quinta-feira, 28 de abril de 2016

Maradona no Senado

Caderno de Política
por Cícero Esdras Neemias

Ao invés de continuar a série sobre presidencialismo de coalizão e seus mecanismos de governo, precisei interromper o fio do pensamento para tentar um comentário, ainda que breve, sobre a participação de um argentino no Senado.

Primeiramente, vale lembrar: nada contra argentinos, desde que as manifestações parlamentares dos argentinos fiquem restritas ao seu congresso. Na parte futebolística, inclusive, nada contra: que aproveitem bem dos dons que Deus lhes deu.

Mas voltemos ao nosso Senado.

E imaginemos aqui que Milton Friedman não tenha morrido e que tenha sido convidado pelo Senador Caiado a falar sobre o tal "Plano Temer", da própria tribuna do Senado, com assento privilegiado na Mesa Diretora dos Trabalhos, única e exclusivamente por se tratar de um vencedor do Nobel.

Como reagiria a esquerda e os desenvolvimentas, essa nova Shindo Renmei dos tempos modernos, que acredita tão cegamente na própria vitória que chega até a catarrar na cara de seus interlocutores?

Ao ver um ultraliberal tomando a palavra no púlpito do Parlatório do Senado e acusando o atual e os 3 anteriores governos pela miséria econômica em que fomos metidos (não que o finado Friedman tenha feito isso, o que de fato é uma pena), qual seria a reação das esquerdas nacionalistas?

Aliás, qual nacionalismo e que nacionalismo é esse que se sustenta em uma cruzada de falar mal do Estado perante nações estrangeiras?

Essa esquerda neo-getulista, cheia de nacionalismos estatizantes, arquiva o nacionalismo quando convém?

Nacionalismos de fila de banco a parte, usualmente praticados pelas doenças infantis da esquerda brasileira, desde que o Super Néscio Luiz Carlos Prestes declarou durante a Constituinte de 1946 que lutaria ao lado da URSS caso esta entrasse em guerra contra... o Brasil, cabe lembrar que a presença de um estrangeiro dentro do Congresso Nacional para falar do próprio Brasil é uma novidade que só o governo Dilma foi capaz de inventar.

Logo ela, tão preocupada com a legitimidade do voto, traz para falar no Senado Brasileiro alguém que, no mínimo, nem sequer título eleitoral brasileiro tem.

Uma coisa é dar o microfone da Globo, da CNN, do Jô Soares ou do Faustão para o Nobel diga o que quer... Outra coisa e bem diferente é dar o microfone do Senado para que ele diga não o que quer, mas o que mandaram ele dizer - simplesmente que este país é povoado por um bando de cu-sujos.

Fosse Friedman, estaria preso. E não foi Friedman porque o liberal acreditava que o prêmio a ele outorgado não lhe autorizaria meter a colher na sopa alheia. Friedman era, ao menos, inteligente.

E por falar em prêmio, lembremos - o portenho falastrão ostenta um troféu Nobel pela... Paz! Sim, ele é Nobel da Paz. Paz que com seu ato "comete hostilidade contra a República" - hostilidade no pior tipo: com fala mansa, comparando o Brasil a Honduras e ao Paraguai, falando em nome "del pueblo de Brassil" e assinalando como as casas, que com voto de suas maiorias e mediante oportunidades exaustivas de defesa, são completas desconhecedoras da lei que querem aplicar.

Pode isso, Clóvis?

Precisamos perguntar ao nosso estagiário Clóvis se isso aditaria o seu editorial sobre crimes de irresponsabilidade praticados neste governo.

Mas enquanto a resposta não vem, lembremos - trazer um argentino, vencedor do que quer que seja (Nobel, Copa do Mundo, Medalha Olímpica, Campeonato Mundial de Tranca, Campeão Sulamericano de videogame...) com o único e exclusivo intento de dizer que os parlamentares daquela casa violam a lei local que, creio, o castelhano do nobelista não permite compreensão razoável, é, no mínimo uma afronta que só seria superada se o caseiro do sítio que não é de Lula, fosse convocado para dizer a mesma coisa, do mesmo lugar, com a mesma elegância portenha e com a mesma quantidade de votos que receberam do povo que diz estar protegendo.