por Dom Fernandes III
Depois de longo período no silêncio das reflexões, abrimos este Editorial, resultado direto dessa reflexão, com dois pedidos de desculpas aos leitores.
O primeiro deles, já automaticamente concedido pela leitura, decorre da paciência a nós franqueada sobre o tempo de reflexão que gerou uma mudança de ideias e que origina o segundo pedido de desculpas: erramos em nosso julgado sobre Donald Trump.
Sim. Erramos - e erramos feio.
Os números estão ai para comprovar.
A extrema habilidade com que ele se move no campo político, seja da política interna, seja da política internacional, prova cabalmente que estamos diante de um dos maiores presidentes da história dos EUA.
Trump está fazendo uma revolução na política e na forma com que ela vinha sendo feita.
Revolução não é uma de nossas palavras prediletas, mas não encontramos outra para designar a quantidade de mudanças que Trump, quase sozinho, vem fazendo não apenas em prol dos EUA, mas do Mundo.
A história há de reconhecer em Trump um distinto transformador.
Sua linguagem e sua forma ríspida de se expressar, durante toda a sua campanha, nos causou não só estupor, mas desconforto e até uma certa azia. Mas a reação ao seu modo direto e franco de expressar, por parte da tropa organizada de SJW, seja nas redes sociais, seja na imprensa, foi o que realmente nos impossibilitou de continuar escrevendo nesse período, pois a necessidade de vomitar passou a ser diária.
A Revolução Francesa, que foi um brincadeira histórica de mau gosto, começou com uma fake news (para quem acha que conhece muito de Revolução Francesa, recomendo que pesquise sobre a biografia do jornalista Camille Desmoulins).
Trump apenas levou certas interpretações e leituras a limites válidos de questionamento e a sua estratégia gerou uma torrente avassaladora de fake news na reação. De fato, essa corrupção jornalística e intelectual sempre existiu, mas como uma "Lavajato dos jornais", veio a tona num tsunami de mentiras expostas como nunca. A quase esmagadora maioria de mentiras é voltada para desqualificar ou descredenciar o trabalho de Trump.
Basta que se lhe ouça diretamente, sem intermediários e, depois, se recorra a essa papelada toda produzida por intelectuais orgânicos da esquerda americana (de CNN e NYT a uma rádio satélite qualquer via XM na mais longínqua cidade do interior de Idaho, por exemplo).
Trump expôs ao mundo a podridão da imprensa mainstream, o infowar, Hollywood, os artistas, os cantores, os acadêmicos com seus dados falsos, os burocratas, lobistas, os estupradores, os pedófilos, os racistas, os preconceituosos, os intolerantes religiosos (sobretudo os islâmicos, intolerantes na essência) enfim - a escória da intelectualidade orgânica que criou uma Matrix que colocava de fora a voz do cidadão comum.
Ao mover o seu debate para a arena mais franca e aberta do mundo, o Twitter, Trump saiu do paradigma de dominação anterior e permitiu que a população passasse a ouvir dele, diretamente, as questões sobre política. Todos passaram a participar, comentar, concordar, discordar, de forma direta. Todos passaram a ter opinião, a formar opinião.
Trump acabou com o formador de opinião profissional.
Devolveu não só ao povo, mas sobretudo ao mundo, o direito de cada um ter a sua própria opinião e não apenas reproduzir uma opinião inteligentinha.
A economia tem reagido como mera consequência dessa revolução nos valores de participação política. Trump mostrou que it is NOT the economy, stupid; it is the "VALUES OF A NATION"!
Trump não é um populista. Um populista faz média com uma maioria de sustentação. Trump não faz média com ninguém.
Populistas não falam de valores, pelo contrário - atacam valores. Trump os defende, no melhor estilo conservador ou liberal-conservative, todo o tempo.
Ele é um estrategista nato. A estratégia está escrita em seu DNA, faz parte de sua constituição genética.
E apesar dos discursos duros (algumas das vezes), Trump, desde o de posse, vem governando e expondo suas ações de maneira clara, direta e objetiva.
A objetividade, nestes tempos de justiça social completamente obliterada pelas subjetividades mais energúmenas, ilógicas e incoerentes, soa como um petardo. A objetividade machuca, dói.
Trump não é racista, não é retrógrado, não é reacionário, não é burro, não é supremacista: Trump é um hábil estrategista e o mundo não está acostumado a conviver com pessoas com esse perfil desde a morte de Churchill, pelo menos.
Há tempos que não surgia um Henrique VIII, um Tokugawa, um George Washington. Quando surge algo parecido, de início, as pessoas assustam, se confundem, são confundidas.
Trump levou a indústria do lobby para a UTI - sua forma imprevisível (melhor dizendo, estratégica) de agir, está levando essa indústria para o fim, pois ele interage diretamente com intermediários que precisa, tanto de um partido quanto de outro, bem como com os grupos de influência. Trump não age partidariamente, ele age, literalmente, de forma republicana e democrática. Lobistas dependem de uma estabilidade que lhes vem sendo negada, via partidarismos claros e previsíveis e muitos já estão mudando de ramo, pois não terão como viver 8 anos nesse esquema político que, talvez, após o término do 2o mandato (que é certo como gelatina ao fim de restaurante buffet por quilo), talvez nunca mais retorne.
Eis o resultado em menos de 1 ano de uma das mais brilhantes administrações públicas da história, que nos faz questionar novamente sobre valores e necessidades que só o Estado é capaz de suprir, como lembrava Brian Cozier - Trump vem sendo capaz, inclusive, de nos demover de nosso anarcocapitalismo.
Há quem diga, porém, que Trump não anda bem da cabeça. Mas já pude notar que são as mesmas pessoas que se voltaram contra o impeachment de... Dilma Rousseff, a sã.
Diário Bola Preta
Jornalismo Instigativo Clássico Pós-Moderno...................................... LIVRE COMO UM TÁXI, OCUPADO COMO UM UBER @DiarioBolaPreta
sexta-feira, 1 de dezembro de 2017
terça-feira, 15 de agosto de 2017
Robert E. Lee
por Dom Fernandes III
No centro do conflito em Cville, uma figura foi esquecida.
Inadvertidamente, diga-se de passagem.
Gen. Robert E. Lee.
Quem foi o General Robert Edward Lee?
Sim, eu sei que você não faz a mínima ideia, distinto leitor, honrada leitora.
Acontece que este editor morou em Charlottesville e sabe, ocasionalmente, quem foi o General Robert E. Lee.
É uma mera coincidência, ou talvez não.
O mais interessante, caro leitor, notável leitora, é que eu posso apostar de maneira até irresponsável e colocar na mesa todos os meus títulos de nobreza e lhe garantir que você não está só.
Eu diria que nem 10% da população de Cville sabe quem foi Robert E. Lee. Com certeza absoluta nem 5% dos estudantes da UVa faz a menor ideia de quem tenha sido o General Robert Lee.
Eu diria mais, até: aposto que a totalidade das pessoas envolvidas naquelas idiotices dos últimos dias não têm a menor, a mais "puta" ideia de quem foi Robert E. Lee.
Tudo começou, como bem lembrou Leandro Ruschel em seu perfil em redes sociais (veja essa história completa no perfil de Ruschel no Twitter em @leandroruschel, que levou ao seu desligamento das redes), com uma petição feita por um cidadão para que retirasse uma estátua em homenagem ao General Robert E. Lee, que ficava no Lee Park (assim se chamava o parque quando morei lá).
O Lee Park é uma pracinha bem agradável que fica ao lado do Downtown Mall, a rua principal do Centro Histórico de Cville.
Como complemento a tais melhorias, McIntire pediu para que se instalasse uma estátua em bronze em tamanho natural representando o General Robert E. Lee, de quem passaremos a falar. A estátua foi instalada em 1924 e a cidade sempre conviveu otimamente bem com as praças e seus monumentos públicos.
Este é um ponto turístico importantíssimo pois integra o chamado Virginia Civil War Trails.
As pessoas sempre conviveram bem, pois ao parar diante de tais lugares, sempre fizeram questão de ouvir a história do lugar e sobretudo da pessoa que se queria manter na memória de TODOS OS AMERICANOS, não somente de uma parcela deles.
A coisa começa a mudar de figura quando em 5 de junho de 2017, a cidade resolve mudar o nome de Lee Park para Emancipation Park, baseada no argumento de que o General Lee representaria a "supremacia branca" e portanto a sua memória deveria ser apagada da cidade.
Começou-se a tentar reescrever a história na marra, sem nunca se ter dado conta de todos esses fatos aqui narrados.
A sandice se seguiu com a ideia de se retirar a estátua do General Lee sob os mesmos argumentos.
A partir dai outros seres de laia pior e inquestionável se arvoraram no direito de defender o Lee Park sob o argumento da.....? supremacia branca...
Bem, completou-se a cretinice construída em cima de uma mentira.
Bastaria ter se interessado sobre a vida da família McIntire ou, mais simples, terem dado uma lida na biografia oficial de Robert Edward Lee.
Sua mais completa biografia foi escrita em 1934 por Douglas Southall Freeman. Há mais de 20 biografias sobre Lee, mas nenhuma chega próxima do trabalho de Freeman.
Freeman foi um dos mais importantes professores de história dos EUA, um jornalista admiradíssimo e uma personalidade reconhecida em todo EUA por sua luta pela ética.
Não coincidentemente, Freeman foi o vencedor do Pulitzer Prize por conta de seu trabalho de pesquisa acerca da vida de Robert Lee, resultando em uma biografia fabulosa publicada em 4 volumes. Sim - a biografia de Lee escrita por Freeman venceu o Pulitzer.
Mais tarde Freeman ainda trabalhou com afinco na biografia de George Washington, publicada em 7 volumes.
Freeman foi professor de historia e jornalismo não apenas na UVa, mas passou pela prestigiada Universidade de Columbia no Norte de Manhattan e depois encerrou carreira como Reitor da Universidade de Richmond, em Virginia.
A controvérsia por trás da Guerra aos olhos de Lee tomou esta análise:
No centro do conflito em Cville, uma figura foi esquecida.
Inadvertidamente, diga-se de passagem.
Gen. Robert E. Lee.
Quem foi o General Robert Edward Lee?
Sim, eu sei que você não faz a mínima ideia, distinto leitor, honrada leitora.
Acontece que este editor morou em Charlottesville e sabe, ocasionalmente, quem foi o General Robert E. Lee.
É uma mera coincidência, ou talvez não.
O mais interessante, caro leitor, notável leitora, é que eu posso apostar de maneira até irresponsável e colocar na mesa todos os meus títulos de nobreza e lhe garantir que você não está só.
Eu diria que nem 10% da população de Cville sabe quem foi Robert E. Lee. Com certeza absoluta nem 5% dos estudantes da UVa faz a menor ideia de quem tenha sido o General Robert Lee.
Eu diria mais, até: aposto que a totalidade das pessoas envolvidas naquelas idiotices dos últimos dias não têm a menor, a mais "puta" ideia de quem foi Robert E. Lee.
Tudo começou, como bem lembrou Leandro Ruschel em seu perfil em redes sociais (veja essa história completa no perfil de Ruschel no Twitter em @leandroruschel, que levou ao seu desligamento das redes), com uma petição feita por um cidadão para que retirasse uma estátua em homenagem ao General Robert E. Lee, que ficava no Lee Park (assim se chamava o parque quando morei lá).
