terça-feira, 5 de julho de 2016

O papel da filosofia

Caderno de Filosofia
por B. Batista Brogna

Neste primeiro artigo neste novel caderno de filosofia, outrora um caderno especial no encarte especialíssimo que tencionávamos chamar de Folhosofia ou Folhíssima, recebemos o prudente veto de nosso Editor-Mor, Dom Fernandes III: "Folhíssima soa pretensioso e folhosofia, pqp!, soa cafona pra caralh...".

Assim manifestado o veto e ainda na expectativa de contar com artigos de Chiquinha Chauí, me foi dada a tarefa de escrever algo inaugural para este caderno de ideias.

Ai deu-me na telha de falar um pouco qual a finalidade deste caderno e, "nesse diapasão", enveredei-me por escrever sobre a tarefa mesmo (ou mesma) da própria filosofia no mundo moderno e pós-moderno (e também no posmodérno).

Ora (eu gosto muito de "ora" para começar frases... todos os filósofos usam e eu não quero ficar de fora)..., bem..., Ora! o que é a filosofia então???

Ah (leia-se "ora"), a filosofia é a investigação do saber último, qual seja, é a amiga do saber; o saber, a Sofia, essa coisa impenetrável e por isso meramente onanística que todos nós amamos e odiamos logo que a "investigação" acaba (como todo ato onanístico).

A filosofia tem seu papel na humanidade associado ao "questionar", ao "indagar" e assim aproxima-se do saber.

Questiona indagando e termina afirmando. Na filosofia não se seguem regras gramaticais: procura-se sempre escrever bem, com estilo, com elegância, com poesia, com questionamento, as vezes sem predicado, as vezes sem qualquer verbo, as vezes sem qualquer período.

A gramática é um instrumento limitador e opressor das ideias, com suas regras burguesas e conservadoras, suas mesóclises, próclises, ênclises, assindexias, coordenações e sobretudo subordinações. Assim, um sistema baseado em subordinações é claramente um sistema pro-escravagista e nós, filosófos, amantes da liberdade e do ódio à classe média, odiamos também essas regras enclausurantes e odiamos a gramática e fazemos "questã" (ou "questax") de não obedecê-la para preservar a liberdade de nossos questionamentos em busca dela, da Sofia, da impenetrável, da onanimável.

Por anos, desenvolvemos uma técnica especial do "dizer", uma gramática própria, um jeito de escrever "sei lá". Veio essa maldita e opressora tecnologia líquida pós-moderna e inventou o "Gerador de Lero-Lero". Tivemos que nos reinventar para manter o nosso feudo de atuação intacto, onde falamos de coisas que não sabemos para um público que não sabe o que falamos.

Foi difícil mas sobrevivemos e conseguimos manter a integridade e a dignidade da nossa independência do Saber questionável que se afirma por meios zetéticos e investigativos onde e na qual podemos fazer presente todas as figuras de linguagem para esclarecer coisas obscuras no mundo. Metáfora, Metonímia, Antonomásia, Prosopopéia, Apóstrofe, Oxímoro, Sinestesia, Hipálage, Lítotes, Hipérbole (esta a Chiquinha Chauí até abusa), Eufemismo, Perífrase, Adínaton, Paralipse, Aposiopese, Silepse, Enálage, Onanismo, Metalepse, Hendíade, Lues, Candidíase, Blenorragia, Clamídia, Condiloma, Escabiose, Condiloma e Tricomoníase: sim!! usamos todas essas e temos sempre esses mecanismos todos na ponta das nossas línguas, nós, filósofos, filósofas e filóxofxs que lidamos com o impenetrável e com o onanismável!!!

Pois bem, dito isso, ora!, sendo isso a filosofia, sendo essa práxis de dizer questionando, de questionar dizendo, notamos, ora, que na filosofia se diz muita coisa. Enfim, ora, se diz questionando. Mas se diz!

Tudo o que é dito é feito para questionar.

Não há certo, não há errado. Há questionar.

Em cada dizer, um questionar, mas que de diz, ora, isso lá se diz. E dizemos!

No questionar afirmando, afirmamos coisas que se nunca precisam estar certas e jamais estarão erradas.

Assim, falamos, afirmando com o ar de quem questiona mas, no fundo, no fundo e no fundx, apenas apresentamos ideias que NUNCA ESTIVERAM, FORAM, ESTÃO OU ESTARÃO ERRADAS.

Filosofia é portanto a práxis que nos permite dizer coisas que nunca estão erradas (ora, dizer sempre coisas certas sem medo de contradição, embora não seja essa a finalidade última da filosofia: qual medo? de contradizer ou de dizer coisas sempre certas?).

Em outras palavras, é a práxis de falar merda constantemente, com ar de conteúdo.

Filosofia é falar merda SEMPRE e estar errado NUNCA.

Ou, como diria Millôr, de forma muito mais elegante... "filosofia é uma coisa que discute filosofia".