Caderno de Política
por Cícero Esdras Neemias
Hoje os EUA celebram pela 241a vez o seu Independence Day.
Conforme já dito neste hebdo, o mundo todo deveria celebrar este dia. É um marco na luta pela liberdade e sim, pelo trabalho - o trabalho nasce antes de um ambiente livre (a ideia de que o trabalho liberta, na inversão lógica e na petição de princípio que ainda persiste hoje em dia, vez ou outra, é esquecida nas palavras de gente que "finge ignorar").
Alguns reclamam da Declaração de Independência por desconhecimento ou por ideologia de buteco, outros, por simples antipatia aos EUA (sobretudo os que nunca pisaram em solo americano) e outros o fazem por antipatia pura e simples ao atual mandatário, uma percepção ad hominem que cega a amplitude e a importância da data de hoje.
Quer queira, quer não, a partir de 4 de julho de 1776, uma nova ordem mundial foi inaugurada.
O conceito moderno de democracia floresceu e os EUA construíram um modelo de produção social, cultural, econômica e de justiça que, apesar de seus defeitos, a cada dia prova-se de maneira cabal com a sua eficiência silenciosa e inteligente. A cada instante em que é colocado a prova, aperfeiçoa-se.
Hordas e hordas de imigrantes buscam os EUA e mesmo sob protestos, sob ataques inúteis e infantis de "imperialismo", quando o calo aperta é ao exército americano que se clama intervenção e ao dinheiro do tesouro estadounidense que se bate a porta para ajuda.
Por outro lado, o documento que inaugura a data é uma perfeita explicação do que é independência.
Os EUA são independentes porque fizeram cumprir cada linha daquele documento. Mais: ainda o fazem cumprir, cada cidadão, no seu dia-a-dia, na sua casa, no seu trabalho.
Muitos que falam da data, desconhecem o documento de forma absoluta. Outros o desconhecem por completo (feita aqui a diferença entre completo e absoluto, há os que o desconhecem completa e absolutamente).
Para esses, lembremos que a Declaração de Independência dos EUA é uma peça perfeita de acusação. Os founding fathers abrem com um proêmio magistral, aquele onde lemos sobre as "self-evident truths" e os direitos inalienáveis a Vida, a Liberdade e a Busca da Felicidade (esta, já fora alvo de uma obra prima cinematográfica que biografa a vida de Chris Gardner tendo Will Smith e Jaden Smith nos papeis centrais).
Após estabelecer as premissas das acusações e argumentar sobre tais premissas, dão início a peroração detalhada, enumerando em frases simples, ordem direta e em um idioma cristalino, elegante e inteligível para qualquer alfabetizado quais os atos praticados pelo Soberano que impediam os cidadãos (e não os Estados e nem os Estados Unidos) de gozar de tais direitos inalienáveis e acessar tais "self-evident truths" .
Na peroração da Declaração de Independência temos não apenas as chamadas provas aristotélicas, mas sobretudo um caminho para qualquer agrupamento de cidadãos que queiram um dia viver em uma nação independente.
Essa dependência, por outro lado, não precisa ser exclusivamente externa. Em muitos casos é também interna.
E esse é o caso do Brasil.
Nunca tivemos esse roteiro e nem sequer nos demos ao trabalho de seguir algum (como o de 4 de julho), que já estivesse pronto.
Dom Pedro teria dito "Independência ou Morte" e como mostrou Varhagen, Calógeras, Armitage e outros, saiu rifando a nação para comprar um status de dissociação do colonizador e transferência dessa dependência para as mãos de cretinos, corruptos e vagabundos, como ficou claro na biografia do Barão de Mauá escrita pelo excepcional Caldeira.
A Declaração de Independência dos EUA é também prova de dependência do Brasil, praticamente uma Declaração de Dependência que convivemos dia a dia, fato a fato, neste período de revelações e perdões judiciais em instâncias supremas por todo o lodo iluminado. É a verdadeira cracolândia brasileira, o nosso vício e o nosso pendor para fazer de forma inversa ao que diz a Declaração de Independência dos EUA.
Vejamos trechos e pensemos no Brasil:
He has refused his Assent to Laws, the most wholesome and necessary for the public good.
He has forbidden his Governors to pass Laws of immediate and pressing importance, unless suspended in their operation till his Assent should be obtained; and when so suspended, he has utterly neglected to attend to them.
Pensemos aqui nas 10 medidas contra a corrupção, só para começarmos... Mas têm também o imposto sindical, o foro privilegiado e mais um sem fim de barbaridades, que constantemente nos é "refused to Assent into a Law".
He has refused to pass other Laws for the accommodation of large districts of people, unless those people would relinquish the right of Representation in the Legislature, a right inestimable to them and formidable to tyrants only.
Pensemos aqui na troca de votos por cargos ou na venda de votos para se eleger este ou aquele, do interesse exclusivo "Dele" ou "Deles"...
He has called together legislative bodies at places unusual, uncomfortable, and distant from the depository of their Public Records, for the sole purpose of fatiguing them into compliance with his measures.
