quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Editorial

por Dom Fernandes III

Por que razão os artífices do projeto de impeachment levaram, na reta final do processo, uma rotunda "passada de mão na bunda" com o fatiamento da decisão e a não aplicação da inabilitação da afastada?

Simples.

Porque não deram ouvidos à Folha da Madrugada.

Nesta Folha, dissemos várias vezes que o impeachment não era o caminho. Veja aqui, aqui, aqui e aqui.

Num processo de interdição o resultado é mais justo, não adere ao discurso de golpe, é instantâneo, objetivo, técnico e, vejam que incrível: gera inabilitação absoluta imediata.

Mas não: preferiram insistir no impeachment fundamentado em pedaladas e decretos marotos de suplementação assinados na surdina (o problema na verdade foi a "surdina", nem tanto a autorização do Congresso). E convenhamos: a paciente demonstrou por A + B que não tinha a menor noção do que estava acontecendo. Ela sequer soube que assinou aquilo; não demonstrou a menor percepção de causa e consequência, enfim, esbanjou sua delirante alienação aos fatos. Muito provavelmente só veio a saber (sem entender) o que estava acontecendo na véspera ou antevéspera de seu depoimento.

Pior - o processo foi desumano, pois escorraçaram uma visível doente mental do posto que poderia ter sido desocupado via processo de interdição e, ao fim e ao cabo, tiraram proveito da paciente com sérios indícios de retardamento mental, para afastar-lhe a pena de inabilitação, que, convenhamos, será aproveitada por todos que a julgaram!!! Usaram a pobre deficiente mental em causa própria, esses Senadores astutos!

Isso foi de uma canalhice (para usar o mesmo termo tão usado na parte final da sessão) de dar nojo em Maquiavel.

Já na interdição haveria inúmeras vantagens: a inabilitação, que decorre da constatação de absoluta incapacidade para a prática de qualquer ato da vida civil, não representaria qualquer condenação à acusada de impeachment. Não seria necessário perder dias e noites discutindo tecnicidades padalísticas, nuances orçamentárias em que o discurso vai da falta ao excesso de responsabilidade; enfim - economizaríamos tempo para a acusada, para o Senado, para os envolvidos na acusação e para a trupe da defesa... e por que não, para o BRASIL!!! e, enfim, para o MUNDO e para a GALÁXIA!!!!

Um processo de interdição tem muito mais jurisprudência, tem segurança jurídica e possui um procedimento muito mais adequado e preciso, com detalhes para qualquer tipo de situação, sem contar na higiene hospitalar que o processo de impeachment visivelmente descartou. Assim, jamais seríamos surpreendidos com uma molecagem como a que testemunhamos nos instantes finais desse processo grotesco, inútil e acusativo.

A interdição tem uma beleza intrínseca à sua natureza - não é um processo de jurisdição contenciosa, mas sim de jurisdição voluntária. As coisas "acontecem" naturalmente no processo, sem confrontos. Todos querem chegar a um veredicto clínico final que, convenhamos, é do interesse de todos os envolvidos: clinicamente a pessoa tem cabeça para exercer os atos da vida civil como uma pessoa normal ou há alguma moléstia que a impeça? Eu, honestamente, duvidaria que até a trupe da defesa seria capaz de responder a essa pergunta sem hesitação.

Havendo moléstia, a paciente sai de cena imediatamente e por quanto tempo o médico achar necessário. E só volta se o médico disser, "melhorou totalmente". Seria bom para a paciente, para a defesa, para a acusação, para o BRASIL, o meu BRASIL, o seu BRASIL, o NOSSO BRASIL BRASILEIRO!!!

Assisti a todo esse julgamento e ao depoimento da paciente ao lado do Doutor Pangloss, que me alertou: "As evidências de psicose estão óbvias. Um dos traços mais marcantes do psicopata é agir inconscientemente e, depois de cometido o crime ou o malfeito, portar-se na delegacia de polícia ou em órgãos públicos com a certeza absoluta de que na verdade da sua cabeça, ela é uma vítima. A mania de perseguição e o reiterado hábito de 'ouvir vozes' é uma evidência absoluta dessa patologia. Aos olhos de um espectador, temos a impressão de que há uma falta de compaixão por parte do(a) criminoso(a), mas, na realidade, há mesmo uma falta completa de mecanismos contendores do superego que torna a paciente potencialmente perigosa e, infelizmente, inconsciente dos seus atos ao ponto de cometer o crime e colocar-se imediatamente na posição de vítima".

Fizemos o impeachment da versão feminina de Norman Bates.

E fizemos com o único e exclusivo propósito de tirar proveito da situação dela para favorecer a turma enroscada com vandalismos com o dinheiro público: até prova em contrário, estamos falando de 100% dos presentes naquele julgamento histórico, envolvidos direta ou indiretamente em alguma patifaria que o "jeitinho brasileiro" costuma chamar de "nossa cultura alegre e afável".

E em realidade, deveríamos sim ter nos preocupado com o lado humano e ter enviado essa pessoa para tratamento clínico urgente, numa "clínica de Napolões" de alto nível (sim, ela merece uma boa clínica).

Não se trata de uma questão política, de esquerda ou de direita, de Lavajato, corrupção, pedaladas, Bolsa Família Sim, Bolsa Família Não..., é uma questão de sanidade mental, de saúde pública!

Reitero: mesmo tendo tomado o rumo inadequado, desgastante e tolo do processo do impeachment, as portas para uma interdição total não se fecharam, pois com o tipo de moléstia evidenciado durante o depoimento da Presidenta, creio eu, essa porta estará aberta para sempre.

O caso ali é grave e ousaria dizer que não tem cura não.

E, convenhamos, como a versão feminina de Norman Bates que se constatou antes de ontem, mais hora, menos hora, haveremos de encontrar no armário do Alvorada ou nos porões do Planalto, o cadáver que tanto a amolava...

Meu respeito e meus sentimentos pela paciente injustiçada.