão (de péssima qualidade, que explica em parte porque os músicos são tão ruins), tem Flamengo e, mesmo sendo um imbecil (desculpe, "mentalidade mediana") sou feliz e (digo) que não devo nada a ninguém (por favor, me comprove com o seu extrato de banco, SERASA, declaração de IR e cadastro positivo que essa parte realmente está tudo bem).

A swingueira Fernanda Abreu também oferece a sua quota de contribuição na sedimentação dessa imagem do "somos foda pra caralho":
Vamo lá rapaziada
Todo mundo dançando
Vamo lá rapaziada
Todo mundo pulando
Vamo lá rapaziada
Todo mundo dançando
Dançando sem parar
O brasileiro é do suingue
O brasileiro é do baile
O brasileiro é de festa
O brasileiro tem carnaval no sangue
Tem carnaval no sangue
Eu digo
Deixa solta essa bundinha
Deixa solto esse quadril e grita
Brasil, Brasil

Brasil é o país do suingue

Apesar de sermos todos comunistas e defensores do operariado, do trabalhador, do trabalho, ninguém faz propaganda sambolística dizendo que "O brasileiro é do trabalho". Porque, na verdade, com tanta riqueza, oras, o brasileiro nem precisa trabalhar. Na realidade, nem deve trabalhar para poder aproveitar tanta coisa maravilhosa e tanta natureza divina. Seria, literalmente um pecado (de ingratidão) com Deus, que abençoou a terra e enfiou tudo o que é bonito por aqui, não separar ao menos umas 6 horas por dia para contemplar isso tudo, dançar, beber, louvar... enfim: ser brasileiro é um ato religioso diário de gratidão pelas belezas e riquezas.

Imaginem se alguém disser: não, as praias não são tão bonitas assim. Aliás, o litoral é bem regular, mediano, digamos, assim como a mentalidade do menino de Ben Jor. De fato, os EUA têm praias infinitamente mais belas do que as nossas. Austrália e Nova Zelândia nem se fale; Indonésia, Caribe, Colômbia, Venezuela, África do Sul.... Até o Japão tem praias mais bonitas que o Brasil enfim. Pegue qualquer ranking de praias bonitas e ache ao menos 3 brasileiras entre as 10 mais belas. A foto abaixo é de uma praia em Okinawa, que fica no Japão. Chama-se FuruZamami, que fica na Ilha de Zamami, que forma o arquipélago sul de Okinawa:



Continuem imaginando alguém dizendo: nossa natureza é vulgar e pobre, não tem nada de excepcional e há países com natureza bem mais rica que a brasileira (seja sob o aspecto da apreciação financeira dos recursos disponíveis, seja sobre o ponto de vista da diversidade), incluindo aqui neste quesito os EUA, a China, a Rússia, o Chile, o Haiti, o Congo, a Síria, o Líbano, Omã e por ai vai... Nossa riqueza é achar que somos ricos por natureza, isso sim.

E em relação a essa coisa da felicidade e da tristeza do brasileiro, ah... ai sim, temos um consenso: o brasileiro é o povo que mais ri e mais chora no mundo. Chora quando ganha, chora quando perde, chora quando vê alguém chorando, chora quando vê alguém rindo, ri quando ganha, quando perde, quando vê alguém chorando, quando vê alguém rindo; ri por nada, chora de tudo; chora por nada, ri de qualquer coisa. Resumindo, agimos como idiotas, como palhaços, com a facilidade que nem o Deputado Tiririca, profissional nessa arte do rir e chorar, é capaz de sintetizar.

Não temos nada demais. Somos um país comum, ordinário, "mediano", de "mentalidades medianas". Não somos ruins, mas também não somos bons. Somos um país "meia-boca" (em todos os sentidos), povoado de gente arrogante e mal organizada, que aprendeu com o samba a ser preguiça e vulgar. Isso o samba esconde, ou pinta com outras cores, com as cores da maquiagem do arlequim de ano todo.

Por isso o samba mente para nós. Nos dá um espelho falso, uma espécie de balança adulterada que esconde o quanto estamos abaixo do peso de quanto valemos de verdade.

