por Dom Fernandes III
Charlottesville é uma
cidade muito cara neste hebdo.
Quem nos conhece sabe
porque.
Este hebdo não tem
"corruptos de estimação": um a um todos devem ser afastados e prestar
contas de seus crimes.
Não tem também
"políticos de estimação": dizer tolices não é uma virtude, nem uma
desculpa e não conta com o nosso perdão.
Para que as posições deste
vetusto meio fiquem claras, afirmemos aqui: NÃO TEMOS EXTREMISTAS DE ESTIMAÇÃO.
A forma mais democrática de
tratar um racista é reconhecer que "racista é racista, independentemente
da raça".
Energúmenos de diversos
"lados" precisam estudar um pouco as razões que construíram os
conceitos jurídico-sociais da PRIMEIRA EMENDA e da noção de FREEDOM OF SPEECH,
sobretudo em tempos de internet livre, redes sociais e twitters
da vida.
"Freedom of
speech" não é dizer o que se quer e nem o pensamento goza hoje de
externalidades absolutas.
A liberdade é um bem
público (prometo que um dia voltaremos neste tema - por ora, ainda é cedo...).
Sabem aquela história de
que a minha liberdade começa quando termina a do outro e a minha termina quando
a do outro começa? Pois bem - assim como comer, beber água, dormir e outras
coisas importantes, o homem precisa trabalhar e se relacionar. Vamos também
deixar o trabalho para um outro dia, prometo.
Somos animais sociais por
excelência. A forma mais perfeita e acabada de relação (social, que pode se
desdobrar em outras afetividades) é a nossa capacidade de estabelecer empatias
e concordâncias. Na base de nossa luta pela sobrevivência está a chamada arte
de negociar, qual seja, a necessidade intrínseca que temos de concordar, de
chegar ao sim com os nossos interlocutores.
Não a toa o Ulisses de Joyce termina com a frase cabalística de Mary
Bloom: yes and his heart was going like mad and yes I said yes I will
Yes.
Joyce crava um dos pontos
centrais da essência humana em forma de verbo: I WILL YES.
Contestar e protestar faz
parte do processo de se chegar ao sim.
O renascimento de um
universo discursivo politicamente incorreto em oposição àquela visão
frankfurtiana e horkheimereana que desaguou no políticamente correto de
fins da Década de 1990 e que hoje beira alguns nazismos opõe o mundo, como
vimos em Charlottesville, entre ódios aparentemente adversos.
São os extremistas de
estimação, de lado a lado.
São, por excelência,
furiosos atacantes da liberdade: são pessoas que se incomodam com o conceito público
de liberdade e por isso querem partidarizá-la, de parte a parte, de lado
a lado.
Se confrontam pelo
confronto, pela aniquilação, basicamente.
Representam o oposto do
espírito da PRIMEIRA EMENDA, algo na linha de um fuck this Court de
Flynt.
Isso não é FREEDOM OF
SPEECH e precisa acabar.
Os questionamentos do
discurso politicamente incorreto são fatores históricos importantes, mas
precisam ter a "incorreção" limitada a "política"
(considerando aqui "incorreto" tanto o discurso de um lado, quanto o
de outro que se intitula "correto" de forma bastante "incorreta").
Não há vítimas nesse
processo, mas há muita vitimização, de parte a parte. Vence quem produzir seu
cadáver primeiro.
Isso não está certo.
Isso tem que parar, já.
Chega de proselitismo, de
acomodação: odiar a classe média e dizer que odeia este ou aquele, não pode ser
respondido com outro discurso de ódio.
Organizações nazi-fascitas
precisam ser dissolvidas, seus agentes processados e condenados e seus símbolos
devidamente banidos e execrados, por gente que, acreditando na liberdade e na
democracia verdadeira, NÃO TEM EXTREMISTA
DE ESTIMAÇÃO.