segunda-feira, 25 de julho de 2016

Esperando o que?

Especial para
Caderno de Assuntos Complexos e Espinhosos
por Rajul Tayib Al Jusur

Vejo há algum tempo quase todos os dias notícias de atentados.

Um aqui, outro acolá; 120 mortos aqui, 346 feridos acolá, 3 mortos neste outro lugar, mais 2 mortos (incluindo o explosivo que estava preso a um dos homens) e assim por diante.

Se vão e, consigo, levam alguém; sem dó, nem piedade.

O que os motiva? Algo que muitos dizem ser antigo, mas eu, depois de ler muito o Corão, posso dizer: é algo novo.

Esses motivos tem um nome: jihadismo.

O jihadismo é algo extremamente diferente do islamismo. Um não se confunde com o outro.

Ousaria até dizer que um nem sequer tem o mínimo a ver com o outro.

São coisas diferentes e que não se confundem.

Há no islamismo, até mesmo no mais radical, a aceitação de que ao lado dos cinco pilares (crer, orar, jejuar, peregrinar/caminhar e ajudar), teríamos ainda a jihad, que se lê em conjunto com mais duas obrigações: praticar o bem, afastar-se do mal.

A jihad é uma luta, mas para a grande maioria dos islamitas, uma luta interior, do homem consigo mesmo. Por isso ela jamais deve ser lida isoladamente, sem que se tenha a exaltação do bem e o afastamento do mal como instrumentos necessários.

Há ainda quem diga que essa luta é física, externa. Não há nenhum problema com essa interpretação mais radical, também conhecida como Jihad Menor, desde que essa "luta" se faça para a promoção do bem e o afastamento mais absoluto do mal, o que leva alguns a entender a jihad como uma prática de conversão de novos adeptos por meio da palavra, digamos (me desculpem irmãos!!!), evangelizadora...

Não preciso lecionar aqui o que é BEM e o que é MAL. Quando completamos 3 anos de idade e aprendemos a falar e ver desenhos animados, essa distinção fica clara. Sabemos o que é o bem e o que é o mal, sem qualquer dificuldade.

Qualquer um sabe que matar é uma das mais perfeitas e acabadas práticas do MAL.

Um dos maiores e mais irrepreensíveis exemplos de PRÁTICA DO MAL, de APROXIMAR-SE DO MAL está no ato covarde de tirar uma vida. Isso não se discute, nem mesmo na legítima defesa: por isso é chamada de legítima - uma morte que visa salvar uma ou mais vidas, incluindo necessariamente a própria.

Portanto, quando alguém mata outrém e diz estar fazendo isso para cumprir uma regra que manda, acima de tudo, praticar o bem, na realidade, o assassino não está cumprindo essa regra pois o ato de matar não está dentro das jurisprudências de "praticar o bem".

De fato, criou uma regra nova.

Uma regra em que associa morte e BEM.

Não se trata de interpretação, pois as interpretações têm limites e essa forma de interpretar a jihad Menor é regra nova e não interpretação, pois passa do limite de interpretação autorizado pelo próprio ISLAMISMO como um todo. Não há no Corão e nem em qualquer regra essa associação entre MATAR e praticar o bem.

Quando se retira essa regra e se faz dela princípio basilar de novas regras, interpretações e justificações, tem-se algo novo que o ISLÃO não reconhece como seu na matriz de seus textos.

Esse algo novo, baseado em disse-que-me-disse e outras fontes secundárias, terciárias, quaternárias e afins, vamos então chamar de JIHADISMO.

No jihadismo há alguns princípios comuns que são vistos em todas as ações, reinvindicadas por outros jihadistas sobreviventes, ou meramente estão no passado escrito de um suicida que levou com ele mais gente sem que estivesse ligado a outros jihadistas que possam reinvidicar a ordem (aquela coisa do domínio do fato vs. bobo solitário).

Nessas regras o fim último é a DESTRUIÇÃO.

Essa destruição é o tronco principal da árvore da intolerância e se mostra como uma espécie de Apotherósis, o ápice do jihadismo e da transformação definitiva do homem em besta.

A destruição se torna digna de elogio entre seus pares quando as vítimas representam alguma diferença marcante: gays, mulheres, outras raças, outros credos, outras ideias, outras nacionalidades, outros pensamentos políticos, outros modos de vida cuja existência motiva nos jihadistas o mais puro e simples ÓDIO.