Cooptação do Poder Legislativo levando o "desconforto espacial" a uma nova dimensão desta modernidade líquida....
He has obstructed the Administration of Justice by refusing his Assent to Laws for establishing Judiciary Powers.
Obstrução da Justiça? Bem, sem comentários...
He has made Judges dependent on his Will alone for the tenure of their offices, and the amount and payment of their salaries.
Cooptação do Judiciário? Deixo esta para o TSE, para o TST, para o STJ e principalmente para os 11 políticos do STF responderem...
He has erected a multitude of New Offices, and sent hither swarms of Officers to harass our people and eat out their substance.
Parece piada - criação de Ministérios para esculachar cidadãos ("eat out people's substance")? Isso só pode ter sido escrito em 2013....
He has kept among us, in times of peace, Standing Armies without the Consent of our legislatures.
Não vamos lembrar que várias vezes o "Exército de Stédile", o "Exército do Boulos", o "Exército da CUT" já foi invocado (como "exército" mesmo, usando exatamente essa palavra) mais de uma vez contra quem quer que quisesse julgar o Rei culpado...
He has affected to render the Military independent of and superior to the Civil Power.
Este é especial para os tolos amantes de intervenção militar e as viúvas de 64...
He has combined with others to subject us to a jurisdiction foreign to our constitution, and unacknowledged by our laws; giving his Assent to their Acts of pretended Legislation:
For quartering large bodies of armed troops among us:
For protecting them, by a mock Trial from punishment for any Murders which they should commit on the Inhabitants of these States:
For cutting off our Trade with all parts of the world:
For imposing Taxes on us without our Consent:
For taking away our Charters, abolishing our most valuable Laws and altering fundamentally the Forms of our Governments:
Aqui, a brincadeira da Odebrecht com Angola, Cuba, República Dominicana além do projeto bolivariano de poder junto ao grupelho de Venezuela, Argentina kirschnerista, Bolívia, Equador e Uruguay cai como uma luva.... Convescotes de Mercosul julgando o Paraguai de jeito diferente do que se julgou a Venezuela e por ai vai, por mera afinidade clubística...
He has plundered our seas, ravaged our coasts, burnt our towns, and destroyed the lives of our people.
Sim, a NME fez tudo isso sim... Sim, a política de Cabral no RJ fez tudo isso sim...
He has excited domestic insurrections amongst us, and has endeavoured to bring on the inhabitants of our frontiers, the merciless Indian Savages whose known rule of warfare, is an undistinguished destruction of all ages, sexes and conditions.
Sem comentários sobre a "cultura de ódio" iniciada a partir de 2013 contra qualquer um que pense diferente do que foi pregado nas campanhas...
Por definição, "He", qual seja, "Ele", o Rei, o Soberano se encaixa sob o manto de TIRANO.
4 de Julho foi o dia em que se combateu a tirania de governos pelas razões acima expostas:
A Prince, whose character is thus marked by every act which may define a Tyrant, is unfit to be the ruler of a free people, assim se encerra a peroração da Declaração de Independência.
Mas quem seria "Ele" nesta peça?
Aos apressadinhos que responderam George III, nosso meio-certo. "Ele", nesta peça, é o Tirano Eterno, aquele que merecia repulsa desde os tempos de Sócrates e dos pré-socráticos como Demóstenes e Lysias. Na ocasião essa tirania era ocupada, em face daqueles cidadãos, por George III, mas no tempo, muitos ocuparam esse posto do "He" na Declaração de Independência dos EUA. Alguns dizem que Trump tem se destacado recentemente nessa função; outros vêem Kim Jong-un nessa função, mas nós, Brasileiros, podemos nesse texto encaixar muito bem "Eles".
Este "Ele" não é o "Eles" do "Nós contra eles" do barato, cafona e piegas marketing de campanha de João Santana, nem mesmo o "Eu odeio a burguesia" que arrancou risos de plateia qualificada.
Esse "Ele" é mais complexo do que isso.
O "Ele", no caso, que cabe nessa Declaração de Dependência do Brasil, pois gabaritamos cada item sem nada fazermos contra, se encaixa em cada nome listado nos escândalos que nascem de um encanamento do Estado contra pessoas que desejam meramente trabalhar de forma livre.
Sim, o "Ele", o "He" da declaração de independência dos EUA aplicada ao caso Brasileiro recai sobre a ORCRIM que toma conta do Brasil há décadas.
Esse "He" não é apenas um, mas um grupo bem organizado e estruturado, com membros operando nos 3 poderes da República, com braços na Imprensa e nas redes sociais.
Nessa nossa Declaração de Dependência vemos várias pessoas operando por trás de um grande consórcio que se investe nessa função do "He".
Somos um país fraco, dependente e dominado por "Eles", que exercem em plena luz do dia a mais consolidada tirania.
Eis uma valiosa lição do 4 de julho para todos os Brasileiros: leia a Declaração de Independência e aproveite o seu dia!