O Lee Park é uma pracinha bem agradável que fica ao lado do Downtown Mall, a rua principal do Centro Histórico de Cville.
Estátua de Robert E. Lee, no centro do Lee Park, atualmente Emancipation Park
É um terreno que foi doado por Paul McIntire, ex-prefeito de Cville e um dos maiores benfeitores da cidade e da Universidade. Foi um gentleman, um mecenas, um homem de valores que ao doar bens para que os atuais moradores e estudantes pudessem desfrutar do que hoje têm à disposição publicamente, apenas não deixassem esvair a memória daqueles que lutaram para construir um país hoje admirado em todo o mundo.
Não a toa a rua ao lado do Lee Park se chama McIntire Road...
A família McIntire esteve umbilicalmente ligada a história do Estado da Virginia, que, sem medo de errar, é o berço da Liberdade Mundial. Essa ligação levou os McIntire a lutarem pelo lado dos Confederados.
Paul McIntire, um "Virginia Gentleman" que não mediu esforços para fazer benfeitorias para Cville e seus cidadãos (tanto os permanentes, quanto os transitórios, estes, ligados à Universidade, como eu...)
Como complemento a tais melhorias, McIntire pediu para que se instalasse uma estátua em bronze em tamanho natural representando o General Robert E. Lee, de quem passaremos a falar. A estátua foi instalada em 1924 e a cidade sempre conviveu otimamente bem com as praças e seus monumentos públicos.
Este é um ponto turístico importantíssimo pois integra o chamado Virginia Civil War Trails.
As pessoas sempre conviveram bem, pois ao parar diante de tais lugares, sempre fizeram questão de ouvir a história do lugar e sobretudo da pessoa que se queria manter na memória de TODOS OS AMERICANOS, não somente de uma parcela deles.
A coisa começa a mudar de figura quando em 5 de junho de 2017, a cidade resolve mudar o nome de Lee Park para Emancipation Park, baseada no argumento de que o General Lee representaria a "supremacia branca" e portanto a sua memória deveria ser apagada da cidade.
Começou-se a tentar reescrever a história na marra, sem nunca se ter dado conta de todos esses fatos aqui narrados.
A sandice se seguiu com a ideia de se retirar a estátua do General Lee sob os mesmos argumentos.
A partir dai outros seres de laia pior e inquestionável se arvoraram no direito de defender o Lee Park sob o argumento da.....? supremacia branca...
Bem, completou-se a cretinice construída em cima de uma mentira.
Bastaria ter se interessado sobre a vida da família McIntire ou, mais simples, terem dado uma lida na biografia oficial de Robert Edward Lee.
Sua mais completa biografia foi escrita em 1934 por Douglas Southall Freeman. Há mais de 20 biografias sobre Lee, mas nenhuma chega próxima do trabalho de Freeman.
Freeman foi um dos mais importantes professores de história dos EUA, um jornalista admiradíssimo e uma personalidade reconhecida em todo EUA por sua luta pela ética.
Não coincidentemente, Freeman foi o vencedor do Pulitzer Prize por conta de seu trabalho de pesquisa acerca da vida de Robert Lee, resultando em uma biografia fabulosa publicada em 4 volumes. Sim - a biografia de Lee escrita por Freeman venceu o Pulitzer.
Mais tarde Freeman ainda trabalhou com afinco na biografia de George Washington, publicada em 7 volumes.
Freeman foi professor de historia e jornalismo não apenas na UVa, mas passou pela prestigiada Universidade de Columbia no Norte de Manhattan e depois encerrou carreira como Reitor da Universidade de Richmond, em Virginia.
Douglas S. Freeman, biografo de Lee
Freeman trabalhou por anos nas correspondências de Lee, todas hoje arquivadas e preservadas na Biblioteca do Congresso em Washington DC e alguns trabalhos arquivados e preservados na Biblioteca da Suprema Corte, a metros de distância da Biblioteca do Congresso.
Freeman teve em mãos material mais confiável do que qualquer especulação - ele estudou a própria voz de Lee, como General, como estrategista, como pai, como marido. As principais correspondências usadas como fonte foram as trocas de cartas com Jefferson Davis e com sua esposa.
Jefferson Davis era o governador da Virginia no período da Guerra e, portanto, o superior imediato de Lee, a quem este devia obediência marcial.
O premiado trabalho de Freeman foi recentemente resumido e se encontra a venda na Amazon aqui em volume simples apenas com highlights da vida de Lee.
Quem entretanto é bem habituado com a leitura em tela, pode ter acesso à integra do trabalho, sem custos, aqui. Com a expiração dos direitos autorais, a Universidade de Chicago colocou a íntegra do trabalho à disposição para consulta, originalmente editada pela Charles Scribner's Sons.
Não há desculpa para a ignorância quando o acesso à informação é assim tão escandalosamente fácil.
E, sei leitor, tenho ciência leitora, que se chegou até aqui, sua ansiedade por saber quem foi Lee chegou ao clímax (se é que já não foi aos links e desistiu de nós de uma ver por todas).
Aos bravos resilientes e às bravas insistentes, I give you General Lee.
Aos não iniciados na obra de Freeman, é comum associar o nome do General Robert Lee ao do "comandante das tropas Confederadas" e a do General que negociou com o General Ulisses Grant a rendição dos Estados sulistas derrotados na Guerra Civil Americana.
Como a "causa" da Guerra da Secessão é sabida (aka, o conflito tido entre abolicionistas e escravagistas), ora, quem lutou com os Confederados, que eram escravagistas, era, portanto, um escravagista e, portanto, um supremacista branco. Correto? No caso de Lee, nada pode ser mais incorreto, estúpido e errado do que isso.
Lee era um abolicionista.
Não é possível, Dom Fernandes (estou lendo a sua mente, leitor, leitora).
Repito - Lee era um ABOLICIONISTA.
Um General cujas convicções pessoais não lhe demoveram, como militar, de seu dever de obediência aos seus superiores. Lee lutou em uma causa que ele não acreditava; para ele, uma causa perdida. No pós-Guerra Lee foi a voz líder do movimento Lost Cause.
Lee é um caso clássico de "herói caído", que teve que lidar com o conflito moral de suas convicções versus seus deveres e seu compromisso com a legalidade pelo lado em que foi, sem escolhas, compelido a lutar. Lee teve que lidar o tempo todo com o conflito da deserção em prol de seu conforto moral versus o desconforto moral da convicção pessoal em face do conforto (igualmente moral) de não ser tido arrolado na história como traidor ou descumpridor de um dever legal. Lee optou pelo dever.
Uma lição para ser trabalhada não apenas na Universidade, mas, como se fazia na época de McIntire, em casa, com os filhos e nos momentos cívicos, em que as pessoas unidas discutem quais os próximos passos que podem ser dados na construção da Nação.
A carreira militar de Lee está ligada às suas origens. Filho de um ex-governador da Virginia e membro de uma founding family (a família Lee guarda registro dos primeiros habitantes que vieram da Inglaterra no início do Século XVII para fundar a Shirley Plantation). A família Lee sobreviveu a diversos colapsos econômicos mas conseguiu seguir trabalhando na construção da Colônia, ao contrário de outras famílias de fundadores, que não lograram sequer o êxito de continuar existindo.
Lee ingressou no serviço militar muito cedo e era um obcecado pela disciplina, pela legalidade, pela correção e pela justiça.
Lutou com sucesso e com bravura na Guerra Mexico-Americana em 1846. Lee, nesta guerra, lutou lado a lado com Grant, com quem desenvolveu forte admiração e respeito, sentimentos típicos da caserna e de quem combate lado a lado em defesa de uma comunidade que o militar aprende a não questionar.
Em 1859, pouco antes da Guerra, Lee tem o seu primeiro dissabor com as fake news, algo que muitos acham que se iniciou este ano, mas a biografia de Lee tem um dos maiores exemplos históricos sobre o tema. Nesse ano Lee é escalado para comandar um tropa para recapturar escravos fugidos, assunto militar por se tratar de uma controvérsia interestate. Após cumprir com o seu dever, o jornal New York Daily Tribune apresenta uma estória de recaptura completamente falsa, desmentida por Lee inúmeras vezes e comprovada por todos os seus biógrafos ter se tratado de uma estória inventada pelo tal jornal para a criação de um factóide com pretensões pouco honestas. Lee foi acusado de ter dado "corretivo" nos homens capturados, uma ilegalidade que um militar como Lee jamais cometeria ou cometeu. Em 1866, panfletos abolicionistas e revanchistas, já no pós-Guerra, teriam publicado versões de uma suposta entrevista dada pelos ex-escravos, em que Freeman, o biógrafo, destacou no premiado trabalho: "There is no evidence, direct or indirect, that Lee ever had them or any other Negroes flogged. The usage at Arlington and elsewhere in Virginia among people of Lee's station forbade such a thing. But false stories were spread, and on June 24, 1859, The New York Tribune printed two communications on the affair." (veja aqui).
Lee também teve nesta e em outras oportunidades a chance para consolidar seu entendimento a respeito da injustiça e da iniquidade redobradas que a condição escravista poderia representar; não apenas para as pessoas envolvidas na situação (no caso, os escravos), mas também pelos aproveitadores da "causa" - gente nada ligada a questões de moral ou de ética (muito pelo contrário) e que faziam do abolicionismo um grande estratagema de dominação, proselitismo e exercício transparente de hipocrisia.
Lee notou que parte do movimento abolicionista não tinha em vista as pessoas que sofriam com a escravidão. Havia uma verdadeira agenda oculta por trás dos panfletos abolicionistas.
E como forma de demonstrar o seu comprometimento com as pessoas, sem usar de panfletos, Lee, junto com sua esposa e filha, abriram uma escola ilegal para negros em Arlington, financiou do próprio bolso a libertação de inúmeros escravos, libertou todos os seus e chegou a financiar a fuga de muitos escravos para a África, já que a fuga para outros Estados abolicionistas, de acordo com a sua experiência pessoal, não garantiria a liberdade. Lee promoveu, antes da eclosão da guerra, sponte propria e do próprio bolso, algo que faria a Lista de Schindler ser uma nota de rodapé.
Próximo da eclosão da Guerra e como forma de assegurar a liberdade de alguns escravos, Lee convenceu inúmeros senhores a alistar escravos no exército Confederado para que lutassem pela própria liberdade ainda que contra a causa abolicionista.
Muito antes da Guerra Lee estava convencido de que a escravidão era uma estupidez e chegou a afirmar isso para sua esposa em missiva datada de 27 de dezembro de 1856, em que diz, dentre outras coisas que "slavery as an institution, is a moral &; political evil in any Country." A íntegra da carta pode ser lida aqui.
The views of the Pres: of the Systematic &; progressive efforts of certain people of the North, to interfere with &; change the domestic institutions of the South, are truthfully &; faithfully expressed. The Consequences of their plans &; purposes are also clearly set forth, &; they must also be aware, that their object is both unlawful &; entirely foreign to them &; their duty; for which they are irresponsible &; unaccountable; &; Can only be accomplished by them through the agency of a Civil &; Servile war. In this enlightened age, there are few I believe, but what will acknowledge, that slavery as an institution, is a moral &; political evil in any Country. It is useless to expatiate on its disadvantages. I think it however a greater evil to the white man than to the black race, &; while my feelings are strongly enlisted in behalf of the latter, my sympathies are more strong for the former.Ao fim da carta, seu background familiar, seu dever cívico, seu agudo olhar sobre as espertezas por trás da Guerra, encerram a carta com essa questão:
Is it not strange that the descendants of those pilgrim fathers who Crossed the Atlantic to preserve their own freedom of opinion, have always proved themselves intolerant of the Spiritual liberty of others?"
