terça-feira, 15 de agosto de 2017

Robert E. Lee

por Dom Fernandes III

No centro do conflito em Cville, uma figura foi esquecida.

Inadvertidamente, diga-se de passagem.

Gen. Robert E. Lee.

Quem foi o General Robert Edward Lee?

Sim, eu sei que você não faz a mínima ideia, distinto leitor, honrada leitora.

Acontece que este editor morou em Charlottesville e sabe, ocasionalmente, quem foi o General Robert E. Lee.

É uma mera coincidência, ou talvez não.

O mais interessante, caro leitor, notável leitora, é que eu posso apostar de maneira até irresponsável e colocar na mesa todos os meus títulos de nobreza e lhe garantir que você não está só.

Eu diria que nem 10% da população de Cville sabe quem foi Robert E. Lee. Com certeza absoluta nem 5% dos estudantes da UVa faz a menor ideia de quem tenha sido o General Robert Lee.

Eu diria mais, até: aposto que a totalidade das pessoas envolvidas naquelas idiotices dos últimos dias não têm a menor, a mais "puta" ideia de quem foi Robert E. Lee.

Tudo começou, como bem lembrou Leandro Ruschel em seu perfil em redes sociais (veja essa história completa no perfil de Ruschel no Twitter em @leandroruschel, que levou ao seu desligamento das redes), com uma petição feita por um cidadão para que retirasse uma estátua em homenagem ao General Robert E. Lee, que ficava no Lee Park (assim se chamava o parque quando morei lá).

O Lee Park é uma pracinha bem agradável que fica ao lado do Downtown Mall, a rua principal do Centro Histórico de Cville.

Estátua de Robert E. Lee, no centro do Lee Park, atualmente Emancipation Park

É um terreno que foi doado por Paul McIntire, ex-prefeito de Cville e um dos maiores benfeitores da cidade e da Universidade. Foi um gentleman, um mecenas, um homem de valores que ao doar bens para que os atuais moradores e estudantes pudessem desfrutar do que hoje têm à disposição publicamente, apenas não deixassem esvair a memória daqueles que lutaram para construir um país hoje admirado em todo o mundo.

Não a toa a rua ao lado do Lee Park se chama McIntire Road...

A família McIntire esteve umbilicalmente ligada a história do Estado da Virginia, que, sem medo de errar, é o berço da Liberdade Mundial. Essa ligação levou os McIntire a lutarem pelo lado dos Confederados.

Paul McIntire, um "Virginia Gentleman" que não mediu esforços para fazer benfeitorias para Cville e seus cidadãos (tanto os permanentes, quanto os transitórios, estes, ligados à Universidade, como eu...)


Como complemento a tais melhorias, McIntire pediu para que se instalasse uma estátua em bronze em tamanho natural representando o General Robert E. Lee, de quem passaremos a falar. A estátua foi instalada em 1924 e a cidade sempre conviveu otimamente bem com as praças e seus monumentos públicos.

Este é um ponto turístico importantíssimo pois integra o chamado Virginia Civil War Trails.

As pessoas sempre conviveram bem, pois ao parar diante de tais lugares, sempre fizeram questão de ouvir a história do lugar e sobretudo da pessoa que se queria manter na memória de TODOS OS AMERICANOS, não somente de uma parcela deles.

A coisa começa a mudar de figura quando em 5 de junho de 2017, a cidade resolve mudar o nome de Lee Park para Emancipation Park, baseada no argumento de que o General Lee representaria a "supremacia branca" e portanto a sua memória deveria ser apagada da cidade.

Começou-se a tentar reescrever a história na marra, sem nunca se ter dado conta de todos esses fatos aqui narrados.

A sandice se seguiu com a ideia de se retirar a estátua do General Lee sob os mesmos argumentos.

A partir dai outros seres de laia pior e inquestionável se arvoraram no direito de defender o Lee Park sob o argumento da.....? supremacia branca...

Bem, completou-se a cretinice construída em cima de uma mentira.

Bastaria ter se interessado sobre a vida da família McIntire ou, mais simples, terem dado uma lida na biografia oficial de Robert Edward Lee.

