Por Dom Fernandes III
Tinha planos de escrever um editorial bonito esta semana.
Cheio de citações, com retórica bem aparada, consolidando os
problemas que todos os nossos editores debateram – este seria o mágico e
estupendo edital.
Mas não.
Vem essa Lavajato, essa “prisãozinha” do Lula, essa
aceleração do impiche e pronto.
Lá se vai meu belo editorial em troca de opiniões sobre
temas chatos, chatos, e mais do que chatos.
Eu queria falar das flores e se algum leitor sem-noção me
cobrar por que eu não disse que falei das
flores, deixo as flores para o velório de um governo que saiu da UTI na
semana passada e já está no necrotério aguardando que venha algum parente ou
conhecido reconhecer o corpo.
A causa mortis,
entretanto, está oscilando entre cassação de mandato e impiche.
E ai é que reside a nossa agonia, pois somos instados a nos
manifestar, como o veículo de jornalismo mais antigo do mundo, a dizer se somos
a favor ou contra o impiche, a favor ou contra a cassação de mandato.
Eis ai nossa opinião (e dane-se o resto! #prontofalei): SOMOS CONTRA O IMPICHE!
SOMOS CONTRA A CASSAÇÃO DE MANDATO!
Mas ao mesmo tempo, do jeito que está, não dá.
E ai? O que fazer?
Ora, nosso jornal é a favor da exoneração da funcionária pública
de plantão no Palácio do Planalto (a Dona Russiffo) de maneira expedita e por
força de incapacidade civil absoluta.
A inquilina do Planalto está visivilmente doente.
Sofre, sem sombra de dúvida, de alguma debilidade mental, de
alguma fragilidade intelecto-cognitiva que nem eu, nem Doutor Pangloss sabemos
bem identificar o que é.
Mas que ela está doente, ah, isso está.
Ela não está bem.
Precisa ir pra casa, se tratar; cuidar da cabecinha, da
memória, essas coisas.
Só Tylenol e Novalgina não estão adiantando.
Prozac, Deprax, Eufor, Dieta Ravena, Grecin 2000 – nada está
dando efeito.
A Dieta então, que desgraça!, está atacando a memória e os
neurônios que sobraram, atualmente ocupados em matar a fome e combater a
calvície.
Os sintomas só se multiplicam e a incapacidade por “discernimento
reduzido” já foi até diagnosticada por aliados – eles notam certo autismo na capacidade de compreensão e
leitura do entorno.
Já passou da hora de darmos início a um processo rápido,
simples, indolor, higiênico, legal e constitucional (segundo a constituição de
1969, Parágrafo Único ao art. 184, as despesas desse processo com médicos e etc
correm por conta da União, norma esta que, pelo princípio da recepção
constitucional do justo, está ai pra quem quiser ver): não chamem o Cunha, nem
o Senado, nem a Câmara, nem a PF, nem o Janota, nem a Força-Tarefa, nem o
Gilmar, nem o Supremo, nem o MDB, nem o Maduro-Girafales, nem o
Morales-Cara-de-Bolacha, nem o Mujica-Seu Jaiminho, nem a Kirschner-Dona Florinda e nem o Corrêa-Quico,
nem o síndico, nem o Dunga, nem o Parreira e nem o Felipão – chamem um médico.
Um médico bom, de boa formação, com bom domínio da técnica, da confiança de
todos, pronto para agir pelo Brasil, armado de seu CRM e seu estetoscópio.
Ele vai até o Planalto (não precisa ser em condução coercitiva,
pode marcar hora e data que loucura não foge de um dia para o outro), apresenta
seu CRM com especialização em Psiquiatria na portaria do Palácio, toma um chá
de cadeira de 3 horas e examina a paciente em meia hora, trazendo a público o
diagnóstico que todos nós sabemos: “não dá mais, ela tá lelé-da-cuca, pirada, doidinha de pedra”.
Um exame rápido, simples, algumas perguntinhas, uns
testezinhos psicotécnicos, coisa simples assim, nada demais. Uma mesinha com
figuras geométricas, um pique-repique, uma musiquinha qualquer (pode ser uma
marchinha de Carnaval do Silvio Santos que está ótimo).
E analisa o resultado para o bem da nação pensando: daria
para colocar alguém com esse discernimento da realidade para cuidar da minha
residência, na minha ausência, por pelo menos uma semana? Quebraria algo?
Abriria a porta para funcionário falso da NET? Regaria a jardineira de brita? Conversaria
com a fruteira por mais de 10 segundos? Gastaria corretamente o dinheiro do “caixinha”
para manter a despensa com alimentos adequados e produtos de limpeza e higiene
minimamente úteis para os fins a que se prestam? Daria descarga após o uso? Apagaria
a luz ao sair de algum cômodo?
Se a resposta for “não” para qualquer uma das perguntas, é
inevitável a interdição civil.
Procuraria algo no escuro? Lavaria louça com Omo? Inala freadas
antes de lançar as cuecas no recipiente da lava roupas? Secaria a louça lavada
com Omo no microondas? Dormiria na minha cama na minha ausência?
Se a resposta for “sim” para qualquer uma das perguntas, o
caso está encerrado.
Com a interdição decretada após o laudo só poderá assinar
cheques, contratos e praticar os atos da vida civil em geral assistida de um
curador.
Para o exercício de cargo público, recebe, com as homenagens
de estilo e praxe, aposentadoria proporcional (que o Diário se compromete a
pagar a diferença se ela sair logo).
A melhor alternativa é essa: aposentadoria por incapacidade
civil (relativa ou absoluta, depois a gente vê).
Uma vez aposentada, ela poderá jogar bastante Banco
Imobiliário e se deliciar com as cartinhas de “Sorte ou Revés”, sem fazer com
que os efeitos do jogo sejam sentidos por quem não tem os dados nas mãos.
No mais, com licença, leitor, leitora: tenho roupas por lavar e almoço por fazer.