Lee, o homem por trás da estátua do General Robert E. Lee, foi o verdadeiro responsável pela reconciliação nacional.
Exatamente - Lee é um representante da honra, do dever, do comprometimento e sobretudo da estratégia de conciliação que nenhum outro membro do exército do Norte foi capaz.
Por gozar de respeito, admiração e reverência da parte do General Grant, com quem lutou no México e a quem teve a vida nas mãos e vice versa, Lee pode ser ouvido e uma grande nação seguiu a sua construção.
Lee não representa, nunca representou e jamais representará qualquer tipo de supremacia que não seja da honra, da lei, da piedade, da compaixão cristã e da..... RECONCILIAÇÃO.
Ao invés de agirem como um Taleban igual a foto abaixo, convidamos, antes de destruir a representação, que se perguntem porque ela está lá. Mas perguntem honestamente, sem preconceitos e estereótipos. Estudem. Conheçam. Louvem. Praise the Memory. Respeitem. Aprendam.
Reconciliem.
ReconciLEEm.
Reconcile.
ReconciLee.
Ao invés de agirem como um Taleban igual a foto abaixo, convidamos, antes de destruir a representação, que se perguntem porque ela está lá. Mas perguntem honestamente, sem preconceitos e estereótipos. Estudem. Conheçam. Louvem. Praise the Memory. Respeitem. Aprendam.
Reconciliem.
ReconciLEEm.
Reconcile.
ReconciLee.
Baderna de Brancos
Baderna de Brancos
Baderna de Brancos
Baderna de Brancos
Policial negro lidando com baderna deixada por brancos
segunda-feira, 14 de agosto de 2017
Totalitarismos "Políticos"?
Caderno de Política
por Cícero Esdraas Neemias
Nosso editor lançou a campanha NÃO TEMOS EXTREMISTAS DE ESTIMAÇÃO.
Quem acompanha este hebdo sabe disso, pois há centenas de postagens nesse sentido.
Convidou-me a escrever no Caderno de Política sobre o evento Charlottesville.
Charlottesville, para quem nos acompanha, nos é cidade caríssima - moramos lá, estudamos lá, casamos lá, voltamos para lá com nossos filhos; enfim - cada qual neste hebdo "tem lá" seus laços com a querida Cville.
As imagens são de chocar.
Mas mais do que as imagens, os comentários posteriores, esses sim, doem.
Horas e horas na frente do computador gastas para se responder à genial questão: o fascismo é de direita ou de esquerda?
Atendendo ao convite por dever de ofício, cá estamos, diante da folha em branco.
Alt-right, Alt-left, Antifa, Nazi Party, KKK, WLM, BLM, Black Panther, ISIS, Al Qaeda, White Supremacists, Black Sumpremacists, MST, MTST, Black Blocks, VPR, VAR-Palmares, POLOP, ALN, MR8, Gaviões da Fiel, Mancha Verde, Mancha Alviverde, Torcida Independente, Torcida Jovem, Sangue Jovem, Sangue Sei-Lá-o-Que: nada disso é política; nada disso é esporte.
Isso é hooliganismo.
Voltemos a falar de Política na próxima oportunidade.
Muito agradecido pela leitura.
por Cícero Esdraas Neemias
Nosso editor lançou a campanha NÃO TEMOS EXTREMISTAS DE ESTIMAÇÃO.
Quem acompanha este hebdo sabe disso, pois há centenas de postagens nesse sentido.
Convidou-me a escrever no Caderno de Política sobre o evento Charlottesville.
Charlottesville, para quem nos acompanha, nos é cidade caríssima - moramos lá, estudamos lá, casamos lá, voltamos para lá com nossos filhos; enfim - cada qual neste hebdo "tem lá" seus laços com a querida Cville.
As imagens são de chocar.
Mas mais do que as imagens, os comentários posteriores, esses sim, doem.
Horas e horas na frente do computador gastas para se responder à genial questão: o fascismo é de direita ou de esquerda?
Atendendo ao convite por dever de ofício, cá estamos, diante da folha em branco.
Alt-right, Alt-left, Antifa, Nazi Party, KKK, WLM, BLM, Black Panther, ISIS, Al Qaeda, White Supremacists, Black Sumpremacists, MST, MTST, Black Blocks, VPR, VAR-Palmares, POLOP, ALN, MR8, Gaviões da Fiel, Mancha Verde, Mancha Alviverde, Torcida Independente, Torcida Jovem, Sangue Jovem, Sangue Sei-Lá-o-Que: nada disso é política; nada disso é esporte.
Isso é hooliganismo.
Voltemos a falar de Política na próxima oportunidade.
Muito agradecido pela leitura.
domingo, 13 de agosto de 2017
Editorial
por Dom Fernandes III
Charlottesville é uma cidade muito cara neste hebdo.
Quem nos conhece sabe porque.
Este hebdo não tem "corruptos de estimação": um a um todos devem ser afastados e prestar contas de seus crimes.
Não tem também "políticos de estimação": dizer tolices não é uma virtude, nem uma desculpa e não conta com o nosso perdão.
Para que as posições deste vetusto meio fiquem claras, afirmemos aqui: NÃO TEMOS EXTREMISTAS DE ESTIMAÇÃO.
A forma mais democrática de tratar um racista é reconhecer que "racista é racista, independentemente da raça".
Energúmenos de diversos "lados" precisam estudar um pouco as razões que construíram os conceitos jurídico-sociais da PRIMEIRA EMENDA e da noção de FREEDOM OF SPEECH, sobretudo em tempos de internet livre, redes sociais e twitters da vida.
"Freedom of speech" não é dizer o que se quer e nem o pensamento goza hoje de externalidades absolutas.
A liberdade é um bem público (prometo que um dia voltaremos neste tema - por ora, ainda é cedo...).
Sabem aquela história de que a minha liberdade começa quando termina a do outro e a minha termina quando a do outro começa? Pois bem - assim como comer, beber água, dormir e outras coisas importantes, o homem precisa trabalhar e se relacionar. Vamos também deixar o trabalho para um outro dia, prometo.
Somos animais sociais por excelência. A forma mais perfeita e acabada de relação (social, que pode se desdobrar em outras afetividades) é a nossa capacidade de estabelecer empatias e concordâncias. Na base de nossa luta pela sobrevivência está a chamada arte de negociar, qual seja, a necessidade intrínseca que temos de concordar, de chegar ao sim com os nossos interlocutores.
Não a toa o Ulisses de Joyce termina com a frase cabalística de Mary Bloom: yes and his heart was going like mad and yes I said yes I will Yes.
Joyce crava um dos pontos centrais da essência humana em forma de verbo: I WILL YES.
Contestar e protestar faz parte do processo de se chegar ao sim.
O renascimento de um universo discursivo politicamente incorreto em oposição àquela visão frankfurtiana e horkheimereana que desaguou no políticamente correto de fins da Década de 1990 e que hoje beira alguns nazismos opõe o mundo, como vimos em Charlottesville, entre ódios aparentemente adversos.
São os extremistas de estimação, de lado a lado.
São, por excelência, furiosos atacantes da liberdade: são pessoas que se incomodam com o conceito público de liberdade e por isso querem partidarizá-la, de parte a parte, de lado a lado.
Se confrontam pelo confronto, pela aniquilação, basicamente.
Representam o oposto do espírito da PRIMEIRA EMENDA, algo na linha de um fuck this Court de Flynt.
Isso não é FREEDOM OF SPEECH e precisa acabar.
Os questionamentos do discurso politicamente incorreto são fatores históricos importantes, mas precisam ter a "incorreção" limitada a "política" (considerando aqui "incorreto" tanto o discurso de um lado, quanto o de outro que se intitula "correto" de forma bastante "incorreta").
Não há vítimas nesse processo, mas há muita vitimização, de parte a parte. Vence quem produzir seu cadáver primeiro.
Isso não está certo.
Isso tem que parar, já.
Chega de proselitismo, de acomodação: odiar a classe média e dizer que odeia este ou aquele, não pode ser respondido com outro discurso de ódio.
Organizações nazi-fascitas precisam ser dissolvidas, seus agentes processados e condenados e seus símbolos devidamente banidos e execrados, por gente que, acreditando na liberdade e na democracia verdadeira, NÃO TEM EXTREMISTA DE ESTIMAÇÃO.
Charlottesville é uma cidade muito cara neste hebdo.
Quem nos conhece sabe porque.
Este hebdo não tem "corruptos de estimação": um a um todos devem ser afastados e prestar contas de seus crimes.
Não tem também "políticos de estimação": dizer tolices não é uma virtude, nem uma desculpa e não conta com o nosso perdão.
Para que as posições deste vetusto meio fiquem claras, afirmemos aqui: NÃO TEMOS EXTREMISTAS DE ESTIMAÇÃO.
A forma mais democrática de tratar um racista é reconhecer que "racista é racista, independentemente da raça".
Energúmenos de diversos "lados" precisam estudar um pouco as razões que construíram os conceitos jurídico-sociais da PRIMEIRA EMENDA e da noção de FREEDOM OF SPEECH, sobretudo em tempos de internet livre, redes sociais e twitters da vida.
"Freedom of speech" não é dizer o que se quer e nem o pensamento goza hoje de externalidades absolutas.
A liberdade é um bem público (prometo que um dia voltaremos neste tema - por ora, ainda é cedo...).
Sabem aquela história de que a minha liberdade começa quando termina a do outro e a minha termina quando a do outro começa? Pois bem - assim como comer, beber água, dormir e outras coisas importantes, o homem precisa trabalhar e se relacionar. Vamos também deixar o trabalho para um outro dia, prometo.
Somos animais sociais por excelência. A forma mais perfeita e acabada de relação (social, que pode se desdobrar em outras afetividades) é a nossa capacidade de estabelecer empatias e concordâncias. Na base de nossa luta pela sobrevivência está a chamada arte de negociar, qual seja, a necessidade intrínseca que temos de concordar, de chegar ao sim com os nossos interlocutores.
Não a toa o Ulisses de Joyce termina com a frase cabalística de Mary Bloom: yes and his heart was going like mad and yes I said yes I will Yes.
Joyce crava um dos pontos centrais da essência humana em forma de verbo: I WILL YES.
Contestar e protestar faz parte do processo de se chegar ao sim.
O renascimento de um universo discursivo politicamente incorreto em oposição àquela visão frankfurtiana e horkheimereana que desaguou no políticamente correto de fins da Década de 1990 e que hoje beira alguns nazismos opõe o mundo, como vimos em Charlottesville, entre ódios aparentemente adversos.
São os extremistas de estimação, de lado a lado.
São, por excelência, furiosos atacantes da liberdade: são pessoas que se incomodam com o conceito público de liberdade e por isso querem partidarizá-la, de parte a parte, de lado a lado.
Se confrontam pelo confronto, pela aniquilação, basicamente.
Representam o oposto do espírito da PRIMEIRA EMENDA, algo na linha de um fuck this Court de Flynt.
Isso não é FREEDOM OF SPEECH e precisa acabar.
Os questionamentos do discurso politicamente incorreto são fatores históricos importantes, mas precisam ter a "incorreção" limitada a "política" (considerando aqui "incorreto" tanto o discurso de um lado, quanto o de outro que se intitula "correto" de forma bastante "incorreta").