Sua mais completa biografia foi escrita em 1934 por Douglas Southall Freeman. Há mais de 20 biografias sobre Lee, mas nenhuma chega próxima do trabalho de Freeman.

Freeman foi um dos mais importantes professores de história dos EUA, um jornalista admiradíssimo e uma personalidade reconhecida em todo EUA por sua luta pela ética.

Não coincidentemente, Freeman foi o vencedor do Pulitzer Prize por conta de seu trabalho de pesquisa acerca da vida de Robert Lee, resultando em uma biografia fabulosa publicada em 4 volumes. Sim -  a biografia de Lee escrita por Freeman venceu o Pulitzer.

Mais tarde Freeman ainda trabalhou com afinco na biografia de George Washington, publicada em 7 volumes.

Freeman foi professor de historia e jornalismo não apenas na UVa, mas passou pela prestigiada Universidade de Columbia no Norte de Manhattan e depois encerrou carreira como Reitor da Universidade de Richmond, em Virginia.

Douglas S. Freeman, biografo de Lee

Freeman trabalhou por anos nas correspondências de Lee, todas hoje arquivadas e preservadas na Biblioteca do Congresso em Washington DC e alguns trabalhos arquivados e preservados na Biblioteca da Suprema Corte, a metros de distância da Biblioteca do Congresso.

Freeman teve em mãos material mais confiável do que qualquer especulação - ele estudou a própria voz de Lee, como General, como estrategista, como pai, como marido. As principais correspondências usadas como fonte foram as trocas de cartas com Jefferson Davis e com sua esposa.

Jefferson Davis era o governador da Virginia no período da Guerra e, portanto, o superior imediato de Lee, a quem este devia obediência marcial.

O premiado trabalho de Freeman foi recentemente resumido e se encontra a venda na Amazon aqui em volume simples apenas com highlights da vida de Lee.

Quem entretanto é bem habituado com a leitura em tela, pode ter acesso à integra do trabalho, sem custos, aqui. Com a expiração dos direitos autorais, a Universidade de Chicago colocou a íntegra do trabalho à disposição para consulta, originalmente editada pela Charles Scribner's Sons.

Não há desculpa para a ignorância quando o acesso à informação é assim tão escandalosamente fácil.

E, sei leitor, tenho ciência leitora, que se chegou até aqui, sua ansiedade por saber quem foi Lee chegou ao clímax (se é que já não foi aos links e desistiu de nós de uma ver por todas).

Aos bravos resilientes e às bravas insistentes,  I give you General Lee.




Aos não iniciados na obra de Freeman, é comum associar o nome do General Robert Lee ao do "comandante das tropas Confederadas" e a do General que negociou com o General Ulisses Grant a rendição dos Estados sulistas derrotados na Guerra Civil Americana.

Como a "causa" da Guerra da Secessão é sabida (aka, o conflito tido entre abolicionistas e escravagistas), ora, quem lutou com os Confederados, que eram escravagistas, era, portanto, um escravagista e, portanto, um supremacista branco. Correto? No caso de Lee, nada pode ser mais incorreto, estúpido e errado do que isso.

Lee era um abolicionista.

Não é possível, Dom Fernandes (estou lendo a sua mente, leitor, leitora).

Repito - Lee era um ABOLICIONISTA.

Um General cujas convicções pessoais não lhe demoveram, como militar, de seu dever de obediência aos seus superiores. Lee lutou em uma causa que ele não acreditava; para ele, uma causa perdida. No pós-Guerra Lee foi a voz líder do movimento Lost Cause.

Lee é um caso clássico de "herói caído", que teve que lidar com o conflito moral de suas convicções versus seus deveres e seu compromisso com a legalidade pelo lado em que foi, sem escolhas, compelido a lutar. Lee teve que lidar o tempo todo com o conflito da deserção em prol de seu conforto moral versus o desconforto moral da convicção pessoal em face do conforto (igualmente moral) de não ser tido arrolado na história como traidor ou descumpridor de um dever legal. Lee optou pelo dever.

Uma lição para ser trabalhada não apenas na Universidade, mas, como se fazia na época de McIntire, em casa, com os filhos e nos momentos cívicos, em que as pessoas unidas discutem quais os próximos passos que podem ser dados na construção da Nação.