O samba só foi bom e valeu alguma coisa quando não foi feito no Brasil (fisicamente, espiritualmente ou ambos): "diretamente daqui dos estúdios em Milão", como dizia Vinícius para Toquinho (logo depois das tardes em uma banheira no Uruguai), ou quando Tom esteve em Nova Iorque fazendo das suas e dizendo que Nova Iorque "era bom pra caralho, mas era uma merda" e "o Rio era uma merda, mas bom pra caralho", quando João Gilberto espantou o Carnegie Hall, quando Baden Powell cantou para a Rainha ou colocou queixos abaixo no Teatro Odeon em Paris, ou ainda quando a "Pequena Notável" (que nem brasileira era) colocou bananas entre as virtudes do samba entre Hollywood, Las Vegas e Broadway. Enfim, o samba só prestou quando foi jazz. No momento em que abandonou o jazz e voltou a ser samba, coincidentemente voltou ao seu estado de natureza de "mentalidade mediana" de que certificou Ben Jor e que se encontra hoje, como diria Daniella Mercury, "ladeira abaixo" (sei que ela mandou subir, mas, quem sobe essa ladeira um dia acaba descendo, como estamos hoje desde que o samba abandonou o jazz que lhe deu alguma dignidade e sentido).

Esse jeito de olhar o Brasil, que fez 100 anos recentemente, tem atrapalhado bastante o próprio Brasil. Atrapalhou até a permanência do próprio jazz no samba, que não resistiu à sua característica vadia e "mediana".

Mandar o samba pra puta que o pariu naquele terreiro de macumba de onde ele veio não é algo tão fácil. Mas bastaria que o Brasil passasse a ouvir o samba da mesma forma que o samba houve o Brasil.



sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

O assunto da moda

Caderno de Economia
por Magnus Blackman

Fui eleito, na fila de jornalistas que estiveram no offsite, a escrever umas das primeiras resenhas do ano.

Procurei por assuntos da moda em economia e... nada!

A inflação voltou para o centro da meta (próximo de 6%) e o presidente Lulja disse que fará toda a força para ir para o centro da meta (próximo de 4%), mas a sua ideia constitucional brilhante lhe permitirá gastar por conta e inchar o Estado mais 6% (qual seja, 2% acima do que foi economizado)...

Enfim, nada no front da economia.

O assunto da moda é presídios, o que, cá entre nós, não é novidade nenhuma neste Diário. Falar sobre o impacto das reformas daqui de fora para os presidiários, para nós do Bola Preta, é assunto mais do que trivial.

Mas de repente um confronto de facções fez quase um Carandiru entre Manaus e Roraima. A esse evento podemos sim chamá-lo de Roraimada!!!

Foi uma Roraimada, como diria a maior filósofa da história das Galáxias.

96 é o número total, so far (praticamente um megadeth para os direitistas humanistas, but, so far, so good... so what?).

Isso, lá dentro do sistema.

Aqui fora o número é outro.

E como economista que gosta de estatísticas, o assunto da moda até que não me caiu mal. Temos todos os números daqui de fora para depois voltar a analisar o que está acontecendo lá dentro.

Sabe-se que no front econômico o período entre 2008-2015 fez catástrofes na economia brasileira, repetindo fórmulas peronistas de desgraça (ou castristas, alledistas, sandinistas ou o caralhista que o valha). A máquina pública virou um grande Garfield: um gato gordo, preguiçoso, mal educado, antiético, antigiênico, sujo, desonesto, guloso, irônico e, por que não?, muito engraçado (convenhamos, Rousseff discursando é de chorar de rir!).

A inflação explodiu nos dois dígitos, o desemprego se perdeu em taxas acima de 12%, juros subiram, o PIB derreteu e conseguimos, com números, transformar uma recessão em verdadeira depressão, com uma quase dominância fiscal e uma estagflação quase acadêmica (modelar, digamos).

Mas outros números do lado de fora também espantam.

Vejam esta tabelinha:


Este é o mapa dos homicídios ocorridos no Brasil mais ou menos no mesmo período em que a inflação, o desemprego e a máquina pública explodiram. Explode também nesse período os números referentes aos dados de corrupção (digamos, o valor rapinado em termos absolutos...): desaba a nossa média no relatório Transparência e, consequentemente, o nosso IDH (vai lá e olha, leitor - não vou ficar aqui recortando e colando tantos números em coincidência gráfica).

Pode ser apenas um dado de freaknomics, uma coincidência, um devaneio, uma correlação sem respeito a regras básicas de econometria, enfim, name it - mas os dados estão ai.

Relacione-os ou não, como quiser.