Não há vítimas nesse processo, mas há muita vitimização, de parte a parte. Vence quem produzir seu cadáver primeiro.
Isso não está certo.
Isso tem que parar, já.
Chega de proselitismo, de acomodação: odiar a classe média e dizer que odeia este ou aquele, não pode ser respondido com outro discurso de ódio.
Organizações nazi-fascitas precisam ser dissolvidas, seus agentes processados e condenados e seus símbolos devidamente banidos e execrados, por gente que, acreditando na liberdade e na democracia verdadeira, NÃO TEM EXTREMISTA DE ESTIMAÇÃO.
segunda-feira, 7 de agosto de 2017
Gestão de Saúde Estatal
por Dom Fernandes III
Antes que atalhem a criticar as posições de nosso hebdo sem tomar conhecimento completo do que se pensa sobre o papel do Estado, falemos sobre saúde, esse bem tão caro a todos.
Seria papel do Estado cuidar da saúde de seu povo? Se sim, desde quando isso passou a ser realidade e sob quais resultados?
Muito bem...
Vamos tentar responder sem lançar mão de estatísticas e números, algo inerente ao nosso discurso e que será exceção neste texto.
Estudos históricos sobre a Saúde Pública no Brasil (veja, falamos de Saúde Pública e não de sistema de saúde estatal, que são coisas umbilicalmente diversas) são extremamente escassos.
Sempre houve saúde pública, a começar pelo trabalho das Santa Casas de Misericórdia.
A saúde sempre foi assunto associado a Fé e no Brasil, como não poderia deixar de ser, sempre esteve associada a um trabalho eminentemente cristão. Os trabalhos de religiões locais também tiveram destacado papel.
No início do Século XX alguns eventos marcaram a laicização da saúde por meio de estudos sanitaristas da Escola de Manguinhos, com Oswaldo Cruz a frente - o povo se rebelou e tivemos o evento histórico denominado Revolta da Vacina, por conta da resistência em face de uma campanha federal de vacinação obrigatória para erradicação da varíola.
O Estado volta a se envolver com saúde pública durante a ditadura Vargas. Não coincidentemente o ditador cria o Ministério da Educação e Saúde.
Estatizar educação e saúde sempre foi uma pauta importante do nacional-socialismo e Vargas seguiu a receita nem sequer disfarçando sobre a alocação ideológica dos temas.
O peleguismo de Vargas coloca a frente do controle do ensino e da saúde os usuais apoiadores ligados a sindicatos, no melhor estilo mussoliniano, repetido décadas depois por Lula.
O conceito de saúde pública de Vargas, contudo, segue o padrão republicando anterior associado exclusivamente a medidas sanitaristas.
Pulemos o lado fascista de Vargas, que entregou vários judeus para Hitler usando o sistema de saúde estatal e passemos para o período democrático, quando o tema se amaina e os Institutos de Pensões criados por Vargas entram em regime de co-gestão, com parte paga pelo trabalhador-empregado e parte paga pelo empresário. Pela primeira vez no Brasil com JK na Presidência o trabalho (qual seja, o emprego) passa a ser a mola propulsora de um sistema unificado de saúde pública não-estatal.
Muito antes do Obamacare, o JK-care privilegiou o emprego para assegurar um sistema de saúde universal sem a intervenção do Estado e administrado pelo setor produtivo diretamente.
Quando o regime Militar cria o INPS em 1967 e dele desdobra o INAMPS em 1978, a estatização do sistema de saúde iniciada por Vargas (e interrompida por JK) se completa.
Com a Constituição de 1988 esse sistema é reformado e surge o SUS.
Paralelamente desenvolveu-se um sistema complementar privado de planos e seguros-saúde, altamente regulado e sob intervenção estatal, convergindo para o atual estágio caótico que conhecemos no Brasil.
Note-se contudo que a crise no setor anda de mãos dadas com o estrago feito por Rousseff na economia como um tudo (portanto, não foi só uma borboleta azul como se prega por ai...).
O desemprego sobrecarrega o sistema básico e o emprego o torna descarregado: 1) porque o cidadão empregado deixará de usar o sistema único estatal para usar o sistema complementar que seu empregador oferece; 2) porque quem não consegue usar um sistema privado em tempos de bonança em que quase todos o possuem, fatalmente se depara com uma "concorrência" muito menor.
O emprego, acompanhado de um seguro-saúde, dilui a assistência pública a saúde e o condiciona a um equilíbrio natural entre o estatal e o público financiado pelo privado; a desocupação gera o oposto e explode ambos.
Apesar dos pesares, o sistema estatal mostrou-se verdadeira fraude (em todos os sentidos): seja sob aspecto da corrupção de sanguessugas e programas cubanos, seja sob o ponto de vista do descaso, que levou Rousseff a uma das maiores aberrações no âmbito da saúde universal no Brasil - sim, ele: o tal Médico Sem Fronteiras ou, sem meias-palavras, o Cuba-care.
O caso dos médicos cubanos no Brasil é uma das maiores cenas de pastelão feitas com dinheiro público e com um assunto seríssimo: nunca se pensou em desonerações e melhorias para aumentar a oferta de recursos com material disponível no país; e limitou-se as "fronteiras" a... Cuba!
Desse descaso surgiu o caos.
Esse caos que hoje se vive em um universo que tem por premissa varguista que saúde é tema estatal.
Bem, todos sabem a diferença entre o estatal e o não-estatal: este está sujeito a falência ou a liquidação por insolvência, o estatal nunca.
Desta forma, no âmbito estatal nada impede que alguém se trate em um hospital falido; no não-estatal, a própria natureza (econômica, sanitária, médica...) impedirá.
Ah, Albert Einstein, se todos fossem iguais a você...
Antes que atalhem a criticar as posições de nosso hebdo sem tomar conhecimento completo do que se pensa sobre o papel do Estado, falemos sobre saúde, esse bem tão caro a todos.
Seria papel do Estado cuidar da saúde de seu povo? Se sim, desde quando isso passou a ser realidade e sob quais resultados?
Muito bem...
Vamos tentar responder sem lançar mão de estatísticas e números, algo inerente ao nosso discurso e que será exceção neste texto.
Estudos históricos sobre a Saúde Pública no Brasil (veja, falamos de Saúde Pública e não de sistema de saúde estatal, que são coisas umbilicalmente diversas) são extremamente escassos.
Sempre houve saúde pública, a começar pelo trabalho das Santa Casas de Misericórdia.
A saúde sempre foi assunto associado a Fé e no Brasil, como não poderia deixar de ser, sempre esteve associada a um trabalho eminentemente cristão. Os trabalhos de religiões locais também tiveram destacado papel.
No início do Século XX alguns eventos marcaram a laicização da saúde por meio de estudos sanitaristas da Escola de Manguinhos, com Oswaldo Cruz a frente - o povo se rebelou e tivemos o evento histórico denominado Revolta da Vacina, por conta da resistência em face de uma campanha federal de vacinação obrigatória para erradicação da varíola.
O Estado volta a se envolver com saúde pública durante a ditadura Vargas. Não coincidentemente o ditador cria o Ministério da Educação e Saúde.
Estatizar educação e saúde sempre foi uma pauta importante do nacional-socialismo e Vargas seguiu a receita nem sequer disfarçando sobre a alocação ideológica dos temas.
O peleguismo de Vargas coloca a frente do controle do ensino e da saúde os usuais apoiadores ligados a sindicatos, no melhor estilo mussoliniano, repetido décadas depois por Lula.
O conceito de saúde pública de Vargas, contudo, segue o padrão republicando anterior associado exclusivamente a medidas sanitaristas.
Pulemos o lado fascista de Vargas, que entregou vários judeus para Hitler usando o sistema de saúde estatal e passemos para o período democrático, quando o tema se amaina e os Institutos de Pensões criados por Vargas entram em regime de co-gestão, com parte paga pelo trabalhador-empregado e parte paga pelo empresário. Pela primeira vez no Brasil com JK na Presidência o trabalho (qual seja, o emprego) passa a ser a mola propulsora de um sistema unificado de saúde pública não-estatal.
Muito antes do Obamacare, o JK-care privilegiou o emprego para assegurar um sistema de saúde universal sem a intervenção do Estado e administrado pelo setor produtivo diretamente.
Quando o regime Militar cria o INPS em 1967 e dele desdobra o INAMPS em 1978, a estatização do sistema de saúde iniciada por Vargas (e interrompida por JK) se completa.
Com a Constituição de 1988 esse sistema é reformado e surge o SUS.
Paralelamente desenvolveu-se um sistema complementar privado de planos e seguros-saúde, altamente regulado e sob intervenção estatal, convergindo para o atual estágio caótico que conhecemos no Brasil.
Note-se contudo que a crise no setor anda de mãos dadas com o estrago feito por Rousseff na economia como um tudo (portanto, não foi só uma borboleta azul como se prega por ai...).
O desemprego sobrecarrega o sistema básico e o emprego o torna descarregado: 1) porque o cidadão empregado deixará de usar o sistema único estatal para usar o sistema complementar que seu empregador oferece; 2) porque quem não consegue usar um sistema privado em tempos de bonança em que quase todos o possuem, fatalmente se depara com uma "concorrência" muito menor.
O emprego, acompanhado de um seguro-saúde, dilui a assistência pública a saúde e o condiciona a um equilíbrio natural entre o estatal e o público financiado pelo privado; a desocupação gera o oposto e explode ambos.
Apesar dos pesares, o sistema estatal mostrou-se verdadeira fraude (em todos os sentidos): seja sob aspecto da corrupção de sanguessugas e programas cubanos, seja sob o ponto de vista do descaso, que levou Rousseff a uma das maiores aberrações no âmbito da saúde universal no Brasil - sim, ele: o tal Médico Sem Fronteiras ou, sem meias-palavras, o Cuba-care.
O caso dos médicos cubanos no Brasil é uma das maiores cenas de pastelão feitas com dinheiro público e com um assunto seríssimo: nunca se pensou em desonerações e melhorias para aumentar a oferta de recursos com material disponível no país; e limitou-se as "fronteiras" a... Cuba!
Desse descaso surgiu o caos.
Esse caos que hoje se vive em um universo que tem por premissa varguista que saúde é tema estatal.
Bem, todos sabem a diferença entre o estatal e o não-estatal: este está sujeito a falência ou a liquidação por insolvência, o estatal nunca.
Desta forma, no âmbito estatal nada impede que alguém se trate em um hospital falido; no não-estatal, a própria natureza (econômica, sanitária, médica...) impedirá.
Ah, Albert Einstein, se todos fossem iguais a você...
terça-feira, 25 de julho de 2017
Ensino Público Não-Estatal
por Dom Fernandes III
Vez por outra, nossa pauta editorial é interrompida, mas sempre por boas e, frequentemente, por ótimas razões.
Desta vez atalhou-nos discussão sobre o papel do Ensino (público) na sociedade e a quem caberia promovê-lo, geri-lo e administrá-lo.
Defensores do liberalismo clássico e do Estado mínimo regularmente flertam com ideias de Bem Estar Social, uma tendência que não é propriamente liberal e nem tampouco conservadora, mas seduz pelo potencial que já nos produziu em um universo "blue pill".
Estamos mais do que acostumados a considerar que o Estado mínimo é uma saída interessante pela sedução que nos produz o ideário do Estado de Bem Estar Social, que, recentemente vem alimentado boa parte da esquerda progressista a um fenômeno que vem sendo chamado de ordocapitalismo.