A carreira militar de Lee está ligada às suas origens. Filho de um ex-governador da Virginia e membro de uma founding family (a família Lee guarda registro dos primeiros habitantes que vieram da Inglaterra no início do Século XVII para fundar a Shirley Plantation). A família Lee sobreviveu a diversos colapsos econômicos mas conseguiu seguir trabalhando na construção da Colônia, ao contrário de outras famílias de fundadores, que não lograram sequer o êxito de continuar existindo.

Lee ingressou no serviço militar muito cedo e era um obcecado pela disciplina, pela legalidade, pela correção e pela justiça.

Lutou com sucesso e com bravura na Guerra Mexico-Americana em 1846. Lee, nesta guerra, lutou lado a lado com Grant, com quem desenvolveu forte admiração e respeito, sentimentos típicos da caserna e de quem combate lado a lado em defesa de uma comunidade que o militar aprende a não questionar.

Em 1859, pouco antes da Guerra, Lee tem o seu primeiro dissabor com as fake news, algo que muitos acham que se iniciou este ano, mas a biografia de Lee tem um dos maiores exemplos históricos sobre o tema. Nesse ano Lee é escalado para comandar um tropa para recapturar escravos fugidos, assunto militar por se tratar de uma controvérsia interestate. Após cumprir com o seu dever, o jornal New York Daily Tribune apresenta uma estória de recaptura completamente falsa, desmentida por Lee inúmeras vezes e comprovada por todos os seus biógrafos ter se tratado de uma estória inventada pelo tal jornal para a criação de um factóide com pretensões pouco honestas. Lee foi acusado de ter dado "corretivo" nos homens capturados, uma ilegalidade que um militar como Lee jamais cometeria ou cometeu. Em 1866, panfletos abolicionistas e revanchistas, já no pós-Guerra, teriam publicado versões de uma suposta entrevista dada pelos ex-escravos, em que Freeman, o biógrafo, destacou no premiado trabalho: "There is no evidence, direct or indirect, that Lee ever had them or any other Negroes flogged. The usage at Arlington and elsewhere in Virginia among people of Lee's station forbade such a thing. But false stories were spread, and on June 24, 1859, The New York Tribune printed two communications on the affair." (veja aqui).

Lee também teve nesta e em outras oportunidades a chance para consolidar seu entendimento a respeito da injustiça e da iniquidade redobradas que a condição escravista poderia representar; não apenas para as pessoas envolvidas na situação (no caso, os escravos), mas também pelos aproveitadores da "causa" - gente nada ligada a questões de moral ou de ética (muito pelo contrário) e que faziam do abolicionismo um grande estratagema de dominação, proselitismo e exercício transparente de hipocrisia.

Lee notou que parte do movimento abolicionista não tinha em vista as pessoas que sofriam com a escravidão. Havia uma verdadeira agenda oculta por trás dos panfletos abolicionistas.

E como forma de demonstrar o seu comprometimento com as pessoas, sem usar de panfletos, Lee, junto com sua esposa e filha, abriram uma escola ilegal para negros em Arlington, financiou do próprio bolso a libertação de inúmeros escravos, libertou todos os seus e chegou a financiar a fuga de muitos escravos para a África, já que a fuga para outros Estados abolicionistas, de acordo com a sua experiência pessoal, não garantiria a liberdade. Lee promoveu, antes da eclosão da guerra, sponte propria e do próprio bolso, algo que faria a Lista de Schindler ser uma nota de rodapé.

Próximo da eclosão da Guerra e como forma de assegurar a liberdade de alguns escravos, Lee convenceu inúmeros senhores a alistar escravos no exército Confederado para que lutassem pela própria liberdade ainda que contra a causa abolicionista.

Muito antes da Guerra Lee estava convencido de que a escravidão era uma estupidez e chegou a afirmar isso para sua esposa em missiva datada de 27 de dezembro de 1856, em que diz, dentre outras coisas que "slavery as an institution, is a moral &; political evil in any Country." A íntegra da carta pode ser lida aqui.