Do meu lado, quero apenas analisar esses números sem relacioná-los a outros (por enquanto).

Em outubro de 2016 o IPEA soltou um relatório curioso. Na análise do IPEA, refrasearam os números em observações óbvias: "Ao observar a variação das taxas de homicídio no Brasil nos últimos 11 anos, percebemos dois períodos distintos. Enquanto o primeiro deles, que segue até 2007, é representado por uma pequena diminuição da taxa de homicídio no Brasil, o segundo, que vai de 2008 a 2014, é caracterizado pelo crescimento dessa taxa".

O número total de homicídios no Brasil entre 2004 e 2014 é de 576.772 (homens, mulheres, crianças, pobres, ricos, negros, brancos, pardos, fardados, não fardados...).

Estima-se (são números preliminares) que em 2015 esse número bateu na casa dos 58.000 e que para 2016 esse número bata na casa dos 60.000.

Geramos, com essas estatísticas, numerologias curiosas: no Brasil, temos aproximadamente 7 assassinatos por hora, ou um homicídio a cada 7 minutos. Isso equivale dizer que no começo de sua leitura deste texto, alguém foi assassinado e ao final, outro o será. Para meu conforto como articulista prolixo, pelo menos ninguém morrerá assassinado no meio da leitura (exceto pelo tédio, que as estatísticas não capturam).

Projetando esses números para o globo e para a relatividade de nossa população, temos no Brasil uma taxa de mais de 29 mortes para cada 100 mil habitantes. São números que superam zonas de guerra, ISIS, Al Qaeda e aberrações que tais. Se abrangermos o mesmo período em que Síria se encontra em guerra (desde 2011), vamos ver que os jurisdicionados do ditador Al-Assad matarem-se entre si algo em torno de 256 mil pessoas e os jurisdicionados de Rousseff/Lulja+CV+FDN+PCC+Milícias fizeram lá as suas 279 mil vítimas.

Com isso, atingimos uma meta e dobramos, como nunca antes na história "destepaiz": somos campeões mundiais em "acidentes" (como diria Lulja) superando zonas de guerra (imaginem o dia em que entrarmos em guerra!!!).

Se somarmos ao total apurado até 2014 as perspectivas esperadas para os números de 2015 e 2016, iremos facilmente constatar que chegamos perto de 700.000 "acidentes". Se incluirmos o ano inicial do governo Lula, facilmente bateremos 750.000. Ao fim de 16 anos de período PT/PL[PR]/PMDB poderemos, se os números mantiverem essa tendência, bater algo em torno de 850 a 900 mil "acidentes".

Os 21 anos de regime militar autoritário (1964-1985) fizeram, segundo o relatório Brasil Nunca Mais complementado pela "Comissão da Verdade", um número de 434 pessoas. A ditadura chilena fez seus 40 mil mortos; a argentina (cuja nação nunca foi boa com números), 10 mil; a cubana, 136 mil.

A Guerra da Secessão fez 620 mil mortos, uma das mais sangrentas guerras civis da história.

E por ai vai... E por aqui fica...

Por outro lado, até o fim desse período (2014) em que analisamos os homicídios do lado de fora, o Brasil contava com uma população carcerária de... 563.526 pessoas presas (nesse número não entram as prisões domiciliares ou os presos em regime aberto, mas apenas aqueles que representam ao menos um ou dois marmitex por dia saídos dos impostos que pagamos).

Para cada pessoa morta do lado de fora (e uma ou outra no lado de dentro) no período entre 2004-2014, temos uma pessoa presa. De 2013 para 2014 tivemos quase 60 mil homicídios para 40 mil novos detentos (não entram nessa estatística os que eventualmente saíram do sistema, o que pode aumentar essa taxa de "detentos novos" especificamente para o ano de 2014).

Vejam no gráfico abaixo a evolução da população carcerária no Brasil:

Curiosamente, a "turma dos direitos humanos" que esteve no poder durante o governo PT, deu conta de fazer um aumento na casa dos 270% da população carcerária.

Homicídios, desemprego, população carcerária, inflação, recessão/depressão, máquina estatal, corrupção: são coisas que só a trinca Lula/Rousseff/Lulja fez pelo Brasil in a row.

Nesse período os negócios carcerários se estabilizaram, assim como os negócios entre partidos e empreiteiras.