A linha editorial deste hebdo é contrária a essa tendência: é abertamente anarcocapitalista ao modo friedmaniano.
Por isso não nos constrange retirar da pauta estatal todo e qualquer tema que não seja relacionado (por ora) a segurança nacional, nos mesmos termos em que sustentou David Director Friedman em seu The Machinery of Freedom.
Sempre nos ocorreu como óbvia a ideia de que não cabe ao Estado intervir, promover, controlar, enfim, sequer chegar perto de temas como educação, saúde, infraestrutura, saneamento básico, pesquisa, transporte público, logística (linhas férreas, portos, aeroportos) e por ai vai.
No ordocapitalismo, uma espécie de "nova esquerda" vem surgindo alimentando a ideia de que a presença do Estado nesses temas é essencial.
E a verdade é que essa presença é essencial apenas e tão somente para quem vem se servindo do Estado. Em países em que o Estado serve as pessoas e não o contrário, o conceito de público e estatal são bastante diferentes.
O fenômeno e as preocupações não são locais e nem exclusividade do Brasil. Na matriz do tema em Machinery of Freedom o próprio Friedman discute profundamente o sistema que ele bem conhece, o dos EUA.
O sistema japonês é também digno de observação e o debate sobre os rumos das escolas nos dá inúmeros indicativos do que Friedman alertou décadas atrás. Não nos acudimos do que vinha ocorrendo e hoje temos um sistema de ensino completamente apodrecido no Brasil: situação que debitamos 100% ao fenômeno da presença estatal absoluta e da ausência total da sociedade nos rumos da educação.
A sociedade entregou seus filhos para o Estado cuidar e hoje colhe resultados doloridos e, o que espanta, insiste em paliativos como "escola sem partido" ou em ladainhas ordocapitalistas de que o ensino público era bom na época da minha avó e hoje não é mais.
Veja-se a USP: a deterioração demorou muito mais que no ensino básico, mas foi mais eficaz, efetiva e destrutiva. O estado das coisas na USP hoje em dia a torna um zumbi do ensino internacional.
Isso tudo ocorreu historicamente com o crescimento da presença do Estado no sistema de ensino.
Essa presença, diga-se de passagem, se torna incontestável a partir do fim da II Guerra.
Antes disso, o ensino Estatal era representado por pouquíssimas instituições como o Colégio Pedro II no Rio de Janeiro, o Caetano de Campos em São Paulo e as inúmeras escolas militares no Brasil.
Com o advento da USP durante a ditadura Vargas e a criação de um sistema varguista de ensino, dividido por departamentos e por hierarquias moldadas em sistemas soviéticos de ensino, montamos o nosso modelo e até hoje convivemos com ele.
Nesse sistema o Estado "deita o couro" e não tem pudores de "problematizar" desde as ervilhas de Mendel até uma fórmula algébrica simples, passando pela opressão na equação de Torricelli e sobre as inconsistências históricas de Parmênides ou Galileu (visto como uma vítima das elites e por ai vai...).
Já vi e ouvi, do Infantil I a teses de livre-docência, barbaridades incríveis pagas com imposto e com recursos públicos. Trens da alegria intermináveis pela Europa, sem um mínimo de resultado ou seriedade. Essa é a verdadeira face do ensino estatal brasileiro que muitos acham que a "escola sem partido" é a panaceia para curar um tumor central instalado no ensino brasileiro - o Estado.
Temos a visão turvada hoje de que sem o Estado não há vida inteligente no universo da educação, muito porque ao pensar nesse universo, pensamos nas Uninoves e nos esquecemos da FGV, do Ibmec, da Santa Casa, do Einstein e do Insper.
E o ponto não é ainda esse.
Se recuarmos para o período anterior à implementação do ensino departamental varguista, vamos notar que o Ensino e a Educação (que são coisas diferentes) sempre existiram de forma independente dos Estados.
Mais: vamos notar que na origem do conceito de corporation, Lord Kent em 1826 ou até mesmo George Caines em 1609 nos ensinarão que há uma organização social chamada university ou os colleges.
Nos EUA os colleges mais famosos são anteriores à própria existência da Nação Americana.
No Brasil item: nossa história de povoamento começa com um certo... Pátio do Colégio.
Recuemos mais (como fez Lord Kent, até os tempos "imemoriais"): a própria noção de universidade é anterior a de Estado - as primeiras universidades europeias são do Século XIII e há universidades inglesas e escocesas que remontam ao Século VIII.
O modelo do Século XIII foi uma revolução, iniciada em Bolonha, uma das universidades mais antigas do mundo e seguia lá o conceito de "público" não estatal: a "coroa", os "barões" ou o que quer que seja não tinham qualquer ingerência no "funding" dessas escolas. O ensino passa a ser "público" pois não era mais "privado", qual seja, os professores não iam mais a Casa dos alunos para lhes lecionar (hoje só os professores de música mantém o esquema vetusto). Tudo passava a ser administrado em um centro de estudos unificado onde os filhos eram entregues para se "formarem".
Esse modelo foi revolucionário pois sendo exceção, passa a ser regra, passa a universalizar-se (dai o nome..., universidade).
A universalização do ensino, tornando-o público (mas jamais estatal) foi o ideal ocidental que nos trouxe até os dias atuais. E sempre funcionou bem.
Os fundadores desse modelo foram os gregos.
O Lyceum de Sócrates (herdado posteriormente por Platão) e a Academia de Aristóteles (moldada no Lyceum) são exemplos ideais desse modelo público não-estatal.
A Educação e o Ensino, desde Sócrates, passando por Comênio e chegando no curioso autodidatismo de Machado de Assis sempre funcionou de maneira espetacular em distância absoluta do Estado, que surge na história bem depois e se presta a papéis, no pós-Guerra, que desviam sua função hobbesiana de instrumento de monopólio de solução de conflitos e, sobretudo, de monopólio de violência legal.
Muitos dirão entretanto que o acesso aos mais pobres desse ensino universal e universalizado só é possível se o Estado cuidar disso para nós: e sabemos, essa ideia é tão falsa quanto uma nota de 3 dolares.
A noção hipnótica de que ao pagarmos imposto temos direito a um ensino público e gratuito de qualidade se esvai na primeira aula de matemática dada por um professor da rede pública concursado e escolhido pelos padrões exigidos por um estado contaminado por ideologias de partido e um sistema de corrupção tão violento quanto o visto na Petrobras.
Essa corrupção e esse desassombro todo aprende-se na escola, na universidade: exatamente naquele lugar em que professores da rede pública acessam cargos que cidadãos normais nem chegam perto.
São as escolas estatais que ensinam nossos filhos a relativizar o mal da corrupção e a desprezar a meritocracia para privilegiar quotas ou percentuais. Elas ensinam pelo exemplo que a prática do toma-lá-dá-cá é o que os fará cidadãos de sucesso - formas enviesadas de "ajuda ao próximo" travestidas em negociações de "vagas" (pelos alunos) e cargos (pelos docentes).
Recente escândalo envolvendo os gastos com ProUni e com FIES são a outra face de uma moeda de provável argumento de saída pela direta ou por meio do ensino exclusivamente privado: acesso esse que sem a mão do Estado, parece ser impossível, o que nos torna lenientes a tolerar corrupção e descalabro em troca do "bem maior", o do ensino público, universal, gratuito e de suposta qualidade para todos.
No meio do debate nos acomodamos, mais uma vez, com o nosso "vício de insistir nessa saudade que sentimos" desse Estado tão canalha e tão cafajeste e tão apaixonante ao mesmo tempo.
Justamente porque o imposto a ser pago já está ali, o ensino já está nas mãos do Estado e assim por diante...
Mas e se...? E se..., de repente, imaginamos, como numa Utopia, que o Estado morre, tal qual o Deus de Nietzche? Morreria com ele o ensino? Morreria com ele a educação?
E os pobres?
Esquecemos de pensar no conceito próprio de Estado, de tributo (o "funding" de tudo), de crédito, de seguro.
Pagamos ao Estado para que ele faça por nós. Mas e se pagarmos a uma seguradora, da mesma forma que fazemos com o conceito de "seguro saúde"? Sabemos que o "uso" do ensino se dá de maneira contínua e o da saúde não... mas, ao contrário da saúde o "uso" do ensino é calculável e limitado no tempo. E se, ao não termos recursos, empenhemos nosso futuro a quem nos ensinou (bolsa de estudos, crédito estudantil amplo, irrestrito e com juros baratos e subsidiados)? Resolveria para os pobres ou pessoas de baixa renda que devem se educar? E se dentre os "fringe benefits" de um emprego, além de plano de saúde os funcionários de empresas possam gozar de "bolsas de estudo" para seus filhos?
E se a educação nacional ficar restrita, como sempre foi ao longo de 5000 anos de história, ao ensino pelas escolas militares?
As escolas estão na origem da sociedade - não estão, porém, na origem do Estado (como fica claro no recente trabalho de Francis Fukuyama sobre as "Origens da Política").
Entregá-las aos Estados foi o grande e fundamental erro do qual não conseguimos sair, nem mesmo quando escolas fazem algo que, mais do que um paradoxo, é um oxímoro: entram em greve.
A cada greve reclamamos e esperamos a "paralização" e o "Fora Sei lá o Que" se esvair no ar para iniciarmos as reposições nas férias...
E assim caminha a escola estatal que, mais do que sem partidos, é, pior, de todos os partidos sem nunca mais ter sido, simplesmente, universal.
Vez por outra, nossa pauta editorial é interrompida, mas sempre por boas e, frequentemente, por ótimas razões.
Desta vez atalhou-nos discussão sobre o papel do Ensino (público) na sociedade e a quem caberia promovê-lo, geri-lo e administrá-lo.
Defensores do liberalismo clássico e do Estado mínimo regularmente flertam com ideias de Bem Estar Social, uma tendência que não é propriamente liberal e nem tampouco conservadora, mas seduz pelo potencial que já nos produziu em um universo "blue pill".
Estamos mais do que acostumados a considerar que o Estado mínimo é uma saída interessante pela sedução que nos produz o ideário do Estado de Bem Estar Social, que, recentemente vem alimentado boa parte da esquerda progressista a um fenômeno que vem sendo chamado de ordocapitalismo.
A linha editorial deste hebdo é contrária a essa tendência: é abertamente anarcocapitalista ao modo friedmaniano.
Por isso não nos constrange retirar da pauta estatal todo e qualquer tema que não seja relacionado (por ora) a segurança nacional, nos mesmos termos em que sustentou David Director Friedman em seu The Machinery of Freedom.
Sempre nos ocorreu como óbvia a ideia de que não cabe ao Estado intervir, promover, controlar, enfim, sequer chegar perto de temas como educação, saúde, infraestrutura, saneamento básico, pesquisa, transporte público, logística (linhas férreas, portos, aeroportos) e por ai vai.
No ordocapitalismo, uma espécie de "nova esquerda" vem surgindo alimentando a ideia de que a presença do Estado nesses temas é essencial.
E a verdade é que essa presença é essencial apenas e tão somente para quem vem se servindo do Estado. Em países em que o Estado serve as pessoas e não o contrário, o conceito de público e estatal são bastante diferentes.
O fenômeno e as preocupações não são locais e nem exclusividade do Brasil. Na matriz do tema em Machinery of Freedom o próprio Friedman discute profundamente o sistema que ele bem conhece, o dos EUA.