A controvérsia por trás da Guerra aos olhos de Lee tomou esta análise:

The views of the Pres: of the Systematic &; progressive efforts of certain people of the North, to interfere with &; change the domestic institutions of the South, are truthfully &; faithfully expressed. The Consequences of their plans &; purposes are also clearly set forth, &; they must also be aware, that their object is both unlawful &; entirely foreign to them &; their duty; for which they are irresponsible &; unaccountable; &; Can only be accomplished by them through the agency of a Civil &; Servile war. In this enlightened age, there are few I believe, but what will acknowledge, that slavery as an institution, is a moral &; political evil in any Country. It is useless to expatiate on its disadvantages. I think it however a greater evil to the white man than to the black race, &; while my feelings are strongly enlisted in behalf of the latter, my sympathies are more strong for the former. 

Ao fim da carta, seu background familiar, seu dever cívico, seu agudo olhar sobre as espertezas por trás da Guerra, encerram a carta com essa questão:

Is it not strange that the descendants of those pilgrim fathers who Crossed the Atlantic to preserve their own freedom of opinion, have always proved themselves intolerant of the Spiritual liberty of others?"
Lee, o homem por trás da estátua do General Robert E. Lee, foi o verdadeiro responsável pela reconciliação nacional.

Exatamente - Lee é um representante da honra, do dever, do comprometimento e sobretudo da estratégia de conciliação que nenhum outro membro do exército do Norte foi capaz.

Por gozar de respeito, admiração e reverência da parte do General Grant, com quem lutou no México e a quem teve a vida nas mãos e vice versa, Lee pode ser ouvido e uma grande nação seguiu a sua construção.

Lee não representa, nunca representou e jamais representará qualquer tipo de supremacia que não seja da honra, da lei, da piedade, da compaixão cristã e da..... RECONCILIAÇÃO.

Ao invés de agirem como um Taleban igual a foto abaixo, convidamos, antes de destruir a representação, que se perguntem porque ela está lá. Mas perguntem honestamente, sem preconceitos e estereótipos. Estudem. Conheçam. Louvem. Praise the Memory. Respeitem. Aprendam.

Reconciliem.

ReconciLEEm.

Reconcile.

ReconciLee.


 Baderna de Brancos


 Baderna de Brancos

 Baderna de Brancos

Baderna de Brancos

Policial negro lidando com baderna deixada por brancos

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Totalitarismos "Políticos"?

Caderno de Política
por Cícero Esdraas Neemias

Nosso editor lançou a campanha NÃO TEMOS EXTREMISTAS DE ESTIMAÇÃO.

Quem acompanha este hebdo sabe disso, pois há centenas de postagens nesse sentido.

Convidou-me a escrever no Caderno de Política sobre o evento Charlottesville.

Charlottesville, para quem nos acompanha, nos é cidade caríssima - moramos lá, estudamos lá, casamos lá, voltamos para lá com nossos filhos; enfim - cada qual neste hebdo "tem lá" seus laços com a querida Cville.

As imagens são de chocar.

Mas mais do que as imagens, os comentários posteriores, esses sim, doem.

Horas e horas na frente do computador gastas para se responder à genial questão: o fascismo é de direita ou de esquerda?

Atendendo ao convite por dever de ofício, cá estamos, diante da folha em branco.

Alt-right, Alt-left, Antifa, Nazi Party, KKK, WLM, BLM, Black Panther, ISIS, Al Qaeda, White Supremacists, Black Sumpremacists, MST, MTST, Black Blocks, VPR, VAR-Palmares, POLOP, ALN, MR8, Gaviões da Fiel, Mancha Verde, Mancha Alviverde, Torcida Independente, Torcida Jovem, Sangue Jovem, Sangue Sei-Lá-o-Que: nada disso é política; nada disso é esporte.

Isso é hooliganismo.

Voltemos a falar de Política na próxima oportunidade.

Muito agradecido pela leitura.

domingo, 13 de agosto de 2017

Editorial

por Dom Fernandes III

Charlottesville é uma cidade muito cara neste hebdo.

Quem nos conhece sabe porque.

Este hebdo não tem "corruptos de estimação": um a um todos devem ser afastados e prestar contas de seus crimes.

Não tem também "políticos de estimação": dizer tolices não é uma virtude, nem uma desculpa e não conta com o nosso perdão.

