domingo, 13 de agosto de 2017

Editorial

por Dom Fernandes III

Charlottesville é uma cidade muito cara neste hebdo.

Quem nos conhece sabe porque.

Este hebdo não tem "corruptos de estimação": um a um todos devem ser afastados e prestar contas de seus crimes.

Não tem também "políticos de estimação": dizer tolices não é uma virtude, nem uma desculpa e não conta com o nosso perdão.

Para que as posições deste vetusto meio fiquem claras, afirmemos aqui: NÃO TEMOS EXTREMISTAS DE ESTIMAÇÃO.

A forma mais democrática de tratar um racista é reconhecer que "racista é racista, independentemente da raça".

Energúmenos de diversos "lados" precisam estudar um pouco as razões que construíram os conceitos jurídico-sociais da PRIMEIRA EMENDA e da noção de FREEDOM OF SPEECH, sobretudo em tempos de internet livre, redes sociais e twitters da vida.

"Freedom of speech" não é dizer o que se quer e nem o pensamento goza hoje de externalidades absolutas.

A liberdade é um bem público (prometo que um dia voltaremos neste tema - por ora, ainda é cedo...).

Sabem aquela história de que a minha liberdade começa quando termina a do outro e a minha termina quando a do outro começa? Pois bem - assim como comer, beber água, dormir e outras coisas importantes, o homem precisa trabalhar e se relacionar. Vamos também deixar o trabalho para um outro dia, prometo.

Somos animais sociais por excelência. A forma mais perfeita e acabada de relação (social, que pode se desdobrar em outras afetividades) é a nossa capacidade de estabelecer empatias e concordâncias. Na base de nossa luta pela sobrevivência está a chamada arte de negociar, qual seja, a necessidade intrínseca que temos de concordar, de chegar ao sim com os nossos interlocutores.

Não a toa o Ulisses de Joyce termina com a frase cabalística de Mary Bloom: yes and his heart was going like mad and yes I said yes I will Yes.

Joyce crava um dos pontos centrais da essência humana em forma de verbo: I WILL YES.

Contestar e protestar faz parte do processo de se chegar ao sim.

O renascimento de um universo discursivo politicamente incorreto em oposição àquela visão frankfurtiana e horkheimereana que desaguou no políticamente correto de fins da Década de 1990 e que hoje beira alguns nazismos opõe o mundo, como vimos em Charlottesville, entre ódios aparentemente adversos.

São os extremistas de estimação, de lado a lado.

São, por excelência, furiosos atacantes da liberdade: são pessoas que se incomodam com o conceito público de liberdade e por isso querem partidarizá-la, de parte a parte, de lado a lado.

Se confrontam pelo confronto, pela aniquilação, basicamente.

Representam o oposto do espírito da PRIMEIRA EMENDA, algo na linha de um fuck this Court de Flynt.

Isso não é FREEDOM OF SPEECH e precisa acabar.

Os questionamentos do discurso politicamente incorreto são fatores históricos importantes, mas precisam ter a "incorreção" limitada a "política" (considerando aqui "incorreto" tanto o discurso de um lado, quanto o de outro que se intitula "correto" de forma bastante "incorreta").

Não há vítimas nesse processo, mas há muita vitimização, de parte a parte. Vence quem produzir seu cadáver primeiro.

Isso não está certo.

Isso tem que parar, já.

Chega de proselitismo, de acomodação: odiar a classe média e dizer que odeia este ou aquele, não pode ser respondido com outro discurso de ódio.

Organizações nazi-fascitas precisam ser dissolvidas, seus agentes processados e condenados e seus símbolos devidamente banidos e execrados, por gente que, acreditando na liberdade e na democracia verdadeira, NÃO TEM EXTREMISTA DE ESTIMAÇÃO.