O sistema japonês é também digno de observação e o debate sobre os rumos das escolas nos dá inúmeros indicativos do que Friedman alertou décadas atrás. Não nos acudimos do que vinha ocorrendo e hoje temos um sistema de ensino completamente apodrecido no Brasil: situação que debitamos 100% ao fenômeno da presença estatal absoluta e da ausência total da sociedade nos rumos da educação.
A sociedade entregou seus filhos para o Estado cuidar e hoje colhe resultados doloridos e, o que espanta, insiste em paliativos como "escola sem partido" ou em ladainhas ordocapitalistas de que o ensino público era bom na época da minha avó e hoje não é mais.
Veja-se a USP: a deterioração demorou muito mais que no ensino básico, mas foi mais eficaz, efetiva e destrutiva. O estado das coisas na USP hoje em dia a torna um zumbi do ensino internacional.
Isso tudo ocorreu historicamente com o crescimento da presença do Estado no sistema de ensino.
Essa presença, diga-se de passagem, se torna incontestável a partir do fim da II Guerra.
Antes disso, o ensino Estatal era representado por pouquíssimas instituições como o Colégio Pedro II no Rio de Janeiro, o Caetano de Campos em São Paulo e as inúmeras escolas militares no Brasil.
Com o advento da USP durante a ditadura Vargas e a criação de um sistema varguista de ensino, dividido por departamentos e por hierarquias moldadas em sistemas soviéticos de ensino, montamos o nosso modelo e até hoje convivemos com ele.
Nesse sistema o Estado "deita o couro" e não tem pudores de "problematizar" desde as ervilhas de Mendel até uma fórmula algébrica simples, passando pela opressão na equação de Torricelli e sobre as inconsistências históricas de Parmênides ou Galileu (visto como uma vítima das elites e por ai vai...).
Já vi e ouvi, do Infantil I a teses de livre-docência, barbaridades incríveis pagas com imposto e com recursos públicos. Trens da alegria intermináveis pela Europa, sem um mínimo de resultado ou seriedade. Essa é a verdadeira face do ensino estatal brasileiro que muitos acham que a "escola sem partido" é a panaceia para curar um tumor central instalado no ensino brasileiro - o Estado.
Temos a visão turvada hoje de que sem o Estado não há vida inteligente no universo da educação, muito porque ao pensar nesse universo, pensamos nas Uninoves e nos esquecemos da FGV, do Ibmec, da Santa Casa, do Einstein e do Insper.
E o ponto não é ainda esse.
Se recuarmos para o período anterior à implementação do ensino departamental varguista, vamos notar que o Ensino e a Educação (que são coisas diferentes) sempre existiram de forma independente dos Estados.
Mais: vamos notar que na origem do conceito de corporation, Lord Kent em 1826 ou até mesmo George Caines em 1609 nos ensinarão que há uma organização social chamada university ou os colleges.
Nos EUA os colleges mais famosos são anteriores à própria existência da Nação Americana.
No Brasil item: nossa história de povoamento começa com um certo... Pátio do Colégio.
Recuemos mais (como fez Lord Kent, até os tempos "imemoriais"): a própria noção de universidade é anterior a de Estado - as primeiras universidades europeias são do Século XIII e há universidades inglesas e escocesas que remontam ao Século VIII.
O modelo do Século XIII foi uma revolução, iniciada em Bolonha, uma das universidades mais antigas do mundo e seguia lá o conceito de "público" não estatal: a "coroa", os "barões" ou o que quer que seja não tinham qualquer ingerência no "funding" dessas escolas. O ensino passa a ser "público" pois não era mais "privado", qual seja, os professores não iam mais a Casa dos alunos para lhes lecionar (hoje só os professores de música mantém o esquema vetusto). Tudo passava a ser administrado em um centro de estudos unificado onde os filhos eram entregues para se "formarem".
Esse modelo foi revolucionário pois sendo exceção, passa a ser regra, passa a universalizar-se (dai o nome..., universidade).
A universalização do ensino, tornando-o público (mas jamais estatal) foi o ideal ocidental que nos trouxe até os dias atuais. E sempre funcionou bem.
Os fundadores desse modelo foram os gregos.
O Lyceum de Sócrates (herdado posteriormente por Platão) e a Academia de Aristóteles (moldada no Lyceum) são exemplos ideais desse modelo público não-estatal.
A Educação e o Ensino, desde Sócrates, passando por Comênio e chegando no curioso autodidatismo de Machado de Assis sempre funcionou de maneira espetacular em distância absoluta do Estado, que surge na história bem depois e se presta a papéis, no pós-Guerra, que desviam sua função hobbesiana de instrumento de monopólio de solução de conflitos e, sobretudo, de monopólio de violência legal.
Muitos dirão entretanto que o acesso aos mais pobres desse ensino universal e universalizado só é possível se o Estado cuidar disso para nós: e sabemos, essa ideia é tão falsa quanto uma nota de 3 dolares.
A noção hipnótica de que ao pagarmos imposto temos direito a um ensino público e gratuito de qualidade se esvai na primeira aula de matemática dada por um professor da rede pública concursado e escolhido pelos padrões exigidos por um estado contaminado por ideologias de partido e um sistema de corrupção tão violento quanto o visto na Petrobras.
Essa corrupção e esse desassombro todo aprende-se na escola, na universidade: exatamente naquele lugar em que professores da rede pública acessam cargos que cidadãos normais nem chegam perto.
São as escolas estatais que ensinam nossos filhos a relativizar o mal da corrupção e a desprezar a meritocracia para privilegiar quotas ou percentuais. Elas ensinam pelo exemplo que a prática do toma-lá-dá-cá é o que os fará cidadãos de sucesso - formas enviesadas de "ajuda ao próximo" travestidas em negociações de "vagas" (pelos alunos) e cargos (pelos docentes).
Recente escândalo envolvendo os gastos com ProUni e com FIES são a outra face de uma moeda de provável argumento de saída pela direta ou por meio do ensino exclusivamente privado: acesso esse que sem a mão do Estado, parece ser impossível, o que nos torna lenientes a tolerar corrupção e descalabro em troca do "bem maior", o do ensino público, universal, gratuito e de suposta qualidade para todos.
No meio do debate nos acomodamos, mais uma vez, com o nosso "vício de insistir nessa saudade que sentimos" desse Estado tão canalha e tão cafajeste e tão apaixonante ao mesmo tempo.
Justamente porque o imposto a ser pago já está ali, o ensino já está nas mãos do Estado e assim por diante...
Mas e se...? E se..., de repente, imaginamos, como numa Utopia, que o Estado morre, tal qual o Deus de Nietzche? Morreria com ele o ensino? Morreria com ele a educação?
E os pobres?
Esquecemos de pensar no conceito próprio de Estado, de tributo (o "funding" de tudo), de crédito, de seguro.
Pagamos ao Estado para que ele faça por nós. Mas e se pagarmos a uma seguradora, da mesma forma que fazemos com o conceito de "seguro saúde"? Sabemos que o "uso" do ensino se dá de maneira contínua e o da saúde não... mas, ao contrário da saúde o "uso" do ensino é calculável e limitado no tempo. E se, ao não termos recursos, empenhemos nosso futuro a quem nos ensinou (bolsa de estudos, crédito estudantil amplo, irrestrito e com juros baratos e subsidiados)? Resolveria para os pobres ou pessoas de baixa renda que devem se educar? E se dentre os "fringe benefits" de um emprego, além de plano de saúde os funcionários de empresas possam gozar de "bolsas de estudo" para seus filhos?
E se a educação nacional ficar restrita, como sempre foi ao longo de 5000 anos de história, ao ensino pelas escolas militares?
As escolas estão na origem da sociedade - não estão, porém, na origem do Estado (como fica claro no recente trabalho de Francis Fukuyama sobre as "Origens da Política").
Entregá-las aos Estados foi o grande e fundamental erro do qual não conseguimos sair, nem mesmo quando escolas fazem algo que, mais do que um paradoxo, é um oxímoro: entram em greve.
A cada greve reclamamos e esperamos a "paralização" e o "Fora Sei lá o Que" se esvair no ar para iniciarmos as reposições nas férias...
E assim caminha a escola estatal que, mais do que sem partidos, é, pior, de todos os partidos sem nunca mais ter sido, simplesmente, universal.
quarta-feira, 19 de julho de 2017
Parlamentarismo
Caderno de Política
por Cícero Esdras Neemias
Temos estado em falta na nossa série de artigos sobre democracia direta dentro do conceito anarcocapitalista que orienta as pautas editorias deste hebdo, desde a sua criação no Século XV.
Falamos já sobre a necessária extinção do Legislativo (sim, defendemos com dados práticos e tecnológicos, aliados a sustentação teórica, de que a ideia de "grupão de whatsapp" não é de todo tola), sobre o fim do federalismo (essa coisa absolutamente tosca, cara, inútil e que funciona como se fosse uma Série B da política nacional sem trazer absolutamente nada em troca para os cidadãos), sobre o fim do STF (o mal da nossa justiça não são os recursos, não são os processos, não é nada disso - mas é a forma como o país se acostumou a fazer uso desse estrôncio chamado STF e a usar o tão malfadado "controle difuso de constitucionalidade" por meio de um mecanismo estúpido como o "recurso extraordinário"), a extinção da Justiça Eleitoral e a criação de uma enorme agência eleitoral que cuidaria essencialmente de eleições, recall e aprovação de leis. As demais funções do legislativo já são exercidas de forma muito mais eficaz, barata e honesta por outros órgãos. Já, na essência funcional, a democracia direta (com todos os defeitos de nosso povo) há de dar melhores resultados do que aqueles que temos visto no Legislativo hoje em dia. Outro ponto é a extinção dos partidos como único meio de acesso a cargos que falamos alhures e voltaremos em outro texto.
A extinção do legislativo, a mais importante de todas, eliminaria de chofre a indústria das pesquisas, o lobby, a democracia de coalização e seu aparato corruptivo, as campanhas (financiadas pelo público ou pelo Estado, como queira - cuja boca maior de recursos está no financiamento para o legislativo), os troca-trocas em Ministérios, as emendas ao orçamento, o "tomá-lá-dá-cá", as alianças, as trocas de partido, bem como os inúteis tribunais de contas, seguido de todo aparato patrimonial que consome recursos imensos com zero de benefício para o cidadão e muitos gargalos para privilégios privados e particulares (prédios, apartamentos funcionais, frotas de automóveis, móveis, contas de luz, água, telefone, computadores, maletas antigrampo, grampos, verbas, passagens aéreas, vagas de estacionamento, restaurantes, comidas, bebidas, cargos comissionados, assessores, amigos de assessores, roupas de assessores, viagens de assessores...).
O fim dessa farra chamada Poder Legislativo está baseado em uma premissa básica do anarcocapitalismo político: a democracia só existe de verdade se as decisões são desintermediadas.
A extinção de todos esses intermediários (deputados e senadores, estados da federação, partidos, cortes especiais de "3a instância" como TSE e TST, e essa noção de uma corte superior que custa caro e interfere com mirrados resultados positivos e inúmeros desastrosos - STF, sim, é de você que falo!), enfim, obedece a um princípio de autogoverno em que as pessoas decidem diretamente por intermédio do uso de tecnologia e de mecanismos de averiguação de escolhas que sejam auditadas e confiáveis. Até Marx quis isso mas nunca soube como fazer (dizia que o melhor jeito seria fazê-lo na porrada, mas o vadio Marx esqueceu da premissa básica de que quem bate esquece e quem apanha nunca esquece). A revolução francesa não chegou tão próxima quanto a americana, mas desafortunadamente o pós-Guerra agigantou o Estado e até os EUA hoje não sabem como voltar aos princípios básicos de sociedade ensinados por Jefferson.
