Caderno de Política
por Cícero Esdras Neemias
Fidel morreu em uma Black Friday - piada pronta.
Mas o mistério da vida é: para onde foi Fidel em seu postmortem?
Talvez nunca saibamos, nem mesmo quando a Princesa das Trevas chegar a nós para bailar a Valsa dos Eternos.
Até lá, criamos nossos mitos.
Fidel foi um deles e eu já tenho lugar para ele.
Soube um dia que ele era responsável por uns 17 mil fuzilamentos de quem ousou pensar diferente dele (ou que ele pensou que a pessoa pensava diferente dele, vai saber).
Pois bem, na barganha da história, assumiu 7 mil e jogou outros 10 mil "na conta do Papa".
Por essa aritmética, coloquei Fidel no meu panóptico, o famoso Panóptico de Cícero.
O Panóptico de Cícero é a prisão mental em que eu, no centro dela, coloco algumas pessoas que têm algo em comum, todas encarceradas a minha volta para que eu olhe nos olhos de cada ocupante de cada cela, classificando, nesse inferno dantesco-ciceroneano os delitos de que quero distância. Representam, todos, para mim, o que menos quero em minha vida. Por isso o aspecto Panóptico.
A entrada no Panóptico de Cícero não segue exatamente a data em que os crimes ocorreram. Essa entrada segue um regime meu, próprio, na medida em que vou conhecendo essas figuras ao longo da minha longa vida e precisando dar um lar a elas em minhas memórias fúnicas.
Na verdade, em um primeiro momento, eu tento esquecê-las, mas as barbaridades são tantas que não resta outro tratamento na memória: o Panóptico.
Para isso ele foi criado em minha mente. Para guardar essas pessoas, numa espécie de pasta reservada do meu SSD (desculpe, eu não tenho HD), eu criei esse Panóptico que facilita o acesso a dados e dossiês quando essas pessoas são mencionadas em conversas aleatórias.
Há gente que ingressa lá após investigação, mas já alguns que parecem ter nascido no Panóptico de Cícero (nunca foram crianças e nem se imagina engatinhando ou sorrindo para passarinhos ou girassóis): Hitler, Mao, Nero, Stálin, Pinochet, Saddam, Bin Laden são tipos que parecem ter nascido lá dentro. Outros menos conhecidos também já nasceram lá: Pol Pot, Giap, Videla, Solano López e essa gente toda do jihadismo que eu nem me preocupo muito em guardar nome, nacionalidade e tamanho da barba.
Há os que ingressaram depois de certa due diligence: Napoleão, Calígula, Papa Bórgia e uma certa penca de traficantes e "donos de morro" mundo a fora. O amiguinho Che, que se autointitulava bebedor e sangue de inimigos, ingressou após due diligence feita num curto espaço de meia hora.
Fidel foi um destes. Ingressou após breve due diligence sobre seus feitos realizados entre a construção de hospitais e paredões, entre os pelotões que defenderam a soberania de Cuba e os pelotões de fuzilamento. Fidel acabou indo parar no Panóptico de Cícero lá pelos idos dos anos 1980 e por não ter nascido lá, a possibilidade de sair rondou-lhe a vida mas nunca foi por ele bem aproveitada. Ele honestamente gostou do lugar e nunca se importou e cometer alguma benevolência ou ato de maturidade para, como Lampião, Kruschev, Roberto Jefferson, Ronald Reagan e Paulo Maluf, entrar e sair no Panóptico de Cícero.
Hoje que completou a sua apocoloquintosis (qual seja, no 7o dia após o Black Friday mortal), ingressou de forma definitiva no Panóptico de Cícero, pois sua chance de sair por algum ato de final de vida que pudesse compará-lo a Gandhi, encerrou-se cabalmente com a sua morte.
Atualmente, ele joga baralho e vê novela brasileira ao lado de Hitler e Mao na ala dos genocidas do Panóptico de Cícero.
Aproveite as companhias, Fidel, e deixe que elas também se aproveitem de você e... Viva La Vida Loca, Comandante de mierda!!!