Caderno de Empresas
por Bill Taney
Olá meus fiéis leitores!
Antes de seguir na linha editorial de outrora sobre presentes, gostaria de aproveitar o momentum e falar dessas figuras fantásticas que são os políticos, sobretudo os congressistas.
Essa categoria profissional nasce na mesma maternidade que os bankers, mas por alguma razão, acabam esses seres indo parar em prédios distintos, merecem hoje uma atenção especial deste especialista em mundo corporativo que vos escreve.
Esses dois, mesmo tendo nascido da mesma mãe e indo morar em prédios distintos, um falando mal do outro, temos que convir, tratam-se dos mesmos seres praticamente. São irmãos gêmeos univitelinos.
Senão, vejamos.
Tanto um quanto outro atendem os mesmos clientes.
Ambos tem um salário fixo que não é ruim e são muito parecidos em valores, mas ganham bonificações esdrúxulas e estrondosas que ninguém consegue explicar a razão ou a origem.
Ambos fingem que trabalham e se acusam de vagabundagem.
Ambos têm rotina diária idêntica: acordam tarde, fazem "preguicinha" na cama até umas 10 da manhã. Tomam banho demorado e demoram mais ainda para se arrumar. Usam ternos com belos cortes e gravatas compradas em free shop (Ferragamo, Hermés ou Zegna), mas que nas combinações, acabam resultando em desastre identificável a quilômetros de distância. Ambos já têm 4 almoços marcados para aquele dia com pessoas diferentes (sempre um congressista, um banqueiro, um advogado e um empresário). Para escolher, esperam que alguém dê alguma desculpa para desmarcar, o que normalmente ocorre com 2 das opções confirmadas pela secretária para aquele dia. Entre um e outro, vai ele escolher com quem quer filar a bóia do dia, enquanto que o outro receberá o torpedo de "me enrolei, fica pra próxima", alimentando assim o mercado de balcão dos "bolos em almoço" e girando as "ausências justificáveis" que facilitam as escolhas dos que tomaram o bolo. Fazem o almoço do meio-dia as 15 em restaurante caro (sempre os mesmos estabelecimentos). Quase sempre dizem que estão de dieta mas que abrirão uma exceção e tomarão um Chateau Caraglio naquele dia, porque o interlocutor é especial. Passam as 3 horas e pouco do almoço mentindo sobre si, sobre o Brasil, sobre o respectivo gabinite, sobre tudo, sobretudo. Mas arracam, na mentira do outro lado, algum factóide dourado na forma de "informação quentinha". Essa técnica de obter informação os economizam de ler jornais (ler é chato) e os colocam em vantagem sobre os que lêem: estarão sempre a frente da notícia lida pelo incauto por força de seus superiores contatos. Vão de táxi ou carona até os respectivos gabinetes "espalhar" a notícia-factóide obtida em primeira mão, mas sempre pedindo "reserva" e dizendo que a informação é "em off" ou "só pra você". Repetem a tarde fazendo isso ao vivo, ao fone, por email, por torpedo, por whatsapp. Entram em reunião, sessão parlamentar, town hall ou o cacete que o valha, no fim de tarde ou, em certos casos, entram em um "conference call", "steerring call" e continuam, durante o evento, sem prestar a mínima atenção no que é dito, repassando a "notícia exclusiva" por meio de gadgets grampeados pela Polícia Federal. As 6 da tarde movem as equipes para trabalhar naquela madrugada. No caso dos bankers, pedem uma minuta de contrato asap, urgente; no caso dos congressistas, uma minuta de edital ou um projeto de portaria ou mesmo um contrato na mão inversa. Dada a ordem para fazer algo que, no dia seguinte, não vai dar em nada (essa técnica chama-se de "gastronomia molecular empresarial" - muita espuma e pouco conteúdo, para aplicar no escritório o que aprenderam no almoço sobre o tema), espalham ainda meia dúzia de recomendações, feedbacks ou elogios falsos e seguem para o jantar. Repetem o ritual do almoço e terminam a noite em casa na privada de tampo almofodado ou numa boate qualquer.
A atividade econômica que exercem, item, é a mesma, mas em lados do garfo diferentes.
Podemos notar também que a utilidade da função é igualmente equivalente: só se metem nos assuntos porque detém um monopólio - no caso dos congressistas, algum monopólio legal ou legislativo, no caso dos bankers, algum monopólio funcional que exige, via CVM ou Bacen, a presença de uma instituição financeira, que o banker diz se confundir com ele, assim como o congressista faz o interlocutor confundi-lo com o próprio presidente da república.
Sem eles, o mundo seria infinitamente melhor, mas, convenhamos, muito menos divertido! Eles são os nossos Minions prediletos: serviçais de algum Malvado Favorito e que, de uma forma ou de outra, nos fazem rir, ainda que cobrem caro por isso.
Nunca tiram férias, mas estão sempre viajando (a trabalho, lógico!) - sempre de jatinho, primeira classe, algo que o valha, pago sempre pelo mesmo cartão corporativo do empresário trouxa. Na maioria das vezes levam a família ou a amante ou vice-versa e fazem desse evento de trabalho algo muito mais divertido do que férias com a própria grana (o que explica porque nunca tiram, como os cidadãos normais, as tais "férias do próprio bolso"). E ainda conseguem sempre dizer que estão exaustos de tanto trabalhar, há mais de 10 anos sem tirar férias e por ai vai. Ambos.
Eles dizem que o pouco de bom da nossa economia pode se valer do esforço deles e o muito de ruim, pela atividade do outro, no que estão certos e errados ao mesmo tempo e vice-versa.
Bankers e congressistas, ambos políticos, no primeiro caso de natureza privada, no segundo de natureza pública, sempre se confundem e acabam invadindo a esfera não ocupada pelo outro - já vi bankers que atuam na esfera pública sem o menor constrangimento com que, item, inexiste nos congressistas que atuam com a mesma desenvoltura na esfera privada.
A cada vinte anos lembramos que eles existem e vez o outra, temos que nos socorrer de um impeachment, de uma moratória, de uma Emenda Constitucional, da votação de uma MP, de um downgrade ou de um investement grade enhancement, de um M&A, de um IPO, enfim.... Mas enquanto essas coisas não acontecem, a vida segue nessa rotina, com essas funções e inutilidades práticas que oscilam entre restaurentes e repasses telemáticos de meias-mentiras, seguidas das mesmas viagens nos mesmos vôos, cidades e hotéis e, sobretudo, com os mesmos bônus na casa dos milhões, depositados nos mesmos bancos nas mesmas offshores, todo santo fevereiro...