Noves fora históricos, a tecnologia que hoje nos apresenta e o nosso clima político são o momento e as circunstâncias ideias para essa revolução pacífica e centrada na tecnologia.
Sei que o Brasil não quer, mas caso queira, temos tudo para implementar já um autogoverno em que a classe privilegiada de Brasilia (sobretudo a legislativa) cai para um estado de produção semelhante a todos os demais cidadãos: terá que trabalhar para conseguir dinheiro e é ai que pode residir o problema. O. de Carvalho já lembrou que a luta hoje não é ideológica nem partidária: é uma batalha por MEIO DE ATUAÇÃO ou por MEIOS DE AÇÃO.
Temos até mecanismos de implementação imediata para democratizar radicalmente os MEIOS DE AÇÃO: transfiram-se todos os contratos e obrigações da Caixa Econômica Federal para o Banco do Brasil (para que dois bancos estatais? - só a corrupção explica), liquide-se a pessoa jurídica CEF e pegue-se o acervo patrimonial da CEF (imóveis e ativo fixo e permanente, sobretudo) e pregue-se outro rótulo - Agência Brasileira Legislativo-Eleitoral.
Cada cidadão, portando o seu título ou RG, poderá ir até a uma antiga agência CEF, transformada em agência da ABLE e votar leis, escolher mandatários e pedir sua saída, sempre diretamente. Vence a maioria. Ponto. Sempre.
Deu maioria? Então está decidido. A constituição deveria servir apenas para estabelecer os quoruns e as matérias não sujeitas a voto (inalienáveis - "pena de morte", por exemplo ou temas relacionados ao "direito a vida", o "direito a liberdade" e o "direito de propriedade"). No mais, a regra é, "deu maioria, é lei", "deu maioria, tá eleito", "deu maioria, desocupa". E digo aqui maioria em referência sempre à maioria do número de eleitores. O jogo político muda e com votações facultativas, alcançar as maiorias será sempre um ato de mobilização política intensa e baseada no debate. Qual seja, "porrada" nunca será capaz de mudar o que depende diretamente da maioria, sempre.
As agências funcionariam de 2a a sábado das 7 da manhã as 10 da noite para quem gosta de comparecer pessoalmente para exercer seus direitos de escolha. Para quem não tem tempo a perder, faz-se por aplicativo no celular, site na internet, enfim, pelos meios inteligentes disponíveis, por token, chaves públicas, digital no celular - enfim, meios para implementar com segurança é o que não falta (aliás, mais seguros do que os que temos hoje ou tivemos no passado). Não precisaríamos de "pesquisa" pois a escolha real e verdadeira seria acompanhada constantemente. O lobby desapareceria e a influência seria direta. As redes sociais ganhariam outro peso e outro valor.
Esse tipo de e-government já é realidade em alguns lugares, mas, como sempre, em termos de democracia o Brasil está atrasado e muito preocupado em usá-la para exercer um eterno mi-mi-mi.
Pesquisem sobre a Lituânia e a Estônia se tiverem tempo ou paciência. Esse tipo de iniciativa, também conhecida como cyberdemocracia ou e-government tende a substituir a velha política onde a impossibilidade de reunião em ágora recomendava a implementação de uma democracia por representação. Hoje a reunião em ágora é realidade possível e pulsante - está acontecendo nas redes sociais 24 horas por dia todos os dias sem feriado nem interrupção. Isso nunca houve na história.
Temos discutido esses temas, falado sobre essas ideias, quando de repente, não mais que de repente, surgem polêmicas energúmenas e dignas de se esconder embaixo da mesa, tornando a intermediação mais intermediada ainda: é a incrível ideia de colocar o parlamentarismo como solução da crise atualmente vivida no Brasil.
Tiramos o pouco de decisão direta que temos e transferimos para intermediários, criando uma derivada a mais da distância entre o cidadão e o Estado.
É absolutamente incrível que se leia em meios, os textos de "defensores de parlamentarismo" tergiversando sobre o tema e debatendo com "presidencialistas" se esse regime, caso fosse implantado hoje, seria um "golpe" ou se seria solução ou falsa panaceia.
É, antes de tudo, um anabolizante de intermediação.
O parlamentarismo resolverá a vida de muitos, melhor, de todos - todos aqueles que se encontram na mira da polícia e sob suspeita na Operação Lavajato, isso sim.
Seria a comédia do Milênio - aquilo que levou a Itália para as Mani Pulite seria exatamente o que destruiria a nossa Lavajato.
Da ideias imbecis, talvez essa seja uma das maiores, junto de outras que reforçam a intermediação e tratam o dono do título de eleitor com um misto de desprezo e medo.
Coprodebates abundam no Brasil...
por Cícero Esdras Neemias
Temos estado em falta na nossa série de artigos sobre democracia direta dentro do conceito anarcocapitalista que orienta as pautas editorias deste hebdo, desde a sua criação no Século XV.
Falamos já sobre a necessária extinção do Legislativo (sim, defendemos com dados práticos e tecnológicos, aliados a sustentação teórica, de que a ideia de "grupão de whatsapp" não é de todo tola), sobre o fim do federalismo (essa coisa absolutamente tosca, cara, inútil e que funciona como se fosse uma Série B da política nacional sem trazer absolutamente nada em troca para os cidadãos), sobre o fim do STF (o mal da nossa justiça não são os recursos, não são os processos, não é nada disso - mas é a forma como o país se acostumou a fazer uso desse estrôncio chamado STF e a usar o tão malfadado "controle difuso de constitucionalidade" por meio de um mecanismo estúpido como o "recurso extraordinário"), a extinção da Justiça Eleitoral e a criação de uma enorme agência eleitoral que cuidaria essencialmente de eleições, recall e aprovação de leis. As demais funções do legislativo já são exercidas de forma muito mais eficaz, barata e honesta por outros órgãos. Já, na essência funcional, a democracia direta (com todos os defeitos de nosso povo) há de dar melhores resultados do que aqueles que temos visto no Legislativo hoje em dia. Outro ponto é a extinção dos partidos como único meio de acesso a cargos que falamos alhures e voltaremos em outro texto.
A extinção do legislativo, a mais importante de todas, eliminaria de chofre a indústria das pesquisas, o lobby, a democracia de coalização e seu aparato corruptivo, as campanhas (financiadas pelo público ou pelo Estado, como queira - cuja boca maior de recursos está no financiamento para o legislativo), os troca-trocas em Ministérios, as emendas ao orçamento, o "tomá-lá-dá-cá", as alianças, as trocas de partido, bem como os inúteis tribunais de contas, seguido de todo aparato patrimonial que consome recursos imensos com zero de benefício para o cidadão e muitos gargalos para privilégios privados e particulares (prédios, apartamentos funcionais, frotas de automóveis, móveis, contas de luz, água, telefone, computadores, maletas antigrampo, grampos, verbas, passagens aéreas, vagas de estacionamento, restaurantes, comidas, bebidas, cargos comissionados, assessores, amigos de assessores, roupas de assessores, viagens de assessores...).
O fim dessa farra chamada Poder Legislativo está baseado em uma premissa básica do anarcocapitalismo político: a democracia só existe de verdade se as decisões são desintermediadas.
A extinção de todos esses intermediários (deputados e senadores, estados da federação, partidos, cortes especiais de "3a instância" como TSE e TST, e essa noção de uma corte superior que custa caro e interfere com mirrados resultados positivos e inúmeros desastrosos - STF, sim, é de você que falo!), enfim, obedece a um princípio de autogoverno em que as pessoas decidem diretamente por intermédio do uso de tecnologia e de mecanismos de averiguação de escolhas que sejam auditadas e confiáveis. Até Marx quis isso mas nunca soube como fazer (dizia que o melhor jeito seria fazê-lo na porrada, mas o vadio Marx esqueceu da premissa básica de que quem bate esquece e quem apanha nunca esquece). A revolução francesa não chegou tão próxima quanto a americana, mas desafortunadamente o pós-Guerra agigantou o Estado e até os EUA hoje não sabem como voltar aos princípios básicos de sociedade ensinados por Jefferson.
Noves fora históricos, a tecnologia que hoje nos apresenta e o nosso clima político são o momento e as circunstâncias ideias para essa revolução pacífica e centrada na tecnologia.
Sei que o Brasil não quer, mas caso queira, temos tudo para implementar já um autogoverno em que a classe privilegiada de Brasilia (sobretudo a legislativa) cai para um estado de produção semelhante a todos os demais cidadãos: terá que trabalhar para conseguir dinheiro e é ai que pode residir o problema. O. de Carvalho já lembrou que a luta hoje não é ideológica nem partidária: é uma batalha por MEIO DE ATUAÇÃO ou por MEIOS DE AÇÃO.
Temos até mecanismos de implementação imediata para democratizar radicalmente os MEIOS DE AÇÃO: transfiram-se todos os contratos e obrigações da Caixa Econômica Federal para o Banco do Brasil (para que dois bancos estatais? - só a corrupção explica), liquide-se a pessoa jurídica CEF e pegue-se o acervo patrimonial da CEF (imóveis e ativo fixo e permanente, sobretudo) e pregue-se outro rótulo - Agência Brasileira Legislativo-Eleitoral.
Cada cidadão, portando o seu título ou RG, poderá ir até a uma antiga agência CEF, transformada em agência da ABLE e votar leis, escolher mandatários e pedir sua saída, sempre diretamente. Vence a maioria. Ponto. Sempre.
Deu maioria? Então está decidido. A constituição deveria servir apenas para estabelecer os quoruns e as matérias não sujeitas a voto (inalienáveis - "pena de morte", por exemplo ou temas relacionados ao "direito a vida", o "direito a liberdade" e o "direito de propriedade"). No mais, a regra é, "deu maioria, é lei", "deu maioria, tá eleito", "deu maioria, desocupa". E digo aqui maioria em referência sempre à maioria do número de eleitores. O jogo político muda e com votações facultativas, alcançar as maiorias será sempre um ato de mobilização política intensa e baseada no debate. Qual seja, "porrada" nunca será capaz de mudar o que depende diretamente da maioria, sempre.
As agências funcionariam de 2a a sábado das 7 da manhã as 10 da noite para quem gosta de comparecer pessoalmente para exercer seus direitos de escolha. Para quem não tem tempo a perder, faz-se por aplicativo no celular, site na internet, enfim, pelos meios inteligentes disponíveis, por token, chaves públicas, digital no celular - enfim, meios para implementar com segurança é o que não falta (aliás, mais seguros do que os que temos hoje ou tivemos no passado). Não precisaríamos de "pesquisa" pois a escolha real e verdadeira seria acompanhada constantemente. O lobby desapareceria e a influência seria direta. As redes sociais ganhariam outro peso e outro valor.
Esse tipo de e-government já é realidade em alguns lugares, mas, como sempre, em termos de democracia o Brasil está atrasado e muito preocupado em usá-la para exercer um eterno mi-mi-mi.
Pesquisem sobre a Lituânia e a Estônia se tiverem tempo ou paciência. Esse tipo de iniciativa, também conhecida como cyberdemocracia ou e-government tende a substituir a velha política onde a impossibilidade de reunião em ágora recomendava a implementação de uma democracia por representação. Hoje a reunião em ágora é realidade possível e pulsante - está acontecendo nas redes sociais 24 horas por dia todos os dias sem feriado nem interrupção. Isso nunca houve na história.