Voltando ao cárcere agora, os dados mostram que 65% dessa população responde por tráfico/roubo/homicídio (demais crimes envolvem receptação, latrocínio, estupro e outros "afagos" ou "acidentes", como diria Lulja).

E para resolver esse problema todo o governo Lulja resolveu doar, por meio de 40 bibliotecas públicas, algo em torno de 20 mil volumes em livros para cadeias do Brasil afora (o que levou uma mãe de aluno a se indignar com essa doação de livros para os anjos do PCC, deixando de fora dessa benesse os travessos meninos e meninas que estudam na rede pública que só podem contar com o "kit gay" que dá propaganda para Bolsonaro e seus correligionários). Dizem até que a nova guerra entre PCC e CV/FDN poderá ter início por causa da distribuição desses livros - mandaram Marx para o PCC e os contos de Grimm para o CV e isso pode eclodir novos massacres entre essas "fracções" (facções com fricções).

Bem, apresentei os números, como bom economista e amante de estatística e não os analisei nem de dentro pra fora do cárcere, nem de fora pra dentro, do cárcere, do Brasil, da América, de onde quer que seja.

Apenas coloquei algo que torna qualquer discussão sobre 60 mortos, 33 mortos, 93 mortos, 96 mortos, 111 mortos, neste, naquele ou em qualquer presídio, um baita exercício de demagogia, de lado a lado.

Se o chefe mandar, eu retomo o assunto e analiso os números.

Do contrário, faça bom proveito, leitor, para discursos de aniversário a debates em mesa redonda sobre futebol - só não vá usar isso para os bate-papos de velório, por favor.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

País Celíaco

Caderno de Ciência do Corpo
por Doutor Pangloss

Celíaco: indivíduo que é portador da doença celíaca, que é uma espécie de transtorno intestinal gerador de inúmeros desconfortos, sobretudo a diarreia. É normalmente causada pela ingestão da gliadina e outras proteínas do tipo Triticeae, vulgarmente chamadas de "glúten" e presentes com ênfase em alimentos feitos a base de trigo.

O Brasil, se fosse um homem, seria celíaco.

Basta sua economia melhorar que o povo se empanturra de pão e bolacha (ou biscoito, como dizem nas praças de Salvador e Rio de Janeiro), sem contar na cerveja, fonte de bastante glúten por causa da cevada.

Tempos depois dessa ingestão exagerada, o povo "se caga todo" e tem que entrar em nova dieta: apertar o cinto, se aposentar mais tarde, trabalhar mais, comer menos e introduzir na dieta a salsicha, em substituição do pão, do macarrão, da cerveja e dessas coisas "gostosas" que comeu tanto quando o país ia bem.

A ciência medicinal e gastroenterológica do corpo dá ótimas dicas para a política, portanto: sendo o Brasil um país claramente celíaco, o Doutor Lulja, que preside a todos, deveria se abster de fazer coisas intrigantes.

Essa é a dica do ano de Doutor Pangloss.

Um novo Ano Novo

por Dom Fernandes III

Após reunirmos toda a equipe em um exílio voluntário (expressão preferida do Caderno de Política), qual seja, um offsite (expressão preferida do Caderno de Empresas), retornamos ao batente com a mesma vontade 2016: nenhuma.

No período de nosso fechamento para balanço muitas coisas aconteceram sem nada ter mudado: esse bando de desgraçados continua por ai assombrando quem quer se livrar deles.

Mas a vida é assim mesmo: uns param e outros continuam, outros nunca param e outros nunca nem sequer começam. Nós, pelo menos, começamos, continuamos, paramos, retomamos e de tudo um pouco, vamos experimentando essa dura tarefa de variar entre o ócio (concedido por benção estatal) e a labuta (restrita, item, por mesma ação santa estatal).

Em 2016 os temas da economia e da política dominaram as pautas de nosso ancestral Diário. Em 2017 esperamos tentar sair um pouco desses temas, se os próprios temas permitirem (qual seja, se política e economia se apaziguarem e deixarem de ser "notícia"). Se não se apaziguarem, também, que se dane.

O leitor deve estar notando que não há nada que nos orgulhe desde o retorno da Domus Fallus (ah, como é bom esse lugar, meu Deus!): enganou-se - ao menos voltamos de férias antes de Sérgio Fernando Moro e disso nos orgulhamos!

Feliz 2017!*



* - e como salientado antes, se não for feliz também que se dane...