Por Bill Taney
Voltamos, pessoal.
E conforme prometido, vamos continuar nesse assunto gostoso sobre o sadio hábito de dar presentes.
Na coluna anterior passada contamos a história do JOVEM APRENDIZ que se tornou um GRANDE CHEFE, um espécie de pajé dos tempos modernos.
Ele soube fazer da sua vida profissional um verdadeiro sacerdócio em presentear.
Ele foi tão hábil, tão esperto, que nem sequer tirou um tostão do bolso e tendo saído completamente da humildade, sobre alegrar os superiores presenteando-os com serviços úteis.
Ele usou o guanxi chinês de um modo que nem mesmo esse milenar e astuto povo pode imaginar quando inventou o sacerdócio do presente ainda antes de Confuso.
Pois bem, hoje vamos falar de presente de verdade – de dar algo, um bem, um objeto de valor, as técnicas, as formas.
Quando falamos de dar presentes de verdade, objetos, temos que pensar em algo caro. É importante que seja caro pois o presenteador tem que impressionar. Pode ser uma jóia (não precisa ser bonita, basta que seja caro), um jantar caro, um vinho caro (não precisa ser bom, basta que seja caro). Coisas baratinhas podem ofender.
Há aqueles presentes intermediários: uma roupa cara, um perfume caro, coisas assim.
Mas nesses casos, o presenteador poderá enfrentar um problema sério – se ele não for tão bom quanto o nosso JOVEM APRENDIZ ao ponto de saber qual o exato gosto do presenteado, poderá dar algo que o presenteado não goste e ai o ato, ao invés de atingir o seu objetivo, poderá transparecer certa ignorância sobre a pessoa, o que não é bom.
Sendo o presente caro, o presenteador poderá sempre minimizar esse efeito colateral, pois o presentado, caso não goste, poderá repassar o presente perpetuando essa cadeia fenomenal de nossa máquina produtiva.
Quanto mais barato, maior o risco caso o presenteador não conheça bem o presenteado. E mesmo que conheça bem, se acertar na mosca o desejo ou a necessidade do presenteado dando-lhe um presente barato, correrá o presenteador outro risco – o de não ser considerado um presente de verdade.
Assim, se não souber ou não puder dar um presente caro, o mais indicado é que o presenteador dê notas de dolares como presente, de preferência em múltiplos de cem: $100, $200, $300... $2,000, $2,500... $50,000... $250,000... $1,000,000... $2,000,000.
Os dolares são presentes práticos e universalmente aceitos. Todo mundo gosta, não tem como errar. E mais: você não tem o risco de ter o seu presenteado repassando porque não gostou do presente. Ele vai repassar porque realmente precisa presentear outro. É o estado mais puro desse sacerdócio divino e filantropista que é o ato magnânimo de presentear. As nobres notas também são universalmente aceitas e amplamente geradoras de sorrisos, alegrias, felicidades, graças e mais outros infinitos sentimentos positivos que vêm do coração.
Esse presente entretanto, gera algumas dúvidas. O primeiro deles é em relação a quantidade de múltiplos de cem a ser presenteado. Bem, essa quantidade vai depender do “apreço” que está sendo sentido pelo presenteado. A ocasião e as contrapartidas também podem influir.
Ao dar presentes simples como esse, o presenteador deve seguir o exemplo chinês e colocar tudo em um envelope vermelho com dizeres bem bonitos. Pode colocar lacinho no envelope, desde que seja vermelho também. É uma tradição que não pode ser quebrada.
Normalmente valores até $5,000 cabem num envolpe. Se o valor for entre $5,000 e $500,000, o presenteador poderá optar por fazer a entrega em uma bolsa Louis Vitton, Prada ou Gucci. Se for homem a receber, entregue em uma valise da Halliburton ou numa pasta tipo 007 de couro argentino.
Valores superiores a $500,000 precisam ser arrumadinhos em uma mala de mão, dessas que cabem em um bagageiro de avião bom (teco-teco não vale).
Entretanto, nunca dê mais do que $2,000,000, pois excesso de generosidade pode pegar mal. Além disso, valores superiores a esse não cabem numa maletinha e ai você teria que quebrar uma tradição sagrada.
A entrega pode ser “sem cerimônia” ou “com cerimônia”.
Na entrega “sem cerimônia” você entrega e logo diz “aqui está... obrigado por aquele cafezinho”. Nesse caso o “cafezinho” é aquele algo que te motivou a dar esse lindo e útil presente.
Já na entrega “com cerimônia”, vários ritos de entrega são universalmente aceitos. Isso, de tão complexo, mereceria outra coluna, que posso pensar em breve em escrever a você, meu leitor amigo, minha leitora linda!
Mas voltando a entrega “com cerimônia”, lembro a mais tradicional e que, não sabemos porque, vem caindo em desuso – é a cerimônia da aposta. Nessa cerimônia você faz assim: chega para o seu interlocutor e diz a ele, “eu aposto $xxxx com você que você não consegue fazer aquele servicinho pra mim”. Se ele fizer, você terá que pagar a aposta!
Não é simples?
É uma aposta! Obrigação natural. Nada ilegal, não mata ninguém (exceto se o
“servicinho” em tela for “matar alguém”) é bem divertido e todos gostam e aceitam.
Até as empresas retrógradas que têm aqueles absurdos códigos que proibem dar presente, não proibem apostas!!! Tanto é que nessas empresas todo mundo faz bolão da Mega-Sena, não é verdade? Então, até nessas empresas as “apostas” tem que ser pagas!!!
E pagar apostas é lícito e bonito! E, acima de tudo, É HONESTO!!!
Esse prêmio-aposta-presente (exceto nas empresas que proibem presentes, ai você só chama de prêmio da aposta) é muito bom, útil e aceito pela lei, pela moral, pela ética, pelos bons costumes e pelos sermões do Padre Antonio Vieira (inclusive e exclusive).
É bem diferente do jogo que o Jânio Quadros proibiu (e que já-já vai ser desproibido) e é bem parecido com as apostinhas de Fla X Flu que o pessoal faz nas empresas (apostas envolvendo o Vasco estão proibidas por serem consideradas leoninas e as com o Botafogo são consideradas apostas não-sérias ou "a brinca"). Normalmente apostam almoços ou essas coisas incômodas, mas nada impede apostar a entrega de efectivo, como diriam na Argentina, sobretudo no envelope vermelho, na bolsa Gucci, na maleta Halliburton e, se você tiver sorte, ah.... na mala de mão Rimowa!!!
Na próxima semana voltaremos falando sobre o assunto do vigarismo empresarial, algo que vem sendo pouco estudado e cultivado, mas reconhecidamente muito útil para a produtividade. Esse tema do presente no mundo corporativo com suas histórias edificantes voltará, mas em outras colunas futuras, para que você não se vicie no tema, leitor amigo, leitora cheirosa.
Até lá!