Temos discutido esses temas, falado sobre essas ideias, quando de repente, não mais que de repente, surgem polêmicas energúmenas e dignas de se esconder embaixo da mesa, tornando a intermediação mais intermediada ainda: é a incrível ideia de colocar o parlamentarismo como solução da crise atualmente vivida no Brasil.
Tiramos o pouco de decisão direta que temos e transferimos para intermediários, criando uma derivada a mais da distância entre o cidadão e o Estado.
É absolutamente incrível que se leia em meios, os textos de "defensores de parlamentarismo" tergiversando sobre o tema e debatendo com "presidencialistas" se esse regime, caso fosse implantado hoje, seria um "golpe" ou se seria solução ou falsa panaceia.
É, antes de tudo, um anabolizante de intermediação.
O parlamentarismo resolverá a vida de muitos, melhor, de todos - todos aqueles que se encontram na mira da polícia e sob suspeita na Operação Lavajato, isso sim.
Seria a comédia do Milênio - aquilo que levou a Itália para as Mani Pulite seria exatamente o que destruiria a nossa Lavajato.
Da ideias imbecis, talvez essa seja uma das maiores, junto de outras que reforçam a intermediação e tratam o dono do título de eleitor com um misto de desprezo e medo.
Coprodebates abundam no Brasil...
Editorial
por Dom Fernandes III
Estava longe de nossas pretensões falar sobre a tal reforma trabalhista, mas como somos um hebdo que trata bem o cliente, vamos a ela.
Pedimos vênia e escusas para não precisar comentar sobre a violação da Lei de Segurança Nacional perpetrada por senadoras e senadores de oposição ao impedirem o funcionamento de uma casa legislativa bem como o processo democrático de votação de uma matéria legitimamente pautada.
Também pedimos licença para não precisar comentar que o ato se deu em flagrante delito e que o uso da força física constitui violência, ainda que o agente alegue "vitimismo", "sexo frágil" ou "resistência do bem".
Dito isso que pedimos para não dizer, vamos aos dizeres do que precisa ser dito, qual seja, o mérito da proposta legislativa, agora transformada em Lei nr. 13.467, de 13 de julho de 2017.
Confesso que ter acompanhado os debates e o texto, suas alterações e redigitações, linha a linha, foi de um tédio que se aproxima da emoção haurida em um jogo de beisebol entre pandas.
Mas valeu a pena: o resultado, ao fim, é nos economizar na coprofalação que permeia o assunto.
A reforma tem poucos pontos polêmicos e de fato moderniza as relações de trabalho, sem retirar uma vírgula sequer do que se tem garantido constitucionalmente no art. 7: aquela lista imensa de proteções se mantém absolutamente intacta.
A lei entretanto dá cabo ao imposto sindical e cria o regime de trabalho intermitente. Eis os pontos de maior polêmica.
No mais, nada se fala, nem à esquerda, nem à direita, nem ao centro, porque simplesmente não se leu e quem o fez não entendeu nem 10% do que lá está.
Há uma minoria muito exígua que leu e entendeu - parte dela está aqui conosco no jornal e outros estão por ai em outros jornais de menor expressão.
Passando para a polêmica número 1, o trabalho intermitente, antes de entrarmos na argumentação de proa (a tal da "precarização"), falemos do que é e o que não é, o que dá e o que não para fazer.
Esse é um modelo de contratação que não se ajusta àqueles cargos com demanda fixa e volume de trabalho regular. Cargos inseridos na produção e sobretudo em linha não se prestam para contratação intermitente. Por que? Muito simples: porque contratar alguém nessa situação em regime intermitente sairá muito mais caro para o contratante do que manter o regime comum.
Outros tipos de cargos ou funções deverão cair nesse regime e bem nos parece que os intermitentes serão aqueles que vem trabalhando de forma precária e... intermitente.
O setor de serviços será o mais beneficiado com esse regime e as famosas empreitadas, antes assunto de juízos cíveis, poderão começar a cair no juízo trabalhista pois muitos projetos entrarão em regime contratual intermitente.
Qual seja - o mercado de trabalho no Brasil já é precário. O que nos parece estar fazendo essa reforma é formalizar algo precário, enfim, tirar de um âmbito precário o famoso "bico" e inseri-lo dentro do regime jurídico sem camisa de força da "hierarquia", "horário fixo", "subordinação" e outras provas maléficas e diabólicas que prejudicam o trabalhador.
Bottom line, com segurança jurídica, os ganhos aumentam e não diminuem: o que achata ganhos é a incerteza; a segurança agrega valor e melhora de forma geral os níveis salariais. Isso é fato incontestável e de estatísticas robustas.
Pois então, disse que não ia falar da precarização e na verdade comecei por ela: justamente porque a precarização não será consequência da reforma, mas é sua causa. A precarização já existe e como sói acontecer no discurso marxista-hegeliano, invertem-se as relações de causa e consequência e se transforma uma projeção em realidade atual: ao dizer que a reforma precariza o trabalho sem dados e sem ter os contratos testados na prática, transformam um achismo em fato e "desconstroem" num ato de conservadorismo de uma CLT absolutamente esquizofrênica.
Não há argumento sério, portanto, contra a reforma.
A ideia da precarização esconde outra precarização, de fato, mais séria: a da Justiça do Trabalho.
Além da precarização do emprego (que já existe sem relação direta com a reforma mas sim com o que foi reformado), temos na Justiça do Trabalho a verdadeira Prova de Fogo da reforma da Lei 13.476.
A verdadeira precarização do trabalho está na sua justiça.
A Justiça do Trabalho no Brasil é um dos órgãos públicos mais vergonhosos, custosos e desnecessários da História dos Mamíferos.
A qualidade jurídica de suas decisões é absolutamente miserável. Seus partícipes tem nível de preparo jurídico muito inferior ao de seus pares em outros órgãos do Judiciário, mas o pior não está neste ponto: a pobreza intelectual é imensa até em relação a estudantes de direito mais bem preparados.
Há uma minoria bem qualificada, logicamente, mas a grande maioria da Magistratura Laboral tem conhecimentos nulos de direito empresarial, de teoria geral do direito, de economia básica, de contabilidade, de direito civil, de direito contratual, de direito penal, de processo civil e de processo penal.
São juízes extremamente mal preparados e com boa parte de juízes mal intencionados e influenciados por ideologias tanto à esquerda quanto à direta que tornam o cansativo exercício da magistratura laboral em um ato de patente e constante prejulgamento.
São essas pessoas que farão a reforma funcionar ou não.
E é essa precarização que assusta os jornalistas de nosso hebdo e a descrença de que essa reforma traga resultados no curto ou médio prazo.
A reforma começou hoje mas poderá demorar uma geração inteira para se sacramentar juridicamente.
Temos fé na estupidez da Magistratura Laboral e sabemos que de lá virão muitos e inúmeros retrocessos.
Essa é de fato a verdadeira precarização que os detratares da reforma escondem em uma "precarização especulativa".
Importante também lembrar que na prática, além da adaptação de regime ao modelo de produção, há no meio empresarial uma preocupação com contingências desnecessárias. Portanto, muito do que nascerá no regime intermitente deverá advir de novas contratações. Quem está no regime tradicional (isso já respondemos a "Cartas" no email do hebdo) não deverá mudar para o regime novo intermitente, pois mais que seja do interesse do funcionário, o risco trabalhista poderá ser muito grande se as incertezas da produtividade forem assumidas por trabalhador que estava em regime cujas incertezas estavam alocadas no custo do capital. Essa transformação certamente poderá gerar riscos sérios diante dessa justiça pobre que irá puni-lo de antemão. Empresários resistirão não apenas pelos riscos, mas pelos custos: em certos tipos de trabalho o regime intermitente tende a aumentar o salário nominal do contratado, o que pode não ser do interesse do contratante em alguns casos, que irá manter o contratado em regime tradicional.
O maior efeito que esperamos ver nessa reforma, qual seja, aumento geral da produtividade e ganhos concretos partilhados por toda a cadeia produtiva talvez demore mais a dar resultados, menos por crença na reforma e mais por medo das cretinices que possam advir da Justiça do Trabalho.
No mais e dentro do justo, se o empresário abusar das formas jurídicas ou simular, estará igualmente em risco: e não porque a Justiça do Trabalho tenha alguma profundidade em matéria de simulação (juridicamente falando) mas porque o resultado depreciativo será alocado da mesma forma com que os juízes hoje "desconsideram a personalidade jurídica" de pequenas empresas para punir sócios que muita vez são mais "duros de grana" que seus funcionários.
Ao comentarmos para leitor um texto de Alex Schwartsman, escrevemos no email:
O texto do Alex mostra que ha duas especulacoes (que nao sao fato, sao exercicios de adivinhacao): a reforma ira precarizar o trabalho ou a reforma ira formalizar e trazer para dentro da CLT o q ja eh precario. Fico com a ultima posicao. Explico: quem esta no regime normal e muda para o intermitente tem acao trabalhista ganha com ctz absoluta. Se comprovar perdas pq a empresa usou de abuso de formas ou simulacao, vai perder em qlqr corte.
Mudar do regime atual para intermitente eh ferro na certa. O intermitente so vai ser usado para novas contratacoes e em regime q nao represente risco adicional para o empresario.
Nao tenha a menor sombra de duvida de q o ativismo judicial na justica do trabalho esta na conta. Esse sera um divisor de aguas fundamental da real precarizacao: o distante magistrado do trabalho e o inexistente MPT serao os verdadeiros fiadores ou desfiadores dessa reforma. A precarizacao juridica q nos apresenta a Justica do Trabalho eh mto mais preocupante q essa dita "precarizacao projetada" poderia gerar. A precarizacao do debate na justica do trabalho é real; a da reforma é teorico-especulativa. Vamos Aguardar.
Sobre o constante vício da Justiça do Trabalho em passar a conta para sócios, ainda respondemos em outra mensagem:
o Brasil eh o unico pais q tem regra de responsabilizacao direta do socio por dividas trabalhistas. O socio é tao credor da sociedade qto o funcionario. Essa tecnica so é usada nas pequenas e medias empresas. Socio de EBX nao paga divida de trabalhador na fisica. Quem paga a conta do empregado é um igual a ele na pratica brasileira.
Resta então a questão do imposto sindical.
Ora ora: chegamos pois ao centro que interessa desta reforma - a precarização da "mamata".
A "teta" sindical ficará precária, precaríssima.
Fora a precarização intelectual na Justiça do Trabalho (que já é uma realidade) e a formalização de inúmeros status de trabalho precários (que já é e pode deixar de ser), a única precarização certa é a do regime de acordar as 10 da manhã, ir para o sindicato tomar café até meio dia, almoço de 3 horas e reunião de pauta até as 3 (isso se não tiver nenhuma manifestação acordada para queimar pneus em algum lugar no fim de tarde), sempre de 3a a 5a, pois as 2as e 6as ninguém é de ferro. Esse regime de trabalho, exclusivo, exclusivíssimo, vai precarizar e tende a acabar.
Todos desse regime exclusivíssimo precisarão procurar um trabalho intermitente (de acordo com as novas regras), já que não sabem trabalhar das 9 as 18 de 2a a 6a...
Deu pra entender ou precisa que eu desenhe?
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