Contudo, ao longo de sua vida essa intolerância e esse ódio, antes de se tornar um ato literalmente explosivo, repentino, indefensável e covarde, vai sendo objeto de uma prática constante de segregação e, acima de tudo, PRECONCEITO.

Não deve haver o menor constrangimento em se admitir que o jihadismo tem fortíssima base racista.

Há também uma pregação de superioridade e de supremacia de credo em relação a qualquer outro.

Os jihadistas cultivam durante o percurso de suas práticas uma miríade constante de preconceitos de gênero, de cor, de credo e de raça. Os demais, não jihadistas e não islamitas mas politicamente corretos, toleram esse ódio, seja por medo, seja por burrice, seja por covardia, seja por ignorância. E essa ignorância é de um único tipo: acreditam que o jihadista é um islamita, quando não é.

O que me chama a atenção é que mesmo havendo inúmeras organizações jihadistas pelo mundo, há quem ainda confunda isso com o islamismo e é aqui que mora o problema todo.

Aliás, os jihadistas, com a desculpa de estarem focados em um projeto paramilitar de ódio, preconceito, extermínio de raças (a começar, obviamente, pelo extermínio sionista, algo que nenhum jihadista faz questão de esconder, nem mesmo em relação aos judeus muçulmanos), acabam sendo de certa forma frouxos com um, mais ou todos os pilares: não chegam a orar com afinco todos os dias, crêem titubeando constantemente, alguns até bebem, poucos jejuam, quase nenhum peregrina (dizem, falta tempo...) e, todos, sem exceção, não dão esmolas para não faltar dinheiro para a causa jihadista.

Faltando com os pilares, se distanciam do que eles representam e se aproximam de outra coisa que cresce na seiva da intolerância por meio do ódio, do preconceito, da misoginia, da homofobia, enfim, do racismo.

Em 1933 Adolf Hitler escreveu suas bestialidades e motivou a criação do seu sistema de vida baseado nas mesmas drogas retóricas: ódio, preconceito, racismo; atualizadas no jihadismo pela homofobia e pela misoginia.

Demoraram para dizer aos simpatizantes hitleristas: "ei, vocês estão cruzando uma linha proibida, que nenhuma interpretação ou lógica autoriza".

Deu no que deu.

E em virtude dessa demora, hoje é absolutamente proibido ostentar as marcas exteriores que relacionam meras intenções com aquelas ideias da Minha Luta (e vejam como o tema da "luta", seja lá, com Hitler, seja aqui, no jihadismo, vez ou outra reaparece).

Hoje é considerado até mesmo crime negar o holocausto ou tentar divulgar ideias que queiram falar bem de Hitler e de seus ideais estapafúrdios. Muitos até estendem essa proibição às ideias fascistas, ainda que Mussolini não tenha tido qualquer associação de seu regime com o racismo hitlerista. Nazi-fascismo, inclusive, estão sob o mesmo manto de proibição, tenha o fascismo italiano se enveredado de fato para políticas de extermínio ou não. Está proibido e pronto.

Por outro lado, e ai é uma questão de maturidade política que não vejo no jihadismo, o movimento de eugenia nos EUA também foi pelo mesmo caminho e, convenhamos, não precisou de proibição para sumir do mapa. Mas lá havia bom senso, coisa que falta aqui, hoje e no jihadismo.

Voltando ao jihadismo portanto, me parece aqui (e Allah seja louvado!), estarmos perdendo um enorme tempo para começar a reconhecer no jihadismo aquilo que demoramos a perceber no nazismo e no hitlerismo e dar àquele o tratamento que damos a estes hoje.

Atos que manifestem à condução de uma Apotherósis, ainda que sejam ideias, elogios, simpatias, curtidas, "thumbs up", devem ser criminalizados e os seus praticamentes devem receber exatamente o mesmo tratamento que se dá a membros da Ku Klux Klan e a nazistas de novas ondas.

Manifestações de misoginia, homofobia, assédio moral, preconceito (de qualquer forma) e racismo, sobretudo quando motivadas em jihadismo, não fazem parte de qualquer religião e por isso não podem ser consideradas atos de liberdade religiosa - são apenas atos políticos proibidos, assim como são tratados os mesmos atos quando fundamentados no nazismo e em doutrinas de superioridade de qualquer natureza (raça, religião, credo, gênero, opção afetiva e que tais).

O que estamos esperando para tratar o jihadismo da mesma forma que tratamos o nazismo?