Para que as posições deste vetusto meio fiquem claras, afirmemos aqui: NÃO TEMOS EXTREMISTAS DE ESTIMAÇÃO.

A forma mais democrática de tratar um racista é reconhecer que "racista é racista, independentemente da raça".

Energúmenos de diversos "lados" precisam estudar um pouco as razões que construíram os conceitos jurídico-sociais da PRIMEIRA EMENDA e da noção de FREEDOM OF SPEECH, sobretudo em tempos de internet livre, redes sociais e twitters da vida.

"Freedom of speech" não é dizer o que se quer e nem o pensamento goza hoje de externalidades absolutas.

A liberdade é um bem público (prometo que um dia voltaremos neste tema - por ora, ainda é cedo...).

Sabem aquela história de que a minha liberdade começa quando termina a do outro e a minha termina quando a do outro começa? Pois bem - assim como comer, beber água, dormir e outras coisas importantes, o homem precisa trabalhar e se relacionar. Vamos também deixar o trabalho para um outro dia, prometo.

Somos animais sociais por excelência. A forma mais perfeita e acabada de relação (social, que pode se desdobrar em outras afetividades) é a nossa capacidade de estabelecer empatias e concordâncias. Na base de nossa luta pela sobrevivência está a chamada arte de negociar, qual seja, a necessidade intrínseca que temos de concordar, de chegar ao sim com os nossos interlocutores.

Não a toa o Ulisses de Joyce termina com a frase cabalística de Mary Bloom: yes and his heart was going like mad and yes I said yes I will Yes.

Joyce crava um dos pontos centrais da essência humana em forma de verbo: I WILL YES.

Contestar e protestar faz parte do processo de se chegar ao sim.

O renascimento de um universo discursivo politicamente incorreto em oposição àquela visão frankfurtiana e horkheimereana que desaguou no políticamente correto de fins da Década de 1990 e que hoje beira alguns nazismos opõe o mundo, como vimos em Charlottesville, entre ódios aparentemente adversos.

São os extremistas de estimação, de lado a lado.

São, por excelência, furiosos atacantes da liberdade: são pessoas que se incomodam com o conceito público de liberdade e por isso querem partidarizá-la, de parte a parte, de lado a lado.

Se confrontam pelo confronto, pela aniquilação, basicamente.

Representam o oposto do espírito da PRIMEIRA EMENDA, algo na linha de um fuck this Court de Flynt.

Isso não é FREEDOM OF SPEECH e precisa acabar.

Os questionamentos do discurso politicamente incorreto são fatores históricos importantes, mas precisam ter a "incorreção" limitada a "política" (considerando aqui "incorreto" tanto o discurso de um lado, quanto o de outro que se intitula "correto" de forma bastante "incorreta").

Não há vítimas nesse processo, mas há muita vitimização, de parte a parte. Vence quem produzir seu cadáver primeiro.

Isso não está certo.

Isso tem que parar, já.

Chega de proselitismo, de acomodação: odiar a classe média e dizer que odeia este ou aquele, não pode ser respondido com outro discurso de ódio.

Organizações nazi-fascitas precisam ser dissolvidas, seus agentes processados e condenados e seus símbolos devidamente banidos e execrados, por gente que, acreditando na liberdade e na democracia verdadeira, NÃO TEM EXTREMISTA DE ESTIMAÇÃO.

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Gestão de Saúde Estatal

por Dom Fernandes III

Antes que atalhem a criticar as posições de nosso hebdo sem tomar conhecimento completo do que se pensa sobre o papel do Estado, falemos sobre saúde, esse bem tão caro a todos.

Seria papel do Estado cuidar da saúde de seu povo? Se sim, desde quando isso passou a ser realidade e sob quais resultados?

Muito bem...

Vamos tentar responder sem lançar mão de estatísticas e números, algo inerente ao nosso discurso e que será exceção neste texto.

Estudos históricos sobre a Saúde Pública no Brasil (veja, falamos de Saúde Pública e não de sistema de saúde estatal, que são coisas umbilicalmente diversas) são extremamente escassos.

Sempre houve saúde pública, a começar pelo trabalho das Santa Casas de Misericórdia.

