sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Castro

Vera Cruz Times
por José da Silva

A primeira vez que ouvi falar de Fidel Castro, tinha lá meus 12 para 13 anos de idade.

Ocorreu, obviamente, numa aula de história. Jamais ocorreria numa aula de matemática, biologia, física, química, literatura, mencionar um sujeito como esse. Muitos dirão entretanto, com certa ironia, que ao estadista cabe mudar a história - o resto que se exploda (numa bomba atômica, de preferência).

Incrível entretanto pensarmos em estadistas como Benjamin Franklin, facilmente citável tanto em uma aula de história, quanto de matemática, biologia, física, química e... até literatura!

Enfim, é o que tínhamos e graças a Deus, não temos mais, para hoje.

Não foi citado em outras aulas porque simplesmente foi irrelevante para a matemática, a biologia, a física, a química e a literatura. Em outras palavras, não mudou o mundo. Seu grande feito histórico foi apenas e tão somente ter tornado o mundo mais perigoso - e da forma mais desnecessária possível.

Naquele tempo eu cursava o que já foi chamado de 2o ano ginasial, que passou a ser chamar 6a série primária e hoje se chama 7o ano do fundamental.

Um aluno trouxe o tema a baila e a professora desandou a falar. Na época gostava muito de história, mas de Grécia, Roma, Idade Média e essas coisas que tanto encantam a molecada. Era moda na época também falar de voto. Golbery preparava o Brasil para a abertura e fazia os primeiros testes com eleições diretas, retomando no Brasil as falas sobre a importância do voto.

Votar era tão importante quanto reconhecer uma democracia. O Brasil era curiosamente uma ditadura com voto (indireto), mas todos sabiam que sem voto, o regime seria indiscutivelmente ditatorial.

Quando a mestra foi provocada sobre o tema Fidel Castro (nesse tempo, muito antes de Paula e Hortência), desancou nos elogios. Eu não conhecia o dito cujo, mas alguém cochichou que seria o tal "ditador de Cuba". Os elogios seguiram, desnecessariamente, pois a aula era sobre Revolução Francesa ou outro tema assim. A ideia era mesmo desestabilizar e engambelar a tola professora para que desse menos matéria para que todos estudassem menos para a prova do semestre. Tão simples quanto isso - nem o perguntador nem a sala estava interessada em Fidel Castro e tola mordeu a isca e começou a gastar tempo falando de um "ditador".

Minha igualmente tola curiosidade desafiadora levantou a polêmica da aula anterior e tentou inserir no tema Fidel: voto. Levante a mão e perguntei: "prof..., esse herói ai, depois que limpou a ilha dos bandidos, seguiu no cargo eleito?". Resposta pensativa: "hummm... não... acho que não... de fato, não". Repliquei: "bem, não é não, né? não foi eleito... então que tipo de democracia sem voto se pratica por lá? consegue nos explicar?". A professora acionou o gerador de lero-lero e falou por 1 hora. Voltou ao tema na aula seguinte..., e na seguinte,... depois na seguinte...

Tomei lanche de graça até o fim do ano e os alunos venceram, graças a mim! Naquele ano todas as provas de história só tinham perguntas sobre renascimento e todos terminaram o ano com notas altíssimas, tendo que precisar estudar praticamente nada, apenas repetindo o mesmo gerador de lero-lero semestralmente.