A saúde sempre foi assunto associado a Fé e no Brasil, como não poderia deixar de ser, sempre esteve associada a um trabalho eminentemente cristão. Os trabalhos de religiões locais também tiveram destacado papel.

No início do Século XX alguns eventos marcaram a laicização da saúde por meio de estudos sanitaristas da Escola de Manguinhos, com Oswaldo Cruz a frente - o povo se rebelou e tivemos o evento histórico denominado Revolta da Vacina, por conta da resistência em face de uma campanha federal de vacinação obrigatória para erradicação da varíola.

O Estado volta a se envolver com saúde pública durante a ditadura Vargas. Não coincidentemente o ditador cria o Ministério da Educação e Saúde.

Estatizar educação e saúde sempre foi uma pauta importante do nacional-socialismo e Vargas seguiu a receita nem sequer disfarçando sobre a alocação ideológica dos temas.

O peleguismo de Vargas coloca a frente do controle do ensino e da saúde os usuais apoiadores ligados a sindicatos, no melhor estilo mussoliniano, repetido décadas depois por Lula.

O conceito de saúde pública de Vargas, contudo, segue o padrão republicando anterior associado exclusivamente a medidas sanitaristas.

Pulemos o lado fascista de Vargas, que entregou vários judeus para Hitler usando o sistema de saúde estatal e passemos para o período democrático, quando o tema se amaina e os Institutos de Pensões criados por Vargas entram em regime de co-gestão, com parte paga pelo trabalhador-empregado e parte paga pelo empresário. Pela primeira vez no Brasil com JK na Presidência o trabalho (qual seja, o emprego) passa a ser a mola propulsora de um sistema unificado de saúde pública não-estatal.

Muito antes do Obamacare, o JK-care privilegiou o emprego para assegurar um sistema de saúde universal sem a intervenção do Estado e administrado pelo setor produtivo diretamente.

Quando o regime Militar cria o INPS em 1967 e dele desdobra o INAMPS em 1978, a estatização do sistema de saúde iniciada por Vargas (e interrompida por JK) se completa.

Com a Constituição de 1988 esse sistema é reformado e surge o SUS.

Paralelamente desenvolveu-se um sistema complementar privado de planos e seguros-saúde, altamente regulado e sob intervenção estatal, convergindo para o atual estágio caótico que conhecemos no Brasil.

Note-se contudo que a crise no setor anda de mãos dadas com o estrago feito por Rousseff na economia como um tudo (portanto, não foi só uma borboleta azul como se prega por ai...).

O desemprego sobrecarrega o sistema básico e o emprego o torna descarregado: 1) porque o cidadão empregado deixará de usar o sistema único estatal para usar o sistema complementar que seu empregador oferece; 2) porque quem não consegue usar um sistema privado em tempos de bonança em que quase todos o possuem, fatalmente se depara com uma "concorrência" muito menor.

O emprego, acompanhado de um seguro-saúde, dilui a assistência pública a saúde e o condiciona a um equilíbrio natural entre o estatal e o público financiado pelo privado; a desocupação gera o oposto e explode ambos.

Apesar dos pesares, o sistema estatal mostrou-se verdadeira fraude (em todos os sentidos): seja sob aspecto da corrupção de sanguessugas e programas cubanos, seja sob o ponto de vista do descaso, que levou Rousseff a uma das maiores aberrações no âmbito da saúde universal no Brasil - sim, ele: o tal Médico Sem Fronteiras ou, sem meias-palavras, o Cuba-care.

O caso dos médicos cubanos no Brasil é uma das maiores cenas de pastelão feitas com dinheiro público e com um assunto seríssimo: nunca se pensou em desonerações e melhorias para aumentar a oferta de recursos com material disponível no país; e limitou-se as "fronteiras" a... Cuba!

Desse descaso surgiu o caos.

Esse caos que hoje se vive em um universo que tem por premissa varguista que saúde é tema estatal.

Bem, todos sabem a diferença entre o estatal e o não-estatal: este está sujeito a falência ou a liquidação por insolvência, o estatal nunca.

Desta forma, no âmbito estatal nada impede que alguém se trate em um hospital falido; no não-estatal, a própria natureza (econômica, sanitária, médica...) impedirá.

Ah, Albert Einstein, se todos fossem iguais a você...